Médico alerta para os perigos silenciosos do sedentarismo





 

 

 

Inatividade física aumenta o risco de doenças cardiovasculares, metabólicas e neurológicas, mas pode ser combatida com pequenas mudanças na rotina.

A falta de exercício é um dos principais fatores de risco para doenças graves e pode reduzir a expectativa de vida. Segundo o cardiologista e professor do IDOMED, Mauricio Felippi de Sá Marchi, não se movimentar o suficiente pode levar a problemas cardíacos sérios, como pressão alta (hipertensão), doença arterial coronariana e insuficiência cardíaca.

“Estudos epidemiológicos demonstram que a inatividade física está relacionada a um aumento da morbimortalidade geral (maior risco de adoecimento e morte) e favorece o surgimento de condições como resistência à insulina, diabetes tipo 2, colesterol alto, obesidade e síndrome metabólica”, destaca o especialista. A resistência à insulina pode levar ao desenvolvimento do diabetes tipo 2. A síndrome metabólica, por sua vez, é um conjunto de fatores de risco — incluindo obesidade abdominal, hipertensão, colesterol desregulado e açúcar elevado no sangue — que aumentam as chances de doenças cardiovasculares.

Além disso, o sedentarismo tem forte relação com o desenvolvimento de alguns tipos de câncer, especialmente no intestino (cólon) e nas mamas. A falta de atividades também afeta a saúde mental, podendo agravar quadros de ansiedade e depressão e até acelerar o declínio das funções cerebrais, aumentando o risco de demência. “O sedentarismo reduz a capacidade cardiorrespiratória, comprometendo a eficiência do débito cardíaco e elevando o risco de mortalidade cardiovascular”, explica o cardiologista. Isso significa que o coração perde força para bombear sangue e oxigênio para o corpo, o que pode levar a doenças mais graves.

A falta de atividade física também prejudica a saúde dos vasos sanguíneos, dificultando a dilatação das artérias e reduzindo a disponibilidade de óxido nítrico, uma substância essencial para manter a circulação saudável. Esse cenário favorece o desenvolvimento da aterosclerose, doença caracterizada pelo acúmulo de placas de gordura nas paredes das artérias, que pode levar a infartos e derrames. “O aumento da inflamação no organismo e do estresse oxidativo contribui para a instabilidade dessas placas de gordura, tornando o organismo mais vulnerável a eventos cardiovasculares graves”. Outro fator preocupante é o enrijecimento das artérias e o desequilíbrio no sistema nervoso autônomo, que regula funções involuntárias do corpo, como os batimentos cardíacos. Essas alterações aumentam o risco de arritmias (batimentos irregulares do coração) e insuficiência cardíaca.

Os efeitos da inatividade vão além do coração. “No sistema metabólico, o sedentarismo induz resistência à insulina, acúmulo de gordura visceral (aquela que se deposita em volta dos órgãos internos) e desregulação da homeostase glicêmica, aumentando o risco de diabetes tipo 2”, afirma Marchi. A falta de movimento também afeta os músculos e os ossos. “No sistema musculoesquelético, o sedentarismo reduz a síntese proteica muscular, acelerando a sarcopenia (perda de massa muscular) e favorecendo o desenvolvimento da osteoporose (doença que enfraquece os ossos)”, explica o especialista. Já no sistema nervoso, a inatividade compromete a circulação sanguínea no cérebro e reduz a capacidade de adaptação das conexões neurais, o que pode prejudicar a memória e aumentar o risco de doenças neurodegenerativas, como o Alzheimer. Além disso, a falta de exercício está diretamente associada a um maior risco de ansiedade e depressão.

Outro ponto de atenção é o impacto no sistema imunológico. “A inatividade contribui para um estado inflamatório crônico de baixo grau, reduzindo a eficácia da resposta imune”, alerta Marchi. Isso significa que o corpo pode ter mais dificuldade para se defender de infecções e outras doenças. Pesquisas indicam que a inatividade física pode ser tão prejudicial quanto o cigarro e a má alimentação. “Um estudo publicado no The Lancet estimou que a inatividade física é responsável por aproximadamente 9% das mortes prematuras globalmente, um impacto comparável ao do tabagismo”, alerta o cardiologista. Ele também menciona pesquisas que mostram que indivíduos com baixa aptidão cardiorrespiratória apresentam um risco de mortalidade similar ao de pessoas com obesidade e colesterol alto. “Assim como o tabagismo e a má alimentação, o sedentarismo frequentemente coexiste com outros fatores de risco, potencializando seus efeitos deletérios”, destaca.

Para reduzir os danos da inatividade, a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda pelo menos 150 minutos semanais de atividade aeróbica moderada, como caminhadas rápidas ou ciclismo leve, ou 75 minutos de exercício intenso, como corrida ou treinos de alta intensidade. “Além disso, o treinamento de força para grandes grupos musculares pelo menos duas vezes por semana também é essencial”, enfatiza Marchi. Mesmo pequenas quantidades de exercício já trazem benefícios. “Um ensaio publicado no JAMA Internal Medicine mostrou que a mortalidade foi reduzida em 20% entre indivíduos que praticavam apenas metade da recomendação mínima semanal de exercício”, aponta.

Para quem tem uma rotina corrida, o especialista sugere estratégias simples para se movimentar mais. “Sessões curtas de 10 minutos ao longo do dia podem ser eficazes para melhorar a saúde cardiovascular”, recomenda. Caminhar ou pedalar para deslocamentos curtos e trocar o elevador pelas escadas são formas acessíveis de incorporar atividade física no dia a dia. “Os treinos de alta intensidade, conhecidos como HIIT, também são uma excelente opção, pois promovem benefícios cardiovasculares semelhantes aos do exercício contínuo de maior duração”, explica. Outra dica é evitar longos períodos sentado. “O uso de mesas elevadas e pausas frequentes para alongamentos e caminhadas ajudam a mitigar os efeitos negativos do sedentarismo prolongado”, finaliza. O sedentarismo é um risco silencioso, mas pode ser combatido com mudanças simples na rotina. Pequenas atitudes diárias fazem a diferença na prevenção de doenças e na promoção da qualidade de vida, reforçando a importância do movimento como um dos principais aliados da saúde.


Márcia Oliveira – Jornalista

 

 

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