Hospital Walfredo Gurgel atende 1.028 feridos em acidentes com motos só em 2024

A urgência do Hospital Walfredo Gurgel segue abarrotada por vítimas de acidentes com motocicletas, mesmo diante da redução no número de mortes no trânsito da capital potiguar. Apenas nos primeiros meses de 2024, já foram registrados 1.028 atendimentos relacionados a acidentes envolvendo motos, conforme dados apresentados pelo Ministério Público do Rio Grande do Norte durante entrevista à rádio 94 FM. Em 2023, o número total foi maior: 1.314 feridos.

Segundo a promotora Danielle Veras, que atua na área de cidadania e acompanha de perto a situação, o problema extrapola os limites da capital. “Muitos motociclistas acidentados vêm da região metropolitana. Mesmo com a queda de óbitos em Natal, o Walfredo continua recebendo vítimas em estado grave”, afirmou. A superlotação crônica do hospital está relacionada à chamada “barreira ortopédica” que se formou, segundo a promotora, por conta da ausência de atendimento especializado nos municípios vizinhos.

Diante do impacto direto no sistema de saúde, o Ministério Público, em parceria com a STTU e outros órgãos estaduais e federais, lançou a campanha “Juntos Pela Vida”, com o objetivo de reduzir os acidentes, especialmente entre motociclistas. A promotora reforçou que não se trata apenas de segurança viária. “Cada acidente impacta a saúde pública, a previdência, a renda da família e pode incapacitar permanentemente alguém que está em idade produtiva. É uma perda em várias dimensões”, disse.

A campanha atua em vários eixos: fiscalização, educação, requalificação viária e melhoria na coleta de dados. Também está prevista uma série de cursos gratuitos de pilotagem para motociclistas que utilizam a moto como meio de trabalho, com início em abril. Embora a redução de óbitos em Natal indique um avanço — foram 30 mortes em 2021, 25 em 2023 e 18 até o momento em 2024 — os dados de internações mostram que o desafio está longe de ser resolvido.

50% dos motociclistas em Natal estão sem habilitação, diz secretária

Metade dos motociclistas que circulam pelas ruas de Natal não possui habilitação. O dado alarmante foi revelado pela secretária municipal de Mobilidade Urbana, Jódia Melo, durante entrevista à rádio 94 FM. “Temos um número muito alto de motociclistas sem habilitação. É um problema que coloca em risco a vida deles e a de outras pessoas”, afirmou.

O dado reforça a urgência das ações lançadas na campanha “Juntos Pela Vida”, que busca conter o número de acidentes envolvendo motos. A secretária explicou que a STTU atuará diretamente na formação de motociclistas que utilizam o veículo como ferramenta de trabalho, oferecendo cursos gratuitos de pilotagem a partir de abril. Apenas motociclistas habilitados poderão participar das capacitações.

Segundo Jódia Melo, os cursos serão voltados especialmente para quem depende da moto para se deslocar ou para atividades profissionais, como motofretistas e entregadores. “Muitos acidentes não envolvem só o condutor. Afetam toda a estrutura familiar quando a pessoa não pode mais trabalhar”, disse. A ação pretende aumentar a capacitação técnica dos motociclistas e reduzir práticas perigosas, como manobras ilegais e manutenção precária dos veículos.

Além do curso da STTU, o Ministério Público do Trabalho garantiu recursos para treinar 600 motofretistas ainda em 2025. A campanha também conta com o apoio de entidades como a FETRONOR e será acompanhada por fiscalizações promovidas em parceria com a PRF, CPRE e DETRAN.

O programa foi discutido durante entrevista conjunta da promotora Danielle Veras e da secretária Jódia Mello. Ambas apontaram que a falta de habilitação não é um problema apenas individual, mas uma falha coletiva, agravada pela pressão de produtividade sobre trabalhadores autônomos e pela baixa fiscalização nas regiões periféricas. O esforço agora será unir educação e fiscalização para enfrentar o problema de forma mais ampla.

Queda nos óbitos não impede superlotação no Walfredo Gurgel

O número de mortes de motociclistas caiu em Natal, mas o Hospital Walfredo Gurgel segue operando acima da capacidade. Em 2021, foram registradas 30 mortes de condutores de moto na capital. Em 2023, o número caiu para 25, e em 2024, até agora, são 18. Ainda assim, o hospital continua como principal destino para vítimas de acidentes graves envolvendo motos, muitas delas vindas da região metropolitana.

A promotora Danielle Veras, do Ministério Público do RN, avalia que a situação atual é reflexo de um problema regional e não apenas da capital. “Há uma redução nos óbitos em Natal, sim. Mas a gravidade dos acidentes ainda é muito alta. E quem se acidenta nos municípios vizinhos vem para cá. Isso explica por que o Walfredo não esvazia”, disse. A promotora atua na articulação de políticas públicas voltadas à mobilidade urbana e segurança no trânsito, dentro do Programa Vida no Trânsito.

Durante entrevista na rádio 94 FM, ela explicou que o MP está atuando em vários eixos: coleta e compartilhamento de dados estatísticos, campanhas educativas, requalificação de vias e fiscalização. Entre as vias que mais preocupam, foram citadas a João Medeiros Filho, de responsabilidade estadual, a BR-101 Sul, sob jurisdição federal, e bairros como Lagoa Nova, com alta incidência de acidentes.

Segundo Danielle, um dos gargalos está na consolidação dos dados. Hoje, boletins de ocorrência só são registrados por STTU e CPRE quando há vítimas. Acidentes sem lesão são registrados apenas por meio da delegacia virtual. Isso dificulta o mapeamento completo das áreas críticas e atrasa a implementação de soluções. “Sem dados integrados entre saúde, trânsito e segurança, a resposta fica incompleta”, explicou.

As ações propostas incluem intervenções urbanas em áreas de risco. A STTU já possui projetos de requalificação aprovados para avenidas como Nevaldo Rocha e Jaguarari, que passarão por obras para melhorar a fluidez do tráfego e reduzir colisões. Para a promotora, é necessário continuar reduzindo a quantidade de acidentes graves e, ao mesmo tempo, garantir que os casos menos complexos sejam absorvidos por outras unidades de saúde fora da capital. “A queda nos óbitos é positiva, mas não resolve o colapso se não houver apoio regional”, afirmou.

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