1º bairro ecológico planejado de Salvador, Patamares mistura árvores com prédios

A brisa que percorre Patamares é apenas um entre os diversos elementos que fazem do bairro um dos mais requisitados de Salvador. Nascido de um amplo projeto urbanístico, o local tem se expandido a partir de uma intensa mistura entre o verde das árvores e o cinza do concreto dos edifícios.Patamares fica entre duas importantes vias da capital baiana: de um lado, a Av. Luís Viana Filho (Paralela), a mais movimentada da cidade; do outro, a Av. Octávio Mangabeira, que se estende por boa parte da Orla Atlântica.

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Esses polos são conectados, principalmente, pela extensa Av. Pinto de Aguiar, endereço de condomínios de alto padrão, colégios tradicionais, faculdades e de uma fileira de motéis – concentração que, há décadas, desperta curiosidade.O historiador Rafael Dantas ressalta que falar sobre essa região é destacar os caminhos que a cidade começa a tomar a partir da segunda metade do século XX.“Salvador, durante muito tempo, ficou concentrada na região mais antiga da cidade, o que hoje nós chamamos de Centro Histórico. A partir dos anos 1950 e 60, os planos de novos traçados urbanos começam, de fato, a ganhar forma. Isso vai se tornar realidade a partir dos anos 1960 e 70. A Av. Paralela vai ser outro ponto fundamental nesse processo, que vai destacar aquela região, não só Patamares, como as redondezas, como local de maior crescimento urbano. Então é a partir dos anos 1960 e 70 que o bairro vai começar, de fato, a ganhar a forma que a gente conhece hoje”, explica.Um bairro verdeO engenheiro Ary Blasquez, que mora há 40 anos em Patamares, acompanhou de perto o nascimento do bairro. Ele explica que buscava, junto à esposa, à época, um local tranquilo e com muita vegetação. Quando chegou ao espaço que até então era considerado um loteamento, observou a predominância da mata verde, se interessou por um terreno e começou a construir a casa, levando em conta, inclusive, os declives do solo que justificam o nome do bairro.“Comecei a elaborar [a casa] porque o terreno aqui tem uma queda de 38m até o nível da rua, por isso que é feita em patamares. Você observa que construí toda em degraus. Contratei pessoas, começamos a cercar o terreno e mandei para um arquiteto. Ele fez o projeto e começamos a fazer a casa”, explica.Menos presente do que quando Basquez chegou, mas ainda sendo destaque, as áreas verdes e a tranquilidade são aspectos tratados com carinho pelo engenheiro. “Tínhamos um atrativo de um ambiente com Mata Atlântica, tudo que você pode pensar de uma beleza da natureza. Tínhamos abundância e ainda temos bastante. Encontramos aqui a paz, o silêncio, uma oxigenação privilegiada, uma ventilação permanente. Foi uma das coisas importantes que trouxeram a gente: o convívio com a natureza”.A sensação é certamente compartilhada com determinados ‘vizinhos’, que chegaram antes de Blasquez e são elementares na identidade do bairro: os animais. “Aqui, nós convivemos sempre com pássaros, tem ainda tatu-bola, muitos micos, camaleão, borboletas. Recentemente, teve uma cobra grandei, fiquei a manhã toda tomando conta para que o Ibama ou a Polícia Ambiental viessem pegar, mas eles não vieram. Aí ela caiu para o lado de lá, mas não matamos”, conta.Quem também atesta o forte caráter ecológico do bairro é Vinício da Fonseca, presidente da Associação dos Moradores e Proprietários da Colina A de Patamares (Amcap). “Esse foi o primeiro bairro planejado ecologicamente em Salvador, lá na década de 1970. Quem desenhou foi Lúcio Costa, sócio de Oscar Niemeyer, e Burle Marx, que foi o maior paisagista que esse País já teve”, afirma.Vinício explica como os diferentes níveis do solo foram determinantes para que houvesse um planejamento ainda mais detalhado do bairro.”A topografia é em colinas. Você tem aquela planície de Jaguaribe, de Piatã, e atrás, tem umas colinas de Mata Atlântica. A preocupação deles [Lúcio Costa e Burle Marx] era: quando chover, a água vai descer dos morros e alagar tudo. Então, para evitar que isso aconteça, as partes de baixo dos morros foram todas desenhadas para serem áreas verdes, para absorver essa água da chuva, fazendo ela ser drenada para o solo”.De volta ao presente, em um cenário de expansão de prédios residenciais e empreendimentos comerciais, a discussão sobre a redução das áreas verdes em Patamares tem crescido nos últimos anos. As construções ganharam força, principalmente a partir de 2016, quando houve a implementação de um novo Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano (PDDU), que acelerou a aparição de condomínios verticais, como detalha Tiago Brasileiro, presidente do Conselho de Arquitetura e Urbanismo da Bahia (CAU-BA).“Foi uma mudança radical, significativa, e que a gente vem observando nos últimos dez anos, essa tipologia de edifícios, de prédios, principalmente residenciais”, comenta. Tiago salienta que é preciso atentar-se aos efeitos danosos que essas construções podem causar nas dinâmicas ambientais do bairro, como o bloqueio da ventilação natural. Para ele, é preciso encontrar equilíbrio entre desenvolvimento urbanístico e preservação ambiental.

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