A linguagem poética utilizada por Fernanda casa perfeitamente com as obras criadas ao longo da carreira do cantor. Entretanto, a primeira parte da produção é um tanto monótona.Com o tempo, a bajulação exacerbada começa a cansar, de forma que o cantor é colocado numa posição de quase divindade. E não é que Milton não seja digno de todos esses elogios, mas é que suas qualidades como artista já eram conhecidas por qualquer um antes mesmo do documentário.As coisas ficam mais interessantes quando o doc retrata o lado humano de Milton, o lado que o público não conhece. Um homem negro que precisou lidar com as adversidades da sociedade para seguir sua paixão.Um jovem que, mesmo tendo sido reprovado na aula de canto, sempre teve a arte correndo em seu sangue. Poder entender a complexidade de sua carreira é o principal chamativo da produção.Milton Bituca Nascimento é um retrato de um músico sem igual. Apesar de demorar para engatar, o documentário realiza uma retrospectiva emocionante de sua carreira. O ponto alto acontece quando a obra começa a narrar a trajetória do artista no exterior.É muito interessante ver como se desenrolou a relação do artista com o jazz, além de novamente ser levantado o debate se aquilo que Milton produz pode ser ou não considerado jazz. Para além dos rótulos, a influência do carioca por onde ele passa é perceptível, independente de qual tipo de música estamos falando.Uma necessidade vitalUsando e abusando da poesia, o documentário estabelece a música como uma necessidade vital para Milton. Desde sua infância, quando transforma o barulho das ferrovias em ritmo, o jovem Bituca mostrava que precisava da arte para sobreviver.Durante seus momentos mais difíceis, a arte foi sua motivação para continuar seguindo em frente. O documentário aborda a polêmica gerada após Milton ter aparecido extremamente magro por conta da diabetes. Na época, foi especulado que o artista estaria com aids.Os comentários maldosos e a condição física foram duros de se enfrentar, mas o cantor não se deixou derrubar. Conforme o fim da última turnê se aproxima, um clima de tristeza e saudade toma conta do documentário, mas logo é substituído pela sensação de alegria e satisfação em poder revisitar o trabalho de um artista que desperta no público “a estranha mania de ter fé na vida”.
Documentário sobre Milton Nascimento chega aos cinemas; leia a crítica
“Quando você foi embora, fez-se noite em meu viver”. Assim como na sua canção de mesmo nome, o fim da travessia de Milton Nascimento pelo mundo da música foi um tanto quanto melancólico. O artista se aposentou dos palcos em 2022 e deixou um vazio que nunca mais será ocupado. Diferente do final da música Travessia, o público jamais vai querer se esquecer de quem foi Milton Nascimento — se é que isso seja possível.O documentário Milton Bituca Nascimento, que chega nesta quinta-feira (20) aos cinemas, mostra o quão influente foi o trabalho do músico. A produção reúne depoimentos de grandes artistas nacionais e internacionais, como Chico Buarque, Caetano Veloso, Maria Gadú, Gilberto Gil e até o cineasta americano Spike Lee. A narração da história fica por conta de Fernanda Montenegro, que consegue embutir cada palavra com grandes doses de emoção.
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