O intestino como segundo cérebro: a conexão entre alimentação e saúde mental

A nutricionista Thainara Gottardi ressalta a importância da alimentação adequada. Crédito: Arquivo pessoal

A nutricionista Thainara Gottardi ressalta a importância da alimentação adequada. Crédito: Arquivo pessoal

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Pesquisas recentes têm reforçado o papel do intestino como um verdadeiro “segundo cérebro” do corpo humano. Mais do que um órgão responsável pela digestão, ele tem uma relação direta com o sistema nervoso central, influenciando aspectos como humor, cognição e bem-estar emocional.

De acordo com o gastroenterologista Dr. Cristhian Floriano, essa conexão ocorre porque o intestino possui seu próprio sistema nervoso, chamado sistema nervoso entérico, que regula a produção de neurotransmissores e hormônios essenciais. “O intestino está intimamente ligado ao sistema nervoso central e tem um sistema nervoso próprio que influencia nossas emoções e a produção de diversas substâncias que impactam o organismo como um todo”, explica o médico.

A microbiota intestinal, formada por trilhões de bactérias, também desempenha um papel fundamental nessa dinâmica. “O microbioma intestinal é único em cada indivíduo. Diferentes populações de bactérias, como os lactobacilos, podem interferir no funcionamento do intestino, contribuindo para o desenvolvimento de doenças gastrointestinais e afetando a produção de neurotransmissores, o que pode estar associado a transtornos como ansiedade e depressão”, explica Dr. Cristhian.

A nutricionista Thainara Gottardi reforça a importância da alimentação nesse processo. “Nossa microbiota intestinal produz grande parte dos neurotransmissores, como a serotonina, essencial para a regulação do humor. Para isso, é fundamental consumir alimentos que favoreçam a saúde das bactérias benéficas”, afirma.

Entre os alimentos que contribuem para o equilíbrio intestinal, destacam-se os ricos em fibras, prebióticos como a aveia e os que contêm polifenóis, como cacau 100%, chá verde e cúrcuma. Por outro lado, ultraprocessados, frituras, bebidas alcoólicas e alimentos ricos em gorduras trans e açúcar podem causar um desequilíbrio na microbiota, levando à disbiose intestinal. “Esse desequilíbrio pode gerar inflamações, dificultar a absorção de nutrientes e enfraquecer a barreira intestinal”, alerta Thainara.

O estresse também exerce um impacto direto nessa relação entre intestino e cérebro. “Ele interfere tanto na produção de algumas substâncias do organismo quanto na secreção de ácidos digestivos, principalmente no estômago. Isso afeta a população de bactérias intestinais e a absorção de nutrientes”, explica Dr. Cristhian. Ele ressalta que “essa interação ocorre de forma diferente em cada indivíduo, e alguns podem desenvolver doenças gastrointestinais relacionadas ao estresse”.

Thainara complementa: “O estresse crônico pode comprometer a permeabilidade intestinal, favorecendo inflamações e até mesmo o desenvolvimento de doenças autoimunes. Quando isso acontece, é essencial adotar estratégias para reduzi-lo, como alimentação equilibrada, prática de exercícios físicos e atividades que promovam bem-estar”.

Para manter um intestino saudável e, consequentemente, favorecer a saúde mental, os especialistas recomendam uma alimentação equilibrada, hidratação adequada e a redução do consumo de alimentos inflamatórios. “A conexão entre intestino e cérebro pode ser fortalecida por meio de mudanças de hábitos. Ingerir uma quantidade adequada de fibras, manter a hidratação e evitar alimentos que agridam a mucosa intestinal são atitudes que ajudam a preservar esse equilíbrio”, recomenda Dr. Cristhian.

Por fim, o médico especialista enfatiza que este é um tema que tem recebido crescente atenção da comunidade científica. “Nos últimos anos, esse assunto tem sido amplamente estudado, trazendo avanços significativos tanto na neurologia quanto na gastroenterologia. Com esses estudos, conseguimos desenvolver tratamentos e terapias que melhoram a qualidade de vida dos pacientes. Muitas condições que antes não eram compreendidas agora podem ser tratadas com maior eficácia”, finaliza o médico.

