Pressão alta afeta a qualidade do sêmen desde a juventude, revela estudo

A fertilidade masculina pode ser afetada por muitos fatores desde a juventude. Um estudo do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP) revelou que a pressão alta pode impactar precocemente e de forma duradoura a qualidade do sêmen. Entre os efeitos observados estão danos ao acrossoma – estrutura essencial para a penetração do espermatozoide no óvulo – e prejuízos à microcirculação testicular ao longo da vida.

Liderado pelo professor Stephen Rodrigues, do ICB-USP, o estudo revelou que essas alterações surgem ainda na juventude e não são totalmente revertidas pelo uso de medicamentos anti-hipertensivos, levantando desafios para a preservação da saúde reprodutiva masculina. A pesquisa foi publicada na revista acadêmica Scientific Reports e contou com apoio da FAPESP.

O trabalho analisou os efeitos da hipertensão arterial em ratos de diferentes idades, desde os mais jovens (8 a 10 semanas, equivalentes a cerca de 18 anos humanos) até os mais velhos (60 a 66 semanas, correspondentes a 45 a 50 anos humanos). A principal descoberta foi que as alterações na qualidade do sêmen, como a redução na concentração e danos ao acrossoma, surgem precocemente e persistem ao longo de toda a vida reprodutiva.

“Esses resultados mostram que a hipertensão arterial tem um impacto reprodutivo que começa muito cedo e persiste durante toda a fase adulta. Mesmo períodos relativamente curtos de exposição a níveis elevados de pressão arterial já são suficientes para causar danos irreversíveis”, explicou o professor Rodrigues à assessoria de imprensa do ICB-USP.

Remédio resolve?

Os pesquisadores avaliaram a eficácia de diferentes medicamentos anti-hipertensivos e descobriram que nem todos conseguem restaurar a saúde reprodutiva da mesma forma. A losartana, amplamente utilizada na clínica, reduziu a pressão arterial, mas não reverteu as alterações nos espermatozoides. Já a prazosina, um antagonista do receptor alfa-adrenérgico, além de controlar a pressão, conseguiu corrigir parte dos danos observados no sêmen.

“Esse achado sugere que apenas reduzir a pressão arterial não é suficiente para proteger a saúde reprodutiva. A combinação de agentes que reduzem a mortalidade com outros que preservem a função reprodutiva pode ser um caminho promissor”, disse Rodrigues.

‘Ainda não se sabe ao certo as causas do fenômeno’

A equipe ainda pretende aprofundar a pesquisa sobre os efeitos da hipertensão arterial e dos medicamentos anti-hipertensivos no epidídimo, estrutura responsável pelo armazenamento dos espermatozoides antes da ejaculação. Além disso, investigará o impacto da atividade física na qualidade do sêmen e na microcirculação testicular.

“Queremos entender se intervenções não farmacológicas, como o exercício, podem oferecer benefícios similares aos dos medicamentos, promovendo melhorias na saúde reprodutiva de forma natural”, contou o professor do ICB.

O estudo reforça a necessidade de compreender os impactos sistêmicos da hipertensão arterial, uma condição que atinge milhões de pessoas no Brasil e no mundo. “Um dado alarmante é que, nos últimos 50 anos, tem se observado uma redução de cerca de 50% de espermatozoides presentes no sêmen, em indivíduos hipertensos ou não. Ainda não se sabe ao certo as causas do fenômeno, ou se ele vai começar a comprometer a reprodução da espécie no futuro. Por isso, todo estudo é bem-vindo, seja para reverter ou impedir que essa redução aumente”, completou

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