Léo Condé lamenta perda de espaço para estrangeiros e se declara ao Ceará: ‘É a minha seleção’

Léo Condé celebra que, até hoje, quando vai a Ribeirão Preto, recebe agradecimentos dos torcedores do Botafogo pelo acesso à Série B em 2018. Aquele foi o primeiro de quatro subidas que o técnico já comandou nos últimos sete anos. Para 2025, ele volta à Série A com o Ceará. Neste sábado, ele comandou o time no empate por 1 a 1 contra o rival Fortaleza, confirmando o título do Campeonato Cearense.“Tanto no Vitória, quanto no Ceará. São grandes públicos. A gente conseguiu fazer uma uma sinergia boa de time e torcida. O trabalho como um todo é no dia a dia, sempre passando para os jogadores a importância de conquistar um acesso na carreira. Você fica marcado no clube”, conta ao Estadão sobre o histórico de acessos que tem no currículo. O roteiro de Condé no Ceará aconteceu também no Vitória. Após ter o acesso para a primeira divisão, ele foi campeão baiano em cima do Bahia. Entretanto, não ficou em Salvador depois de derrotas no Brasileirão. Logo, chegou ao Ceará, equipe com melhor aproveitamento entre os times da elite brasielira até aqui, com 84,4%.

O time cearense fica a frente de Internacional (83,3%), Corinthians (75,4%) e Flamengo (75%). No Estadual, foram nove jogos, oito vitórias e um empate. Na Copa do Nordeste, que ainda está na fase de grupos, tem cinco vitórias, três empates e uma derrota. A equipe também está garantida na terceira fase na Copa do Brasil.Aproveitamento geral de Leo Condé no Ceará: 39 jogos, 26 vitórias, 4 empates e 9 derrotas. (70%).Mesmo quando não garantiu um acesso, Condé passou perto. Em 2020, ele terminou a temporada pelo Sampaio Corrêa no sexto lugar, a quatro pontos do G-4 da Série B. Com o time maranhense, também ficou na quinta posição, em 2022, numa Série B que teve Cruzeiro, Grêmio, Bahia e Vasco no G-4. Os acessos de Léo Condé2018: levou o Botafogo de Ribeirão Preto da Série C para a B2021: levou o Novorizontino da Série C para a Série B2023: foi campeão da Série B com o Vitória2024: levou o Ceará da Série B para a Série AO que você provoca para que seus times tenham tanto sucesso em acessos?Eu acho que não tem um fator determinante. São vários fatores que te levam a conquistas de título, acesso. Primeiro a mobilização, tentar mobilizar o clube como todo. Direção, atletas, principalmente, transmitir para o torcedor. O Ceará ficou cinco anos jogando Série A e aí ele vai para Série B. De repente, o torcedor não valoriza tanto a competição. Mas, para voltar para Série A, tem que passar por esse processo. Então, a gente conseguiu criar uma mobilização boa dentro do clubes e transmitiu isso para o torcedor.Tanto no Vitória, quanto no Ceará. São grandes públicos. A gente conseguiu fazer uma uma sinergia boa de time e torcida. O trabalho como um todo é no dia a dia, sempre passando para os jogadores a importância de conquistar um acesso na carreira. Você fica marcado no clube. Às vezes, eu vou em Ribeirão Preto, foi em 2018 o acesso lá com o Botafogo, mas chego na cidade… o reconhecimento de todos, daquele trabalho que a gente fez há anos. É o que a gente tem procurado fazer nos clubes.O Ceará tem um dos melhores aproveitamentos entre os clubes da Série A em 2025.Tem sido um início de temporada muito positivo. A gente venceu todos os jogos no Estadual, vencemos a a primeira partida da Copa do Brasil (depois da entrevista, o Ceará avançou para a terceira fase ao empatar com o Confiança, mas vencer nos pênaltis).E, na Copa do Nordeste, a gente espera também buscar a classificação. Agora, é claro que o nível de competitividade de uma Série A e nas fases mais avançadas de Copa do Brasil eleva. A gente busca melhorar como equipe, melhorar individualmente. Mas, com certeza, a gente passou por uma reformulação muito grande, quase 50% do elenco modificou.É um desafio grande para nós, treinadores, quando se modifica muito, mas os atletas tem assimilado muito rápido a maneira que a gente gosta de trabalhar, a maneira que a gente gosta de jogar, e a gente tem a expectativa aí de fazer uma boa temporada.Como joga o Ceará de Léo Condé?Claro que a gente vai, a cada ano, tentando melhorar em algum aspecto. Mas algo que é meio que padrão das minhas equipes é sempre jogar de uma maneira equilibrada. Uma equipe que consegue dentro dos momentos do jogo, no momento de marcar, na fase defensiva, estar sempre bem compacta, tanto para gente marcar um pouco mais alto, no bloco alto, quanto marcar um pouco mais baixo e sair em transição.Como também quando tem a bola, entender os momentos do jogo. O momento que o adversário oferta espaço nas costas da linha de defesa, fazer um ataque mais rápido, o momento que às vezes pede de a gente controlar um pouco mais o jogo, de ter um pouco mais a posse de bola, de fazer um jogo mais apoiado. É muito pautado no equilíbrio tanto na fase ofensiva, quanto na defensiva, nas transições.De um modo geral, o futebol está muito equilibrado nos últimos anos, e a bola parada também é sempre muito importante. Define muito os jogos. Então é algo que eu também procuro dar bastante atenção às minhas equipes.

