Livros que contam histórias da família de Milton Nascimento e da presença feminina no Clube da Esquina são lançados em Juiz de Fora

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João Marcos Veiga, Vilma Nascimento e Duca Leal apresentam novas histórias de um grupo que marcou a música brasileira (Foto: Divulgação)

Nesta quarta-feira (26), às 19h, o Cine-Theatro Central diminui o volume das caixas de som para receber uma roda de conversa com os autores de dois livros que perpassam momentos importantes da história da música brasileira, a partir do Clube da Esquina, até então pouco conhecidos. São eles: “De onde vem essa força” (de Vilma Nascimento, Jary Cardoso e João Marcos Veiga)  e “Histórias de outras esquinas” (de Duca Leal). A entrada é gratuita e os ingressos podem ser retirados na recepção do teatro. Serão distribuídos apenas 120 ingressos. Além da roda de conversa, ocorrerá uma intervenção musical ao final com os músicos Anderson Santos e Talis Júlio.

Lá vem a força, lá vem a magia

No livro “De onde vem essa força: histórias da família Nascimento de Minas para o mundo”, a história da família consanguínea de Milton Nascimento é resgatada, destacando a figura da matriarca vó Maria e de Carminha, mãe biológica do cantor. A pesquisa, que resultou nas 126 páginas do livro, iniciou-se há 20 anos. Vilma Nascimento, prima do cantor, conta que a ideia da obra partiu de uma reportagem na antiga revista Manchete. “Eram umas três, quatro páginas sobre o Milton, mostrando ele em Três Pontas (MG), com a família. Achei interessante e trouxe para mostrar para a família dele daqui de Juiz de Fora”, conta.

Conversando com a família, Vilma chegou a conclusão que uma reportagem com a família Nascimento não seria possível, pois a história era grande demais para isso. Ela começou, então, de maneira totalmente independente e com recursos próprios, a fazer entrevistas e organizar o material que resultou no livro. Seu marido e também co-autor da obra, o jornalista Jary Cardoso, ajudou no processo.

Ao perceberem que a obra se diluiria em três cidades (Lima Duarte, Juiz de Fora e Rio de Janeiro), foi necessário começar a pesquisar a história dos municípios, pois os deslocamentos da família Nascimento refletia, em certo sentido, a busca por melhores oportunidades de vida em um Brasil que se industrializava.

João Veiga, nesse processo, se tornou co-autor, convidado para ajudar a trabalhar o material e conceber o livro. “Acho que o livro passa por essa história social, que é a história das famílias também. Apesar do Milton ser uma pessoa de relevância internacional, a personagem principal do livro é a família. E como a família é capaz de refletir os próprios desafios de um desenvolvimento social no Brasil, passando por Lima Duarte, Juiz de Fora e Rio de Janeiro. Entendemos um pouco desse processo de desenvolvimento das cidades e quais os desafios da inserção de uma família negra que ainda está submetida a desafios imensos para ter inserção na sociedade”, afirma.

Fazendo ponte entre diferentes contextos sociais, políticos e musicais, as gerações de Nascimento são marcadas, principalmente, pelo protagonismo feminino. Isso foi o que mais marcou Vilma durante sua pesquisa. “Essa força das mulheres, de termos essa disposição de trabalhar, de conduzir a família, é muito forte. A geração de agora é linda, vencedora. Temos professores, jornalistas, isso é muito lindo. Mostra que vencemos todas as barreiras. Vai ser um acontecimento único, de uma família negra, se unindo ali no Central.”

Para azar do leitor, descrições como a feijoada na casa de vó Maria, com vários integrantes do Clube e os familiares de Juiz de Fora; o V Festival de Música Brasileira no Cine-Theatro Central, contando com diversos artistas hoje renomados da MPB; entre várias outras cenas retratando os saberes culturais e tradição festeira da família Nascimento são compostas apenas de palavras, e não acordes e temperos de cravo e canela.

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Milton e Vilma que, anos depois, teria a ideia de criar um livros sobre a família Nascimento (Foto: Divulgação)

As tantas histórias do Clube da Esquina

São várias as “Histórias de outras esquinas”, de Duca Leal. Tantas que tiveram que parar ainda no ano de 1989, momento em que se despertava espiritualmente – como ela mesmo caracteriza – com o ayahuasca (bebida psicoativa usada em cerimônias espirituais/religiosas), se despedindo do meio musical.

Uma das tantas é sobre seu cabelo, que inspirou Márcio Borges a escrever “Um girassol da cor de seu cabelo”. Em sua versão, ela conta que Márcio, após colocar uma de suas mechas contra a luz, disse que pareciam um girassol. Outra, é quando recebeu Zé Celso – do Teatro Oficina – em sua residência em Santa Teresa (RJ), e ele organizou uma apresentação de teatro para arrecadar fundos para sair do Brasil, devido à repressão da ditadura.

Uma das mais marcantes é a de seu casamento. No piano, Milton Nascimento e Lô Borges, tocando: “Eu sei que vou te amar”, de Tom Jobim e Vinícius de Moraes. À época, Duca tinha 16 anos. Entrou na Igreja da Pampulha vestida como uma cowgirl para se casar com Márcio Borges, um dos membros fundadores do Clube da Esquina, nove anos mais velho que Duca.

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Duca Leal narra os bastidores do Clube da Esquina a partir de seu ponto de vista (Foto: Divulgação)

Narrado parte em terceira pessoa, Duca fala sem julgamentos sobre Indiazinha – como era conhecida no tempo da juventude -, dando vazão para que os escritos de sua versão mais nova ecoem na obra. Protagonista em suas próprias aventuras, o passado ressurge sem nostalgia. “Cada um que faça seu julgamento e tire sua opinião”, afirma.

São diversos outros relatos possíveis de serem destacados, como sua afinidade com Bituca, por ser mais quieto; a organização do show-protesto contra a ditadura, “Música pela anistia ampla, geral e irrestrita”, que contou com apresentações de Gilberto Gil, Jorge Mautner e, entre outros, Luiz Melodia; além de ter abrigado refugiados políticos, ter escrito poemas cantados por grandes nomes da música brasileira, entre outras coisas mais.

No fim, essas muitas nuances de uma etapa da vida, por mais que tenham sido sintetizadas em uma autobiografia, também podem ser colocadas no questionamento: “É esquina demais, sacou?”

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*Estagiário sob supervisão da editora Cecília Itaborahy

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