Diversidade é a palavra-chave para a Área de Proteção Ambiental (APA) Dunas do Rosado, seja biológica, seja geológica, seja de paisagens. Décima unidade de conservação (UC) estadual reconhecida no Rio Grande do Norte, em 2018, a área é o segundo maior campo de dunas móveis do Brasil, atrás apenas dos Lençóis Maranhenses.
Cenário de produções cinematográficas em suas paisagens que lembram o deserto, a APA foi criada para proteger a biodiversidade, disciplinar o processo de ocupação do território e assegurar a sustentabilidade do uso dos recursos naturais que existem ali, explica o geógrafo Ilton Soares, supervisor-pesquisador da Unidade de Gestão da Biodiversidade (UGBio) do Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente (Idema/RN).

“Ela surgiu do pleito das comunidades daquela região, por ser uma área com muitas características ambientais importantes e frágeis, como a existência do campo de dunas e falésias”, conta Soares. Além disso, frear a especulação imobiliária na região foi um dos motivos para a criação da UC.
A APA Dunas do Rosado, com seus 16.593 hectares, integra os municípios de Areia Branca e Porto do Mangue. Dessa área, segundo a bióloga Daiane Cristina, 74% ficam em Porto do Mangue, e 26% em Areia Branca.
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“Compatibilizar a conservação com o uso sustentável” é um dos principais trunfos da APA, Ilton pontua. “Dentre as 12 categorias de unidades de conservação que existem no Sistema Nacional de Unidades de Conservação, a APA é aquela que mais permite ocupação do espaço”.
“A ideia é que você ocupe aquele espaço com atividades humanas e atividades econômicas, mas de maneira que você garanta a conservação do ambiente”, ele frisa.
Planos para o ecoturismo
Apesar de sua relevância e beleza cênica, a APA Dunas do Rosado ainda não é tão conhecida quanto outros espaços semelhantes, como a APA Jenipabu, por exemplo. Para Ilton, isso se deve especialmente à localização da unidade.
Os planos para incrementar o ecoturismo e fazer com que as belezas das Dunas do Rosado sejam mais conhecidas passam pelas comunidades tradicionais costeiras, anuncia Ilton.

De acordo com ele, o turismo de base comunitária pode ajudar o ecoturismo e cumprir o papel social de gerar renda para essas populações.
Há uma experiência semelhante para se inspirar, no Parque Nacional de Furna Feia, unidade de conservação federal localizada em Mossoró e Baraúnas.
“Nosso foco é criar estratégias para fomentar e desenvolver uma proposta de turismo de base comunitária na região, para que, assim, a gente consiga garantir a proteção dos ecossistemas que lá existem, associado à geração de emprego e renda para a comunidade local, principalmente a comunidade tradicional pesqueira”, o geógrafo afirma.
Área de proteção
Mesmo que ainda não tenha um plano de manejo que especifique as ocupações e traga um zoneamento, “boa parte da unidade de conservação é formada por dunas e por falésias, que, na legislação federal, tanto no Código Florestal quanto em uma resolução do Conselho Nacional de Meio Ambiente, são tratadas como áreas de preservação permanente”, Ilton lembra.

