Panorama: cineasta baiana apresenta filme sobre 1ª médica negra do Brasil

A cineasta Mariana Jaspe nasceu em Salvador, mas há 20 anos saiu da cidade. Este ano, ela apresenta o filme que considera “uma volta para casa” no XX Panorama Internacional Coisa de Cinema. O documentário ‘Quem é essa mulher?’, que será exibido em Salvador e em Cachoeira, é a primeira obra dela no estado onde nasceu. O longa-metragem resgata a história de Maria Odília Teixeira, a primeira médica negra do Brasil, traçando um paralelo entre passado e presente por meio da jornada de Mayara, uma historiadora da periferia de Salvador.A primeira sessão de ‘Quem é essa mulher’ na Bahia acontece no dia 4 de abril, 20h15, no Cine Glauber Rocha, e Mariana estará presente para conversar com o público ao final. Ela também debaterá com os espectadores após a exibição do filme em Cachoeira, no próximo sábado, 5, às 19h45. O longa também está na programação do Panorama na Walter da Silveira, com acesso gratuito, no domingo, 6, às 14h.

Cena de ‘Quem é essa mulher?’

|  Foto: Divulgação

Mariana Jaspe tem se destacado no cenário audiovisual brasileiro com filmes que exploram narrativas negras e femininas. Seu curta-metragem de estreia, ‘Carne’ (2018), foi selecionado para mais de 30 festivais ao redor do mundo. Em 2023, ela venceu o Kikito de Melhor Direção no Festival de Gramado com o curta ‘Deixa’. A produção foi exibida no XIX Panorama e ganhou um prêmio especial do júri pela atuação de Zezé Motta. Premiações especiais também foram concedidas no Festival de Havana (Cuba) e no Festival de Vitória.A diretora é especialista em Cinema, Televisão e Mídias Interativas pela Universidade Rey Juan Carlos, de Madrid, e Direção Cinematográfica pela Escola Darcy Ribeiro. Roteirista e diretora da série documental ‘Flordelis: Questiona ou Adora’ e roteirista da série ‘Resistência Negra’, Mariana Jaspe conta, na entrevista abaixo, um pouco mais sobre ‘Quem é essa mulher’, sua carreira e os novos projetos.O encontro entre Mayara e Maria Odília é o ponto central de “Quem é essa mulher?”. Como surgiu a ideia de conectar essas duas figuras separadas por um século e transformá-las em protagonistas do seu filme?Quando ouvi Mayara contar sobre como ela “conheceu” Maria Odília, logo entendi que o filme era sobre esse encontro. Mais que um registro histórico, formal, sobre a vida da primeira médica negra do Brasil, o recorte que mais me instigou foi o encontro entre duas mulheres baianas, negras, com origens distintas, mas com as vidas que se conectam em muitos aspectos e se distanciam em outros. Isso cria muitas possibilidades, muitos espaços para gente se pensar também. Acho que tê-las como protagonistas traz um tecido muito contemporâneo para uma história de outro tempo. É passado e presente o tempo inteiro ali, a ideia era essa.Você e suas personagens são baianas, qual a importância de apresentar o seu filme para o público de Salvador no Panorama Coisa de Cinema?Em fevereiro desse ano completou 20 anos que saí de Salvador. Quem é essa mulher?, é meu primeiro filme na minha terra, uma espécie de volta para casa. É um trabalho sobre duas mulheres que admiro muito, sobre a história da primeira médica negra do Brasil – uma história que por muito tempo ficou escondida e que precisa ser contada. Mas é também a história de muitas outras mulheres baianas como minha mãe, minha avó, Tia Marlene, a mãe de Mayara, sobre Josephina, a mãe de Maria Odília. Então apresentar nosso filme aqui, apresentar essas mulheres para essas outras mulheres é um sonho. Que bom que é um sonho realizado. Como você trabalhou a estética e a geografia da Bahia para reforçar a história que queria contar?Maria Odília nasceu em São Felix, estudou e trabalhou em Salvador, viveu em Cachoeira, morou em Irará, em Ilhéus. E Mayara que nasceu em Salvador, mas morava em Iaçu, e passou parte de sua infância em Sambaíba. É muita Bahia na vida dessas mulheres, o filme precisava ter a Bahia como personagem também. Personagem que está nas viagens que fazemos acompanhando Mayara, mas está também no nosso jeito de ser, de viver. No entardecer no interior, na família que senta ao redor da fogueira na porta de casa. No tempo que passa às margens do rio. Na urbanidade caótica, no carrinho de café, na gente, na família comendo cozido ao redor de uma mesa e contando causos. Tudo isso ajuda a entender quem foi Maria Odília, porque nos ajuda a pensar sobre os lugares por onde ela passou, como as relações que ela teve se deram. “Quem é essa mulher?” aborda as lacunas na memória coletiva e a invisibilização das mulheres negras na história. Quais reflexões espera provocar no público?Esse é um filme sobre Maria Odília, mas é um recorte, é o nosso olhar sobre sua trajetória à luz do seu encontro com Mayara. Então espero que o público se sinta próximo a essa Odília, a Mayara e ao afeto que as uniu. Esse é um filme sobre amor, sobre decisão inesperadas e surpreendentes, sobre entrega, sobre desejos e sobre afeto, então espero que o público escolha uma dessas portas de entrada e embarque.Você trabalha com cinema e também séries, o que os espectadores podem esperar dos seus próximos projetos?Estou finalizando o roteiro de uma série documental, com outra já pronta que vai estrear este ano e, daqui a três meses, começo a filmar uma terceira. Tem o filme “A Melhor Mãe do Mundo”, de Anna Muylaert, que colaborei no roteiro e está rodando o mundo em festivais. Vou filmar um documentário sobre Zezé Motta. Estou com um projeto lindo sobre uma grande estrela baiana, mas que ainda não posso falar. Tem muita coisa legal acontecendo, mas quase tudo ainda é segredo de estado, rs.

Cineasta Mariana Jaspe

|  Foto: Fernando Marrom | Divulgação

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