Muitas vezes é dito que o treinador tem de se adaptar ao elenco e não ao contrário. O que você pensa sobre isso?De uma certa forma, é um pouco de tudo. Primeiro você tem de entender o clube que você vai trabalhar, quais são as características do clube. Isso é um ponto fundamental. Nós trabalhamos num país continental. Cada região tem uma particularidade, cada clube tem uma particularidade. Esse eu acho que é o primeiro ponto que o treinador tem de entender.Depois, você tem o entendimento do elenco que você tem em mãos. Então, de uma certa forma, você tem as suas ideias, você tem o seu modelo de jogo, mas às vezes você não tem os atletas que vão conseguir ofertar aquilo que você gostaria. Então, você tem de ceder um pouco.Agora, ao mesmo tempo, também, dentro daquilo que o profissional pensa e gosta, os atletas acabam tendo de se adaptar. Eu acho que é um pouco de tudo, e você fazer a leitura de uma maneira mais complexa de onde você vai trabalhar e com quem você vai trabalhar para você conseguir trazer para o seu modelo de jogo. O torcedor quer a equipe jogando bem, mas ele quer que a equipe vença. Então, a gente tem que sempre equilibrar.Como você avalia as diferenças regionais do futebol brasileiro e o impacto disso na forma de treinar?É natural, por toda a história que tem, as conquistas que os clubes de Rio e São Paulo obtiveram a nível nacional e internacional, acaba tendo uma atenção maior. O futebol gaúcho também teve grandes conquistas com o Inter e Grêmio, o futebol mineiro, com Cruzeiro e Atlético.Mas o futebol nordestino tem uma contribuição muito grande dentro da história do futebol brasileiro, com grandes jogadores, também com conquistas nacionais. Agora, de um modo geral, nos últimos anos para cá, a percepção que eu tenho por já trabalhar no Nordeste desde 2015… completando 10 anos, a primeira vez que eu vim trabalhar foi em 2015, no Sampaio Correia. A gente tem a percepção dos clubes melhorando muito a sua estrutura.A gente vê o Bahia com essa parceria com o City, o Vitória, que eu estava trabalhando lá, melhorando muito a sua estrutura, o rival aqui também, o Ceará, Sport, que já tem também uma estrutura muito positiva. Então o futebol nordestino está de uma uma certa forma evoluindo.Em relação ao trabalho, eu acho que a globalização hoje do futebol brasileiro vai fazer com que todos os profissionais sejam avaliados em algum momento, tanto de uma forma positiva quanto negativa. Então, a gente passa por um momento em que o futebol brasileiro está trazendo muitos estrangeiros, tanto treinadores quanto atletas. Eu acho que faz parte da globalização do futebol.Veja também1Por que o Brasil não consegue exportar técnicos para a primeira prateleira da Europa?O que você acha que explica a falta de brasileiros treinando na Europa?A gente já teve a época, principalmente ali com Parreira, Zagallo… foi um momento que o mundo árabe acolheu muitos treinadores brasileiros. Na Europa, também o próprio Parreira trabalhou, Vanderlei Luxemburgo, Felipão, Abel Braga.Eu acho que agora a gente está no momento em que aconteceram as conquistas de Jorge Jesus e do Abel Ferreira, que o futebol brasileiro acolheu muitos treinadores estrangeiros. Eu imagino que, daqui a pouco, também esse ciclo vai passar e vai voltar ao futebol o treinador brasileiro. ser valorizado também, quando vier conquistas. A grande referência nossa é uma conquista de Copa do Mundo.O Parreira conquistou a Copa de 1994 e depois foi dirigir o Valencia. O Felipe ganhou a Copa de 2002 e foi dirigir Portugal e o Chelsea. Passa muito por isso, mas a gente precisa sim abrir outros mercados.O André Jardine vem fazendo um trabalho fantástico no futebol mexicano, um baita profissional. Eu acho que o treinador brasileiro carregou muito a culpa desses insucessos da seleção brasileira nos últimos anos. E essa geração nossa, que era o momento de a gente estar aproveitando mais, está sendo um pouco prejudicada nesse sentido.O brasileiro tem mais paciência com o treinador estrangeiro?