Cinco anos após pandemia, não é possível tomar vacina da covid na rede particular

Vacinas contra a covid-19 no Brasil estão disponíveis no SUS para grupo prioritário

|  Foto:
Canva

As vacinas contra a covid-19 causaram grande comoção quando surgiram durante a pandemia e, desde então, diferentes farmacêuticas produziram imunizantes que, no Brasil, estão disponíveis no SUS (Sistema Único de Saúde) para um grupo prioritário, mas não em laboratórios privados.Atualmente, os imunizantes disponíveis no Brasil são a Spyevax, da Moderna, que protege contra cepas ômicron do vírus Sars-Cov-2, e a Comirnaty, da Pfizer. Havia também a do Instituto Serum, representado pela farmacêutica Zalika, que estava prevista para continuar sendo usada no esquema vacinal de 2025, mas a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) negou o pedido de atualização.O Programa Nacional de Imunização (PNI) disponibiliza no SUS vacinas para crianças de seis meses a quatro anos, pessoas a partir de 60 anos, indivíduos imunossuprimidos (a partir de seis meses) e pessoas com comorbidades não imunossupressoras (a partir de cinco anos).A primeira vez que a vacina contra a covid foi aplicada no Brasil foi em 17 de janeiro 2021, na enfermeira Mônica Calazans, no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC-FMUSP), em São Paulo. O imunizante utilizado foi a Coronavac, vacina do laboratório chinês Sinovac, produzida no Brasil em parceria com o Instituto Butantan.Antes da inclusão no PNI, a Associação Brasileira das Clínicas de Vacinas (Abcvac) tentou trazer imunizantes para o setor privado, mas sem sucesso. Em 2022, doses da AstraZeneca chegaram a clínicas particulares de São Paulo por R$ 250 a R$ 350, após o fim da Emergência de Saúde Pública de Importância Nacional (Espin). No entanto, a aquisição não prosperou.Segundo Fabiana Funk, presidente do conselho da Abcvac, entre os principais motivos para o insucesso está a apresentação da vacina, que era oferecida em frascos multidoses. “Era preciso reunir entre cinco e dez pessoas para abrir um frasco e evitar desperdício”, explica. “Normalmente, vacinas destinadas ao mercado privado são envasadas unitariamente na dose necessária para cada faixa etária.”Outro fator foi o preço. Segundo Funk, a vacina chegou ao setor privado com um valor “astronômico”, o que inviabilizou sua aplicação e comercialização. Além disso, o prazo de validade era curto, e apenas algumas clínicas no Brasil tiveram condições financeiras de adquiri-la.Desde então, nenhuma outra vacina contra a covid-19 foi oferecida na rede particular. “Continuamos abertos a negociações”, afirma Funk.A AstraZeneca descontinuou a produção da vacina Vaxzevria. “Como foram desenvolvidas múltiplas vacinas contra variantes da covid-19, há um excedente de doses atualizadas disponíveis. Isso levou a uma queda na demanda pela Vaxzevria, que não é mais fabricada nem distribuída”, informou a empresa em nota.Em junho de 2024, a Johnson & Johnson anunciou a descontinuação local da distribuição de sua vacina contra a Covid-19, conhecida como Janssen. Segundo a empresa, a decisão faz parte de sua estratégia comercial e não tem relação com a segurança ou eficácia do imunizante.Em agosto de 2024, durante um evento da Pfizer, a farmacêutica apresentou informações sobre a Comirnaty, mas sem previsão de entrada na rede privada.A Pfizer afirmou que trabalha no planejamento para fornecimento da vacina ao setor privado, em uma nova apresentação envasada em seringa de vidro preenchida, que dispensa ultracongelamento. O armazenamento recomendado para longo prazo é de 2ºC a 8ºC.O pedido foi submetido à Anvisa em 2024 e está em análise, com previsão de conclusão em breve. A farmacêutica também aguarda a atualização de preço na Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (CMED).Isabella Ballalai, diretora da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), destaca que a vacinação é sempre uma questão de custo-benefício. “Não se vê um custo-benefício de saúde pública na vacinação de toda a população, especialmente considerando a adesão atual”, afirma.Para a médica, o cenário hoje é mais tranquilo, já que a epidemia perdeu força e a circulação do vírus é menor entre pessoas previamente infectadas ou vacinadas. Além disso, a doença tem se manifestado de forma mais branda, apesar de suas variações.Renato Kfouri, presidente do departamento científico de imunizações da SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria), afirma que o mercado privado de vacinas contra a covid-19 ainda é pouco explorado. “O imaginário de que essas vacinas poderiam estar disponíveis para todos é recente”, diz. Segundo ele, é necessário criar a cultura de vacinação contínua, como ocorre com a gripe.Para o médico, a imunização da covid-19 ainda precisa ser cultivada entre a população, já que a vacinação era considerada um bem público. Ele afirma que as pessoas precisam ter o hábito de se vacinar não para prevenir mortes, mas para evitar uma falta no trabalho ou a transmissão da doença, como acontece com a Influenza, cujas vacinas fazem parte do Calendário Nacional de Vacinação e também estão disponíveis na rede privada.”O serviço privado de vacinação é complementar ao PNI. Seria um privilégio poder auxiliar o Ministério da Saúde no aumento da cobertura vacinal contra a Covid-19 também no setor privado”, conclui Funk.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.