Degradação ameaça sobrevivência de pescadores e marisqueiras

A degradação ambiental somada ao aumento das temperaturas ameaçam não apenas a biodiversidade, mas também a sobrevivência de pescadores e marisqueiras na Baía de Todos-os-Santos. Eles relatam que, nos últimos anos, a pesca e a coleta de mariscos se tornaram cada vez mais difíceis, colocando em risco o sustento de suas famílias e a economia das comunidades que dependem do mar.“Existe uma série de alterações que a gente, no cotidiano, acaba não sentindo muito. Mas a gente que está na atividade há muito tempo, percebe realmente que há uma mudança nos ritmos da natureza”, explica o biólogo e pescador Pantaleão, coordenador de Pesca Artesanal da Bahia Pesca, empresa pública do Governo do Estado.Um exemplo citado por Pantaleão é a maré de março. “Eram famosas as marés de março porque coincidiam com a chegada das frentes frias. Veja que nós já estamos no meio do mês de março e nada até o momento”, observa. Ele acrescenta: “Os ciclos da natureza eram muito bem definidos. E muitas das atividades de pesca dependiam desses ritmos”.Para o biólogo e pescador, essa desordem tem impacto direto na produtividade de pescadores e marisqueiras. “Quando você tem uma alteração do regime de chuvas, isso impacta na pesca de linha, de rede e também na própria mariscagem”, explica. Ele compara a atividade à agricultura, destacando que os peixes também têm safras. “A gente sabia exatamente quando uma safra de pesca começava e outra terminava, porque os períodos eram bem definidos. Agora, bagunçou tudo”, lamenta.A marisqueira Verônica Farias, que trabalha nas praias do subúrbio, sente diariamente os impactos dessa mudança. “Antigamente, a gente ia para a maré e pegava um, dois baldes de marisco. Hoje em dia, você não pega nem meio”, lamenta. Integrante da Associação Mulheres das Águas, ela ressalta que, mesmo nas chamadas “marés grandes”, a oferta continua escassa. “A gente vai e não acha nada”, desabafa.O presidente da Colônia de Pesca Z-1 (Rio Vermelho), Nilo Garrido, também relata os problemas vividos pela categoria e cita como exemplo a pititinga. “A pititinga é um peixe que a gente usava muito para fazer isca, mas em abril vai fazer um ano que ela sumiu. Pode-se dizer que, na Baía de Todos-os-Santos inteira, não se encontra mais pititinga em lugar nenhum”.Isso vem acontecendo com outras espécies de peixes, conta. Ele, que lava seu barco na Ribeira, lamentou a poluição da praia soteropolitana, localizada dentro da Baía de Todos-os-Santos. “É uma praia lindíssima, mas tem muita sujeira, muito plástico, pedaço de fibra.” Sobre o futuro, Nilo Garrido também não se mostra muito otimista. “Na verdade, quem está acabando com o mundo somos nós, o homem, né? A gente não pode reclamar de muita coisa, não.”
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