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A colaboração, ainda em negociação, marcaria o encontro de duas trajetórias marcadas por heranças pesadas. Marcola, preso desde 1999, é o líder histórico do PCC e acumula mais de 300 anos de condenações por homicídio, tráfico de drogas e outros crimes. Já Marcinho VP está detido desde 1996 e é apontado como uma das principais lideranças do Comando Vermelho, facção com forte atuação no Rio de Janeiro.A aproximação entre os filhos desses líderes ocorre num momento delicado. Nos bastidores do sistema penitenciário federal, circulam desde o início do ano novos rumores de uma trégua entre PCC e CV — alianças que, ainda que negadas oficialmente, já deixaram rastros em documentos da inteligência federal e em mensagens interceptadas ao longo da última década.Rumores da união CV e PCC- 2017: Informações da Polícia Federal e da Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp) apontam para uma tentativa de aliança entre CV e PCC para coordenar ataques simultâneos em cinco estados, incluindo São Paulo, Paraná e Ceará. O relatório da época cita uma aproximação entre Fernandinho Beira-Mar (CV) e Abel Pacheco de Andrade, o “Vida Loka” (PCC), ambos presos na Penitenciária Federal de Mossoró.- 2019: Começam a circular os primeiros “salves” de trégua em presídios estaduais. A ideia de uma reconciliação passa a ser debatida em fóruns internos das facções.- Fevereiro de 2025: Novos rumores voltam à tona. Segundo apurações, as negociações visariam uma flexibilização nas regras do Sistema Penitenciário Federal (SPF), especialmente quanto à proibição de visitas íntimas e comunicação com o exterior.Relação Oruam e Lucas CamachoNo entanto, em meio a essa complexa rede de informações, códigos e versões oficiais, a música surge como linguagem simbólica de poder e território. O universo do trap tem servido, nos últimos anos, como canal de expressão de jovens de comunidades marginalizadas — mas também como instrumento de fortalecimento estético de certas figuras ligadas ao crime.Oruam já é conhecido no cenário nacional por letras que abordam, com sutilezas e metáforas, a vivência nas favelas e os dilemas da vida no “corre”. Lucas Camacho, embora mais novo, almeja um espaço nesse mundo com composições.A publicação de Oruam com Lucas, ainda que sem menções explícitas às facções, foi interpretada por muitos como um gesto de aproximação entre os dois mundos. “RJ SP” tornou-se mais do que uma referência geográfica: é um símbolo da possível união entre dois impérios do submundo.Desde a ruptura formal entre o PCC e o CV, por volta de 2016, uma violenta disputa por território e hegemonia assolou presídios e comunidades do Norte e Nordeste do país. Massacres, como os ocorridos no Amazonas e em Roraima, foram atribuídos a essa guerra.No entanto, nos últimos anos, uma nova lógica parece emergir: a do lucro acima da guerra. Investigações mostram que líderes de ambas as facções passaram a priorizar a expansão financeira e a internacionalização do tráfico, reduzindo os conflitos armados para manter a ordem nas ruas e nos presídios.