Gilberto Gil reflete sobre morte e conselho que deu à Preta: “É preciso respeitar o fim”

Aos 82 anos, Gilberto Gil iniciou, em Salvador, sua última turnê, “Tempo Rei”, neste sábado, 15, na Arena Fonte Nova, em Salvador. O show, foi marcado por uma homenagem emocionante do artista a filha Preta Gil, que enfrenta um câncer de intestino, e passou por diversas internações.

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Recentemente, em entrevista ao O Globo, Gil refletiu sobre a finitude, a longevidade e os desafios enfrentados por Preta. Ele chegou a dizer para ela que, se o peso da luta fosse insuportável, poderia ir embora.Para Gil, sua visão sobre a morte foi moldada por experiências pessoais marcantes, como a perda de um filho e a epidemia de AIDS, que levou amigos ainda jovens. “Ter perdido um filho tem a ver com essa compreensão. Assim como ter visto a AIDS devastar parte importante da juventude mundial”, recordou.”Tem a ver, principalmente, com o aprendizado através dos mestres, das filosofias, das religiões, os politeísmos, os monoteísmos no sentido mais rigoroso”, completou.Assim que chegou a Salvador para a apresentação, Gilberto Gil visitou Preta no hospital. A cantora ficou internada na capital baiana por uma semana, logo após o carnaval devido a uma infecção urinária e recebeu alta na sexta-feira, 14. No sábado, ela não deixou de prestigiar o pai na apresentação.Segundo Gil, Preta encontrou na solidariedade uma forma de resistir. “Ela escolheu criar a solidariedade coletiva diante dela, a obrigação de dar satisfações permanentes ao público da sua condição de saúde e receber a satisfação dele. É uma quantidade imensa de pessoas que vêm falar comigo da solidariedade a ela, do desejo que se recupere. Ela se instala nesse campo de exigência individual, mas dentro dessa bacia da vida coletiva brasileira”.Em idade avançada, o ex-ministro da Cultura também refletiu sobre a própria morte e o que ainda pretende fazer na carreira após o encerramento desta última turnê. “Tenho expectativa de viver mais alguns anos. 83 é uma idade avançada, mas não é um limite como já foi”, afirmou, destacando os avanços da medicina e a importância do autocuidado. Apesar da esperança na vida, o artista também aceita a inevitabilidade da morte com serenidade. “A morte faz parte da vida nesse sentido. Aliás, esse é um verso de uma das minhas canções. Nesse sentido, é preciso respeitar o fim. Ter respeito pelo fim das coisas”.Ainda assim, o medo de morrer persiste. “O verbo morrer ainda é um ato humano. A morte, nesse sentido dessa possível expansão infinita que vai se dar depois do último ato de morrer, isso aí não o que vai ser, vai ser o que Deus quiser. Seja feita a vossa vontade, como diz os últimos versos da Ave Maria”.Quando questionado sobre sua espiritualidade, ele afirmou que falar com Deus é um ato consciente. “Falar com Deus é estar vivo. É fruir das linguagens, dos modos de dizer, pensar e compreender. É um exercício permanente”.

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