O que Bolsonaro vai encontrar na Avenida Paulista?

Jornalista Francisco Leali:

 

“O ex-presidente Jair Bolsonaro subirá de novo num carro de som neste fim de semana. Um ato na Avenida Paulista está armado para brandir palavras de ordem pelo projeto de anistia aos condenados pelos atos de 8 de Janeiro. O motivo aparente é esse. Mas nas letras miúdas Bolsonaro apela às ruas pensando nele mesmo agora que é réu por tentativa de golpe.

Num intervalo de 20 dias, o ex-presidente reuniu seus apoiadores em Copacabana e repete o modelo, no domingo, 6, na capital paulista. O discurso para os cariocas mesclou palavras de apoio aos presos por ato do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, e proclamações sobre o próprio Bolsonaro. Falou-se do risco de sua prisão, da sua relevância para ‘salvar’ o País do julgo dos petistas e das supostas injustiças e perseguições impostas ao ex-capitão pela cúpula do Judiciário.

Não deve ser diferente na Paulista. Os bolsonaristas forçam pela votação e aprovação de um projeto que anistiaria o pessoal do 8 de Janeiro e há quem veja no mesmo texto brechas para estender o mesmo benefício ao próprio Bolsonaro.

O palanque dominical do ex-presidente vem depois da decisão da Primeira Turma de abrir ação penal contra ele e outros sete. E serve a ele como local de reverberação de sua autodefesa. Bolsonaro apresenta-se como o então presidente que nunca assinou ato de golpe e tudo que apresentaram contra ele são só palavras que o tempo levou, sem que tenham resultado num gesto seu a favor do rompimento da ordem democrática.

Eleito em 2018 com a força das redes sociais, Bolsonaro hoje segue nesse campo, mas atualizou sua conduta e também precisa das ruas e de muita gente ao seu redor para tornar viva a imagem do que as pesquisas de opinião ainda registram: continua sendo a mais forte opção da direita para enfrentar o presidente Lula.

O Bolsonaro do próximo domingo é aquele que depende da força das manifestações. Isso se São Pedro deixar, já que há previsões de o céu desabar em chuva nos próximos dias. No âmbito dos desejos, o ex-presidente certamente gostaria que o ato na Paulista tomasse tudo. Da Consolação ao Paraíso e não apenas concentrada na frente do Novo Masp.

Se o ato vingar mesmo, o ex-presidente estará seguindo um script que já foi de Lula e da esquerda quando estavam na oposição. Ele precisa ter gente fazendo coro e em tom elevado para fazer o projeto da anistia andar, para não ficar isolado da cena política e continuar dando as cartas, nem que seja para exercer, ao final, o poder de escolher ele mesmo quem o representará em 2026.”

 

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