‘Expresso Ver de Trem’ resgata memória ferroviária brasileira

O escritor Carlos A. Lopes vai lançar amanhã (2) seu novo livro, Expresso ver de Trem: Memórias de um Viajante do Tempo, uma obra que mistura memória, ficção e crítica social para contar a história de uma viagem ferroviária histórica entre Salvador e Rio de Janeiro, realizada em 1992. O evento vai ocorrer no palácio da reitoria da Universidade Federal da Bahia (Ufba) às 17h.O livro resgata um episódio histórico emblemático, a viagem do Ver de Trem, que partiu de Salvador para o Rio de Janeiro em 1992, levando ativistas, artistas e jornalistas para a Eco 92, o maior evento ambiental das Nações Unidas até então.“O projeto surgiu de uma vivência real. Entre 1989 e 1992, fui membro da diretoria do Grupo Germen, na faculdade de arquitetura da Ufba. Pouco antes da Eco 92, fomos procurados pelo movimento Trem de Ferro, que defendia a volta dos trens de passageiros. Nosso objetivo inicial era organizar pequenas viagens, mas, com o incentivo de José Augusto Saraiva, surgiu a ideia de irmos até a conferência no Rio de Janeiro”, relembra o autor.A empreitada parecia impossível. A rede ferroviária brasileira já estava em decadência e sem serviços regulares de passageiros. Ainda assim, após diversas reuniões e pressões políticas, o grupo conseguiu viabilizar a viagem, que contou com a participação de diversos artistas, incluindo Gilberto Gil.O trem partiu da estação da Calçada, em Salvador, fez sua primeira parada em Santo Amaro — onde foi recebido por Dona Canô — e seguiu até o Rio de Janeiro, onde os passageiros foram recepcionados com um show na estação Central do Brasil, sete dias depois da partida.Passado e futuroO livro transita entre diferentes temporalidades, trazendo um protagonista que vive em uma Salvador distópica no ano de 2222 e viaja no tempo para testemunhar a viagem do Ver de Trem em 1992.“O meio ambiente não é um tema apenas do presente. Ele é consequência do passado e um sinalizador do futuro. Por isso, escolhi uma estrutura narrativa que atravessa diferentes temporalidades”, explica Lopes.Na obra, é contada a história do personagem José Augusto, que deseja viver um passado revelado por um livro que possui. Aos 25 anos de idade, ele viaja 230 anos atrás para testemunhar a viagem do Ver de Trem. Seguindo as páginas do livro e as lembranças deixadas por seu avô, o personagem atravessa as ruínas da cidade até chegar à antiga estação ferroviária da Calçada. Lá, é iniciada sua viagem transportando-o para o ano de 1992.“Eu busquei não apenas ser descritivo dos fatos ocorridos na viagem que consideramos inusitada. Mas transitei um pouco pelo universo da literatura, sendo um primeiro livro meu nessa linha”, comenta o autor.Importância da cançãoA música tem um papel central na construção da obra. Ao relembrar da viagem, Carlos Lopes recordou da presença de músicos ao longo do percurso, como Gilberto Gil“A rede ferroviária sempre esteve conectada à música. Na Bahia, por exemplo, tivemos Fred Dantas e outros músicos levando sua arte pelos trilhos. Durante a viagem, tínhamos um trio de forró .Em algumas paradas, cidades inteiras montavam palcos e palanques para celebrar a passagem do trem”, recorda Lopes.A canção Expresso 2222, de Gil, também tem um papel de destaque na trajetória do personagem José Augusto. “Naquele contexto, onde ele já pronunciava que era a hora da viagem no tempo, ele se depara com Expresso 2222 e essa música o faz se encher de confiança. Porque ele estava no ano de 2222, no mês de fevereiro e era dia 2. Então, houve uma convergência que o faz se sentir encorajado a encarar a viagem e assim ele o fez”, lembra Lopes.A recepção inicial tem sido positiva. “O jornalista José Antônio Moreno me deu um retorno muito entusiasmado, assim como o professor José Roberto Severino. O reitor da Ufba também incentivou bastante o projeto e ajudou na minha reaproximação com Gil para a autorização do uso de sua imagem no livro”, relata o autor.Embora o compositor baiano não possa comparecer ao lançamento, sua presença simbólica permeia toda a narrativa. “Gostaria muito que ele estivesse lá, mas sei que sua música e sua história estão profundamente entrelaçadas ao projeto”, conclui Lopes.Lançamento de Expresso ver de Trem: Memórias de um Viajante do Tempo / reitoria da ufba / 02 de abril / 17h*sob supervisão do editor Eugênio Afonso
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