 Crosstraining é uma atividade física que ganha um crescente número de adeptos.
Crédito: Freepik
Crosstraining é uma atividade física que ganha um crescente número de adeptos.
Crédito: Freepik

Atividade física colabora para a conexão corpo e mente
Realizar exercícios colabora para a saúde do “segundo cérebro”. O educador físico Bruno Paulo reforça que “a atividade física estimula os músculos do corpo todo, incluindo músculos do sistema digestivo. Isso ajuda a não deixar nada parado no corpo, fazendo com que a gente consiga ir ao banheiro regularmente. Claro, se tiver algum problema gastrointestinal, precisa procurar um especialista”, reforça.

A demora na digestão e no metabolismo é causada pelo sedentarismo, e as consequências afetam o ganho de massa magra e aumentam o risco de infarto, devido ao acúmulo de gordura. O sistema respiratório também sofre prejuízos, pois a inatividade pode tornar a pessoa ofegante em afazeres simples, como subir escadas, ressalta Bruno.

Aliado à vida sedentária está o estresse. Seus problemas vão ainda mais longe, como pontua a psicóloga Suzane Fontana: “Podemos dizer que um dos principais sintomas psicológicos experimentados em situações de reação ao estresse é a ansiedade patológica, prejudicando a saúde mental. Além disso, estudos apontam que o estresse prolongado pode ‘enfraquecer’ o sistema imunológico”.

Ao se deparar com o estressor contínuo, o organismo entra em fase de exaustão. “Nesse momento, é possível observar o aumento da ansiedade e/ou sintomas depressivos. Podem surgir sintomas como tensão muscular, sudorese, palpitação, medos catastróficos, preocupações ruminantes, além de tristeza, desânimo, perda de prazer em atividades que gostava, entre outros”, alerta a psicóloga.

A ansiedade contínua faz com que o indivíduo permaneça em estado de vigília exagerada. Suzane explica que “é como se tudo fosse potencialmente perigoso e ele fica em alerta. Nesse estado, fica difícil manter a qualidade do sono. O sono regular é um dos pilares da saúde física e mental. Estando com problemas no sono, a pessoa aumenta o estresse e o ciclo se acentua”.

Na contramão dos malefícios, está a endorfina, um neurotransmissor liberado em práticas esportivas. Ela é a responsável por gerar sensação de prazer, bem-estar, relaxamento, disposição diária, autoestima e concentração, bem como a redução do estresse. A busca por uma vida equilibrada engloba uma alimentação saudável, atividade física, rotina do sono e boas relações sociais.

O mindfulness, termo designado para a atenção plena, é uma estratégia aliada e comprovada. Estar presente no aqui e no agora, bem como respiração diafragmática, corroboram para o controle da ansiedade. “Incluir Terapia Cognitivo-Comportamental vai utilizar essas e outras técnicas, como resolução de problemas, treino de assertividade, dessensibilização sistemática, treino de exposição, entre outras”, observa a psicóloga.

Toda atividade física traz benefícios para a saúde mental, mas o essencial é encontrar uma modalidade ou um programa de exercícios que proporcione prazer e identificação. O educador físico Bruno Paulo destaca que, no Cross Training, apesar do objetivo principal ser o condicionamento físico geral—desenvolvendo todas as capacidades físicas de maneira equilibrada—, os alunos encontram diferentes motivações dentro da mesma metodologia. “Alguns gostam de competir e treinam duro para isso, outros se sentem estimulados pelo desafio do dia, mas não gostam de competir. Por ser uma aula em grupo, alguns vão pelo prazer de ver os amigos, independentemente do treino, estreitando os vínculos—essa comunidade é um dos nossos principais pilares”, explica o educador físico.

Bruno ressalta ainda que, apesar de a maioria dos treinos serem em alta intensidade, há alunos que estão ali apenas para realizar uma atividade dinâmica, sem preocupação com o ritmo. O que todos compartilham, no entanto, é o prazer em treinar, independentemente do objetivo individual. “Sabemos que cada um tem seus problemas pessoais ou profissionais, e nosso propósito é garantir que o aluno tenha uma experiência positiva na aula. A ideia é que ele saia da nossa academia melhor do que entrou, que deixe seus problemas ali, se sinta relaxado no final do treino e, claro, bem cansado também”, brinca.

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