Um adubo vindo do mar

Bruno Faustino é autor da coluna

|  Foto:
Arquivo / AT

Quem já caminhou pela praia de Piúma sabe: tem sempre uma alga perdida pela areia. Umas maiores, outras com jeitão de espaguete marinho, mas todas ali, devolvidas pelo vai e vem das ondas, caro leitor. Muita gente passa batido. Outros torcem o nariz. Mas um grupo de pesquisadores do Ifes enxergou o que ninguém via: fertilidade.Era só mais um projeto de iniciação científica quando o então estudante Igor Fontes começou a catalogar algas no litoral sul capixaba. Mas bastou mergulhar um pouco mais fundo nesse universo pra uma ideia nascer: e se essas algas, ao invés de serem jogadas fora, pudessem alimentar a terra?Foi assim que surgiu um adubo diferente, que nasce do mar e vai parar na lavoura. As algas são lavadas, trituradas, misturadas com água, coadas e depois conservadas com um ingrediente natural. O líquido vai direto nas folhas ou no solo e faz um bem danado. O restante pode ser usado na alimentação animal, acredita?É que além de ricas em nutrientes, as algas funcionam como bioestimulantes – ajudam as plantas a fazer mais fotossíntese, a resistir melhor ao calor, à seca, e a pragas. Em outras palavras, elas deixam tudo mais forte. E o melhor: de forma natural. Mais do que um adubo, é uma solução que respeita o ritmo da natureza.Tem algo de poético nisso tudo. Um ciclo que começa no mar, passa pelas mãos humanas e termina brotando na terra. É como se o oceano, silencioso e generoso, estivesse oferecendo uma nova forma de cuidar da vida.Essa ideia, que parece coisa de alquimia moderna, é uma aposta sustentável que fortalece a chamada Economia Azul – aquela que valoriza o uso responsável dos recursos do oceano. Com um detalhe bonito nessa história: o que era antes um incômodo na praia agora vira renda, conhecimento e oportunidade. Um novo olhar que pode transformar comunidades inteiras.É sobre isso que a gente vai falar no programa Negócio Rural deste domingo (6), às 10h, na TV Tribuna/Band. Uma conversa boa, pé na areia e olho no futuro, pra mostrar que às vezes, a natureza só está esperando a gente escutar melhor o que ela tem a dizer.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.