É, infelizmente é assim. A gente passa por um momento em que, sem ficar como se diz… sem ficar de “mimimi”, né? Mas é um momento em que o torcedor, o dirigente estão com pouca paciência. São três, quatro jogos e, se as coisas não acontecerem, já muda.No ano passado, eu tinha sido campeão brasileiro da Série B, campeão baiano, quatro, cinco jogos e, de repente (demitido do Vitória). Eu acho que talvez, se fosse um estrangeiro, teria um pouquinho mais de paciência. Não sou contra a questão do estrangeiro trabalhar aqui, até porque vários treinadores brasileiros já trabalharam fora, sem problema nenhum, né? Mas é mais a questão do nosso espaço mesmo que está sendo quase ele fechado.Qual a diferença entre o treinador brasileiro e o estrangeiro?Eu acho difícil comparar. Primeiro que esse trabalho de formação de treinador na Uefa já são vários anos em que eles executam cursos na formação do treinador. Aqui a gente tinha de buscar na Educação Física, mas a parte específica do futebol, a disciplina é muito pouco.Então, você, o treinador brasileiro se formava ou na experiência de ex-atleta ou você buscando conhecimento de várias formas. E aí surgiu esse movimento que começou em Minas Gerais, com as pessoas que eu conheço, o Maurício (Pimenta Marques), o Osvaldo (Torres). A formação é parecida, um projeto de formação de treinadores parecido com que era executado lá pela Uefa.As turmas que eu fiz, o modelo, o conteúdo foi muito enriquecedor. Eu fiz em 2015 e 2016 a Licença A, vieram vários profissionais de fora do País que eram instrutores na UEFA. Depois eu fiz, em 2020 e 2021 a Licença Pro.Um dos pontos principais na formação é justamente essa troca de experiência. Na minha segunda turma, estava o Fernando Diníz, o Carillle, perfis diferentes na maneira de trabalhar, mas com a suas experiências.Como você avalia o momento da seleção brasileira?Tudo é um processo. O Tite fez um trabalho longo, eu acho que um bom trabalho. Infelizmente a Copa do Mundo é um jogo eliminatório, um dia, ali foram cinco minutos, e de repente sofreu aquele gol no final (na eliminação contra a Croácia em 2022). É claro que é pautado em resultado, principalmente em relação à seleção brasileira. É Copa do Mundo, tem de ganhar. Se não ganhar, não serve. (A seleção) passou por um processo esperando talvez uma resposta, aí passou o Ramon, o Fernando Diniz… a gente torce muito para que o Dorival seja o nosso treinador na Copa do Mundo. Ele já provou a sua capacidade dirigindo grandes clubes do futebol brasileiro.Por ter uma rodagem maior, é um treinador que eu me espelho na sua maneira de trabalhar. Um treinador que as equipes sempre são muito bem equilibradas. E, nesse momento, a gente está com uma geração interessante de bons jogadores que já estão consolidados no futebol europeu, outros que estão surgindo, como o Estevão. O Raphinha se descobrindo como meia, muito bem no Barcelona. Vinícius Júnior e Rodrygo dispensam comentários. A gente pode, sim, encontrar um caminho, e a seleção conseguir classificar e chegar forte na Copa do Mundo.E, no futuro, você sonha em estar nesse posto também?Olha, xará, com toda a sinceridade, eu procuro assim vivenciar muito onde eu estou trabalhando. Tento fazer o melhor possível que eu sei, e tem sido assim na minha carreira. Já são mais de 20 anos como treinador.Eu trabalhei nas categorias de base do América Mineiro por cinco anos, depois três anos nas categorias de base do Atlético e praticamente uns 15 anos já trabalhando como treinador profissional. Eu sempre procurei fazer o melhor possível onde eu estou estou trabalhando. Tenho certeza que vai me levar a a obter bons resultados e alcançar algo maior.Hoje a minha seleção brasileira é o Ceará. Estou vivenciando aqui de corpo e alma, tentando fazer o melhor possível. A minha razão de viver é isso, é viver o momento aqui, fazer bem feito e que vai me levar a algo maior. É o que a gente espera. O nosso treinador da seleção brasileira estava no Ceará, né? Quem sabe a gente trilha.

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