Paulinho Freire implanta escuta popular para definir investimentos nos próximos anos

A Prefeitura de Natal deu início a um novo modelo de planejamento para os próximos anos baseado na escuta direta da população. O Plano Plurianual (PPA) 2026-2029 está sendo construído com a participação dos moradores dos bairros da capital potiguar. Em vez de definir as prioridades de dentro dos gabinetes, secretários municipais estão percorrendo as comunidades para ouvir o que de fato precisa ser feito em cada região.

O secretário municipal de Planejamento, Vagner Araújo, explicou em entrevista à rádio 96 FM que a proposta é saber, da boca do povo, o que deve ser priorizado pela gestão. “Não é uma meia dúzia de técnicos diante de um computador que sabe a dor do cidadão. Quem vive o bairro, quem sofre com os problemas, sabe o que é mais urgente”, afirmou. Segundo ele, a iniciativa segue orientação direta do prefeito Paulinho Freire (União Brasil), que determinou que os gestores saiam dos gabinetes e conheçam a realidade das ruas.

Exemplos práticos já foram relatados: no Santa Catarina, a demanda mais citada foi a lagoa de captação; no Bom Pastor, iluminação pública; nas Rocas, a recuperação do campo de futebol; e em Ponta Negra, a finalização da estação de tratamento. Em cada localidade, os encontros têm servido para levantar o que é prioridade para a comunidade. As reuniões já passaram por Felipe Camarão e pela Zona Norte. Naquele dia, a agenda previa encontro em Neópolis, na Escola da Rua Arapiraca.

Para ampliar a participação de quem não pode comparecer presencialmente, a Prefeitura lançou um canal no WhatsApp. Por meio do número (84) 3232-4900, os cidadãos podem enviar sugestões diretamente para a equipe de planejamento. A ferramenta utiliza inteligência artificial e funciona como uma assistente virtual, capaz de receber mensagens de texto ou voz. A expectativa é que o canal se torne, em breve, um espaço permanente de contato entre a gestão municipal e a população, com serviços como marcação de consultas, exames, emissão de documentos e solicitação de serviços urbanos.

A decisão de utilizar o WhatsApp em vez de um aplicativo próprio se baseou no alcance e simplicidade do mensageiro, presente em mais de 90% dos celulares dos natalenses. “É uma ferramenta que todo mundo sabe usar e que não consome dados móveis. As pessoas não precisam instalar mais nada nem aprender a usar uma nova plataforma”, explicou Vagner.

Essa primeira etapa, centrada no PPA, deve ser expandida nos próximos 90 dias para outros serviços. A proposta é que, no futuro, até mesmo turistas possam acessar o sistema, com atendimento em diferentes idiomas, como já acontece em outras cidades. Segundo Vagner, a tecnologia já existe, falta apenas integrar as secretarias para garantir agilidade no atendimento.

Nova gestão faz pente-fino e reorganiza finanças para retomar investimentos

Enfrentando um cenário de forte desequilíbrio financeiro, a Prefeitura de Natal iniciou o ano de 2025 com uma estratégia clara: cortar despesas, rever contratos e organizar a casa para voltar a investir. Segundo o secretário de Planejamento, Vagner Araújo, os primeiros 90 dias da gestão Paulinho Freire foram marcados por decisões duras, mas necessárias. “Fizemos um mutirão de redução, repactuação, cancelamento e suspensão de contratos”, afirmou durante entrevista ao programa Meio Dia RN, da 96 FM.

O critério foi simples e rigoroso: se o contrato não era urgente, foi cancelado. Se era importante mas podia esperar, foi suspenso. E mesmo aqueles que não podiam ser adiados foram renegociados com valores menores. “A gente analisava cada contrato: é urgente? Não. Pode esperar? Pode. Então suspende. É importante? Pode ser renegociado? Então baixa o valor”, detalhou o secretário.

As medidas já apresentaram os primeiros resultados. A Prefeitura conseguiu pagar o reajuste dos professores e zerar a fila das creches, problema crônico que perdurava há anos. A reorganização de espaços em escolas, com aproveitamento de salas administrativas para atividades pedagógicas, permitiu ampliar vagas sem necessidade de novas estruturas.

Apesar do esforço, a capacidade de investimento ainda é limitada. Vagner explicou que, como ocorre em todo o país, os municípios enfrentam uma distribuição desigual das receitas públicas: 57% ficam com o governo federal, 27% com os estados e apenas 13% com as prefeituras. “A dependência de emendas e de recursos federais é um fato. Não é ideal, mas é a realidade”, disse.

Para não ficar à mercê apenas do repasse da União, a gestão tem apostado na reativação das parcerias público-privadas (PPPs). Já foram iniciadas tratativas com o governo federal por meio da Secretaria de Parcerias de Investimento (PPI), com reuniões em Brasília coordenadas pelo secretário Arthur Dutra e seu adjunto Ítalo Mitre, que comandam a nova Secretaria de Parcerias de Natal. Projetos estão sendo avaliados nas áreas de saúde, turismo, habitação e educação, com foco em desobstruir serviços e movimentar a economia local.

A Prefeitura também articula captação de recursos do FGTS para financiar obras de saneamento, transporte, moradia e urbanização. A proposta é utilizar linhas com juros de 9,5% ao ano, carência de 48 meses e pagamento em até 24 anos. “São projetos que vão destravar a cidade, e que vão além de remendos. Mas a recuperação da capacidade de investimento próprio é um processo. Vai depender do crescimento econômico e da atração de novos empreendimentos para Natal”, concluiu o secretário.