A praça da Aclamação e as ruas de Cachoeira, no Recôncavo Baiano, foram tomadas por estudantes, ativistas de coletivos feministas, familiares e amigos da trancista Tainara dos Santos, quilombola da comunidade de Opalma, em Cachoeira, desaparecida desde o dia 09 de outubro. A manifestação aconteceu na última quarta-feira (9) e reuniu dezenas de organizações como Associação Papo de Mulher, Tamojuntas, Levante Feminista contra o Feminicídio, UNEGRO, União Brasileira de Mulheres, Rede de Mulheres de Cajazeiras, Articulação de pescadores, pescadoras e marisqueiras de Ilha de Maré, além do Instituto Odara, Conselho Regional de Serviço Social e o Sindicato de Empregadas Domésticas da Bahia.

Mãe de duas filhas de 2 e 11 anos, Tainara foi encontrar com o ex companheiro, pai de sua filha menor , no dia que desapareceu e não retornou. O ex companheiro, George da Silva, acusado de descumprir medida protetiva, extorsão, feminicídio e ocultação de cadáver, está preso preventivamente em Feira de Santana. O processo , que tramita em segredo de Justiça, aguarda a decisão da juíza Diva Maria Monteiro de Castro e está sendo acompanhado pelo Promotor Estadual José Coelho Neto.
Itamara Santos, irmã de Tainara, acompanhou ao lado da família a manifestação.” Já se passaram seis meses, tivemos duas audiências e ele continua negando tudo. A gente só quer saber onde está o corpo dela para dar um enterro digno. As filhas dela perguntam por ela todos os dias, é angustiante ver minha mãe sofrendo, sem saber o que aconteceu “, desabafou.

Solidariedade à familia
Durante o percurso da manifestação entre a Câmara Municipal e a sede da Universidade Federal do Recôncavo-UFRB, os manifestantes prestaram solidariedade à família de Tainara Santos e protestaram contra a indefinição do processo. “ Mais uma vez denunciamos o Estado, que não é inocente. Tainara plantou semente boa e vamos continuar lutando por ela e por todas as mulheres”afirmou Bianca Souza, do Instituto Odara.

A assistente social Roseli Barbosa, da Tamojuntas, faz acompanhamento social do caso, interagindo com os familiares e os órgãos públicos. “ Exigimos responsabilidade dos poderes públicos e justiça por Tainara, a família relata falta de assistência, mas não está só, estamos unidas nessa luta”, informou.
Em agradecimento ao apoio da rede de mulheres e às entidades que estão monitorando o processo judicial Mara da Ponte Silva,da Articulação de Mulheres Negras do Quilombo Engenho da Ponte e madrinha da vítima, falou em nome da família. “Meu sentimento é de gratidão, mas de impotência, estamos sem respostas. Estamos ocupando as ruas por Tainara, que sempre acolheu todos, esse ato serve como um cortejo à memória dela, leva o nome dela “, discursou sob forte emoção.

Durante a caminhada, estudantes e moradores acompanharam o percurso com faixas e cartazes, com paradas na frente da prefeitura e na feira da cidade. No encerramento do protesto, na sede da UFRB, os discursos lembraram o feminicídio que vitimou Elitania de Souza, estudante de Serviço Social, em 2019, assassinada pelo ex namorado Alexandre Góes. As professoras Ângela Figueredo,Coordenadora do Grupo de Pesquisa Ângela Davis, Denize Ribeiro, Pró Reitora de Políticas Afirmativas e Assuntos Estudantis e Dyane Brito Santos , Diretora de Centro de Artes, Humanidades e Letras, dentre outros docentes representaram a UFRB no ato.

“ Nós nessa comunidade buscamos até hoje justiça por Elitania Souza, conseguimos que seu algoz fosse preso, mas, por quanto tempo ? Quantas vidas mais perderemos ? Que bom que temos um coletivo, porque essa não é uma questão individual “, declarou a diretora do CAHL, destacando o trabalho do projeto de extensão de combate à misoginia e ao feminicídio da UFRB.
Até o fechamento dessa matéria não conseguimos retorno da Prefeitura de Cachoeira, que fará nota pública sobre o caso e a Defensoria Pública do Estado que atendeu Tainara Santos para tratar sobre a guarda da filha menor.

Créditos das fotos: Claudia Correia
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