Cientistas mantêm olhos de voluntários abertos no sono para analisar as pupilas

Por mais que o sono seja considerado um importante momento de descanso e de reposição de energia, isso não quer dizer que o corpo está de fato “desligado” durante a noite. Na verdade, mesmo em estado de repouso, o cérebro permanece surpreendentemente ativo – e um novo estudo sugere que mais coisas podem estar acontecendo por trás das pálpebras fechadas do que se imaginava anteriormente.

Em testes, uma equipe de investigadores do Instituto Federal de Tecnologia de Zurique (ETHZ), na Suíça, verificou que o tamanho da pupila flutua constantemente durante o sono. Às vezes, ela aumenta, e em outros diminui, em um processo que pode durar poucos segundos ou vários minutos.

“Tais dinâmicas refletem o estado de excitação, ou o nível de ativação cerebral em regiões que são responsáveis pela regulação do sono-vigília”, explica Caroline Lustenberger, coautora do estudo, em comunicado. “Nossas observações contradizem uma suposição anterior, que dizia que o nível de excitação durante o sono era essencialmente baixo”.

As flutuações no tamanho da pupila mostram que, mesmo durante o sono, o cérebro alterna entre um nível mais alto e mais baixo de ativação. Os resultados encontrados foram detalhados em um artigo científico publicado no dia 28 de fevereiro dentro da revista Nature Communications.

Novo método para um velho mistério

A “locus coeruleus”, a região do cérebro que controla o nível de ativação está situada nas profundezas do tronco cerebral. Isso dificulta medir diretamente esses processos em humanos durante o sono.

Por isso, o estudo dos pesquisadores do ETHZ dependeu de medições da pupila. Conhecidas por indicar o nível de ativação quando uma pessoa está acordada, elas também podem ser usadas como marcadores para a atividade em regiões situadas mais profundamente dentro do cérebro.

Entender a dinâmica da pupila durante o sono também pode fornecer insights importantes para o diagnóstico e tratamento de distúrbios do sono e outras doenças, como insônia, transtorno de estresse pós-traumático e possivelmente Alzheimer.

Um outro objetivo é tornar a tecnologia utilizável fora dos laboratórios do sono, como em hospitais, onde ela poderia ajudar a monitorar o despertar de pacientes em coma ou a diagnosticar distúrbios do sono com mais precisão. A pupila como uma “janela” para o cérebro poderia abrir caminho para novas oportunidades na medicina do sono e na neurociência.

Limitações do estudo

Apesar dos resultados promissores, a pesquisa não conseguiu confirmar se a região cerebral locus coeruleus é de fato diretamente responsável pelas alterações da pupila. “Estamos simplesmente observando alterações da pupila que estão relacionadas ao nível de ativação cerebral e atividade cardíaca”, reitera Lustenberger.

Em um estudo de acompanhamento, os pesquisadores tentarão influenciar a atividade da locus coeruleus usando medicamentos, para que possam investigar como isso afeta a dinâmica da pupila. Eles esperam descobrir se essa região do cérebro é de fato responsável por controlar as pupilas durante o sono, e como as mudanças no nível de ativação afetam o sono e suas funções.

 
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