Alta do cacau pressiona preços nesta Páscoa

Pascoa cacau chocolate aumento credito Felipe Couri

Preço dos produtos na páscoa dispara devido a alta histórica do Cacau em 2024
Páscoa deste ano é marcada pelo aumento do preço do chocolate (Foto: Felipe Couri)

Abril mal começou, e as atenções começam a se voltar para a Páscoa. As lojas que comercializam produtos típicos reforçam estoques, à espera dos consumidores. O ovo de chocolate, astro da festa, é o que mais chama a atenção nas gôndolas, em especial, por conta do preço.

O ovo de páscoa Serenata de Amor, da Garoto, por exemplo, foi vendido em 2024 a R$39,99, em média. Para este ano, o produto teve ligeiro aumento no peso, saltando de 213 para 217,7g, enquanto o valor escalou para R$59,99. Para os bombons e chocolates em barra, a situação não é muito diferente.

A inflação acumulada de 12 meses em janeiro chegou a 14,31%,de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Esse índice representa aproximadamente o dobro da inflação nos alimentos em geral, que chegou ao acumulado de 7,25%. Um dos fatores que explica essa crescente é a variação da cotação do cacau ao longo do último ano.

Cacau: aumento de 165%

De acordo com a Associação Nacional das Indústrias Processadoras de Cacau (AIPC), o alimento foi a commodity mais valorizada ao longo de 2024, com aumento de 165% no valor ao longo do ano. A presidente-executiva da AIPC, Anna Paula Losi, explica que o aumento expressivo do cacau foi consequência da grave crise climática que atingiu o continente africano em 2024,  responsável por boa parte da demanda global do fruto.

“​​O mercado tem buscado alternativas para superar a crise na África, além da diversificação da produção em outras regiões. A cadeia global do cacau tem demonstrado resiliência para garantir que este mercado não entre em colapso diante deste cenário de incertezas e oscilações de preço.”

As variações climáticas causaram impacto significativo na colheita do cacau no Brasil. Todos os principais estados produtores entregaram menos amêndoas à indústria processadora. A Bahia, por exemplo, caiu de 136.165 toneladas para 106.481 toneladas.

Anna Paula Losi também aponta que, além das mudanças climáticas extremas, “algumas regiões tiveram muitos problemas com pragas” ao longo do último ano, o que impactou na redução da colheita.

“O Brasil ainda não produz o suficiente para atender às necessidades da indústria instalada no país e, por isso, dependemos de importação. Esses desafios reforçam a necessidade de políticas de suporte à produção nacional, para garantir maior  sustentabilidade ao setor”, reforça a presidente da AIPC.

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Busca por minimizar impactos

Em meio a alta nos preços do cacau, o mercado se movimenta para minimizar impactos nas vendas. Em entrevista à Tribuna, o vice-presidente de Negócios da Cacau Show, Daniel Roque, e o diretor comercial das Lojas Americanas, Thiago Correia, comentaram sobre as estratégias das  marcas para esse ano.

Daniel aponta que a Cacau Show buscou minimizar o aumento do valor dos produtos para a Páscoa realizando mudanças na linha de produção. Ele também destaca que, enquanto o aumento do cacau chegou a três dígitos, o repasse para os produtos ficou em dois.

“Para enfrentar esse cenário, investimos em eficiência produtiva e otimização de custos, buscando reduzir ao máximo o impacto para o consumidor. Apesar desses esforços, foi necessário  reajuste médio de  10% nos preços dos produtos em relação ao ano passado.”

Pascoa cacau chocolate aumento credito Felipe Couri
(Foto: Felipe Couri)

Já Thiago Correia destaca que a Americanas manteve diálogo com suas parceiras comerciais “para minimizar o impacto ao consumidor final”.  “Nossa estratégia de precificação se baseou em uma negociação ajustada com a indústria para diluir ao máximo esses efeitos.”

A busca por repassar o menor aumento possível para os consumidores nesta Páscoa também é uma preocupação dos produtoras artesanais. A confeiteira Aline Porto avalia que, mesmo com aumento nos preços, é importante manter a qualidade dos produtos.

“Um dos chocolates que eu uso, que é de qualidade e de minha confiança, aumentou 50% de um ano para outro, além de outros insumos que também seguiram caminho semelhante. Então, é impossível não repassar esse aumento para o consumidor.”

Pelo lado dos fabricantes das barras de chocolate, a estratégia é um pouco diversa. O gerente de marketing da Harald, Jonatas Pereira, explica que, para essa época, a marca optou pelo lançamento de chocolates com sabores que foram tendência nos últimos anos, como o pistache e a avelã. “Essa estratégia busca minimizar os impactos da alta do cacau e oferecer alternativas viáveis para os confeiteiros”, afirma Jonatas.

Diversidade

Uma das alternativas encontradas pelas empresas, para conseguir se “adaptar ao bolso dos consumidores”, é a diversidade dos produtos oferecidos. De acordo com Thiago, a Americanas ampliou o portfólio de itens em 10%, comparado ao ano passado, com o objetivo de atender os consumidores com os mais variados orçamentos e gostos.

“Com um sortimento variado, preços acessíveis e uma jornada multicanal, queremos proporcionar a melhor experiência de compra para nossos clientes, mantendo a marca como referência e destino de milhões de brasileiros”, aponta o executivo.

Pelo mesmo caminho, o representante da Cacau Show aponta que o portfólio de produtos para a Páscoa possui opções variadas, que vão desde tablete de chocolate a  R$9,99 até um pacote com ovinhos de chocolate, que custa R$39,99.

Otimismo para a data

Independente do cenário adverso do preço do cacau e do chocolate este ano, a expectativa  é de bater a meta de vendas neste ano. Daniel destaca que a Cacau Show espera superar o faturamento de 2024, que atingiu a casa de R$1,4 bilhão.

“Para este ano, projetamos crescimento entre 30% e 35%, impulsionado por um portfólio ainda mais inovador, estratégias de marketing robustas e  ampliação da nossa presença no mercado. Acreditamos que essa combinação de fatores fortalecerá ainda mais nosso posicionamento e permitirá alcançar um desempenho recorde.”

Jonatas Pereira relata que os produtos fabricados pela Harald estão com alta demanda no mercado alimentício neste início de ano, o que reforça as apostas positivas para a Páscoa. “A expectativa é de crescimento no faturamento da companhia que pode chegar a dois dígitos nesta Páscoa em comparação ao ano anterior.”

Safra intermediária começa este mês

Valor do cacau deve enfrentar altas ao longo de 2025
(Foto: Divulgação/AIPC)

Para os próximos meses, o preço do cacau pode voltar a aumentar devido à queda na produção do fruto na Costa do Marfim, que é um dos principais países que produzem cacau.

De acordo com informações do Conselho do Café e do Cacau (CCC) do país africano, a safra intermediária, que ocorre entre os dias 1º de abril e 30 de setembro,deverá ser menor do que a do ano passado.

Nos últimos períodos, a média na colheita de cacau na Costa do Marfim foi de 500 mil toneladas métricas, número que foi atingido em 2024. Porém, devido a adversidades climáticas, como a seca prolongada e o período de chuvas irregulares, a safra de 2025 deve ficar entre 280 mil e 300 mil toneladas.

De acordo com pesquisa feita pela Reuters com analistas, a expectativa é que o valor do cacau caia em até um terço até o final do ano. A previsão é que a tonelada do fruto termine o ano de 2025 avaliada em US$ 7.300.

*estagiário sob supervisão da editora Fabíola Costa

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