“Essas áreas têm um uso restrito. Você não pode ter qualquer tipo de ocupação nelas”.
O Idema, que administra a unidade, está em tratativas para a contratação do estudo para elaboração do plano de manejo.
Em suma, “apesar de ela [a APA Dunas do Rosado] não ter plano de manejo, o seu território é parcialmente protegido pelo fato de ser formado por dunas e falésias. Outras legislações federais acabam garantindo proteção a uma parcela considerável da unidade de conservação. Alguns tipos de empreendimentos atualmente não podem ser implementados lá em função dessa proteção”.
Educação ambiental
No âmbito da educação ambiental, destacam-se as expectativas para o projeto Dunas do Saber, uma parceria entre o Idema e as escolas, que terá sua primeira edição em 2025. As atividades de educação ambiental visam despertar, na comunidade escolar, a importância da consciência ambiental e da formação nessa área, diz Ilton Soares.
Nas Dunas do Saber, adiciona Daiane Cristina, “serão desenvolvidas atividades de educação ambiental, de conservação ambiental e atividades de pertencimento. A gente tenta mostrar aos jovens a importância da unidade de conservação e a ideia de pertencimento deles no território”.
“É um projeto feito em parceria com várias entidades. Nós vamos levar ONGs que trabalham com conservação de aves e que trabalham com conservação de serpentes, por exemplo; fazer muitas atividades práticas”, diz ela.
Aves são destaque
Quanto às ONGs, destacam-se aquelas que trabalham com animais, como é o caso da SAVE Brasil, que atua com aves. Recentemente, o projeto esteve na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão para uma atividade de observação de aves.
Segundo Ilton, a APA Dunas do Rosado também tem potencial para essa atividade. Em sua área, há aves limícolas migratórias e de caatinga.
“A gente tem um ambiente onde temos tanto a Caatinga quanto ecossistemas costeiros. Tem ecossistema dunar, lagunar e lagoas interdunares dentro do complexo de dunas”, explica ele.
O principal destaque da fauna são as aves, muitas delas migratórias, que vêm de outros países para passar parte do ano no Brasil.
Já em relação à flora, o servidor da UGBio informa que há propostas para fazer um levantamento florístico da APA. “Já estamos em contato com o botânico do Parque das Dunas, para fazer um levantamento florístico”, Ilton compartilha.
Pesquisa científica e potencial geológico
Ilton, geógrafo de formação, ressalta que as principais pesquisas realizadas na UC buscam entender os seus aspectos físicos. “São estudos nos campos dunares. Tem um pesquisador da UFRN [Universidade Federal do Rio Grande do Norte] que defende a tese de que uma parte daquela região do litoral setentrional é uma área que tem potencial para ser um novo geoparque”.
Isso englobaria a APA Dunas do Rosado. “Ali, a gente tem elementos da geodiversidade, como o próprio campo de dunas diferenciado, rosado, com resquícios de material arqueológico e paleontológico sob aquele campo de dunas”.
O estudo citado por Ilton é algo inicial, e o processo de reconhecimento de um geoparque demandaria cerca de cinco até dez anos de pesquisa.

“A maior parte dos estudos naquela região são estudos na área da geografia física, em função dessa geodiversidade que existe lá”.
Curiosidades: nome e produções
O nome da APA Dunas do Rosado é autoexplicativo e sugere que há dunas rosadas em algum trecho da UC. Além de dar nome à área de proteção ambiental, as dunas rosadas também alavancam a sua beleza cênica.

“A gente tem um campo de dunas que parte dele é uma duna rosada. São sedimentos que vêm das falésias e são transportados através de transporte eólico. Esse segmento ferruginoso das falésias, que são rochas areníticas, fica no campo de dunas e dá aquela coloração rosada”, diz Ilton.
Ilton afirma ainda que a APA já foi palco de várias produções cinematográficas, entre filmes do padre Marcelo, novelas religiosas da Record, comerciais televisivos e até uma série da Netflix.

A equipe da série “3%” deixou um ônibus usado nas filmagens na região para lembrar que esteve lá. Já o padre Marcelo deixou três cruzes, que se tornaram um mirante que recebe turistas.
“As produções cinematográficas associam muito a paisagem do campo de duna àquelas paisagens desérticas”, conta Ilton Soares.
“A gente tem uma paisagem tão excepcional e única, que acaba sendo palco de filmes e novelas. Isso demonstra a importância da beleza cênica da unidade de conservação. Além de proteger a biodiversidade, é importante proteger essa beleza cênica”.
Conselho gestor
O servidor da UGBio avalia que o conselho gestor é atuante na UC. A nova gestão recebeu posse em fevereiro de 2025, para um mandato de dois anos.
“O conselho tem participação social das comunidades dentro da unidade e participação de entidades públicas de ensino, assim como a legislação exige. É um conselho gestor múltiplo”.
A bolsista do Idema Daiane Cristina, que vai assumir a gestão da unidade, espera fortalecer os diálogos com a comunidade, além de retomar ações de educação ambiental.
“A principal expectativa é trabalhar junto com a comunidade para ajudá-los no sentido de fortalecer o meio ambiente, a educação ambiental lá com a comunidade. Escutar o que eles têm de preocupações e ver o que o órgão ambiental pode fazer para mediar alguns conflitos, algumas questões relacionadas com o meio ambiente”, diz a bióloga.
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Esta é a nona reportagem da série de reportagens da Agência Saiba Mais sobre as 11 unidades de conservação estaduais do Rio Grande do Norte.
Acompanhe a série:
Parque das Dunas: refúgio da Mata Atlântica na capital potiguar
Pico do Cabugy: segunda unidade de conservação do RN é mesmo um vulcão extinto?
Piquiri-Una: área de proteção ambiental preserva águas potiguares
APA Jenipabu: entre o turismo e a conservação da natureza
APA Bonfim-Guaraíra: Riqueza de ecossistemas e turismo sustentável
APARC: conheça a unidade de conservação que preserva recifes de corais no RN
Ponta do Tubarão: Costa Branca se engaja na conservação de reserva ambiental
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