Centrão pressiona, mas Bolsonaro insiste em candidatura

 
Por Bianca Gomes e Pedro Augusto Figueiredo:
 

“Aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) têm demonstrado incômodo com a pressão de caciques políticos e do mercado financeiro para que ele endosse o nome do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) como seu candidato ao Palácio do Planalto em 2026.

 

No início da semana, em entrevista ao portal Leo Dias, Bolsonaro foi categórico ao responder sobre um substituto: ‘o sucessor sou eu’, disse ele. Dias depois, à Jovem Pan, ele reiterou que não escolheu nenhum nome e que só o fará ‘depois de morto’.

Fábio  Wajngarten, aliado de primeira ordem de Bolsonaro, compartilhou nesta semana uma publicação ironizando a campanha de empresários da Faria Lima por Tarcísio. “Quantos votos a Faria Lima tem para definir um sucessor?”, diz o post retuitado por Wajngarten no X.

 

Na mesma linha, o presidente do Republicanos, deputado federal Marcos Pereira (SP), afirmou: ‘O ideal é ele decidir até dezembro para que tenhamos tempo de organizar o campo da centro-direita’.

O temor de dirigentes partidários é que Bolsonaro siga a estratégia de Lula em 2018: mantenha sua pré-candidatura até o limite do prazo legal e, na última hora, lance alguém de sua família, como Eduardo Bolsonaro (PL) ou a ex-primeira-dama Michele Bolsonaro (PL). Os partidos de centro-direita rejeitam embarcar em uma candidatura que tenha um familiar de Bolsonaro como cabeça de chapa.

A chapa mais competitiva na avaliação do Centrão é Tarcísio como candidato e Michelle vice. Bolsonaristas, contudo, rechaçam a possibilidade e dizem que a ex-primeira-dama será candidata ao Senado pelo Distrito Federal.

“Por pesquisa e trabalho técnico, essa seria a chapa ideal para a realidade política atual. O que falta saber é se será a chapa de Jair Bolsonaro. Eleitoralmente, Michelle Bolsonaro é o nome mais forte da direita depois dele. Ela representa o bolsonarismo, é mulher e evangélica. Tarcísio de Freitas, por outro lado, é o candidato de centro-direita com maior capacidade de agregar partidos. É improvável que legendas como MDB e PSD se unam a uma chapa de centro-direita sem ele, mas com Tarcísio, essa possibilidade se torna real”, diz Murilo Hidalgo, sócio da Paraná Pesquisas.

 

A mais nova estratégia para manter viva a esperança de que Bolsonaro ainda possa reverter sua inelegibilidade e disputar em 2026 é reforçar a ideia de que o cenário internacional pode influenciar seu futuro político. Bolsonaristas dizem que a ofensiva do governo Donald Trump contra o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), é um indício de que os Estados Unidos podem intervir no processo político brasileiro e mudar o jogo a favor do ex-presidente.

Quem encabeça esse movimento é Eduardo Bolsonaro, que tem feito um périplo pelos EUA para denunciar a suposta perseguição do Judiciário brasileiro ao seu pai e tentar convencer políticos conservadores e aliados de Trump a agirem para reverter a situação.

Entre os pedidos, estão que o atual governo norte-americano ajude a expor uma suposta interferência dos EUA nas eleições brasileiras, pressione por eleições em que a “oposição pode concorrer”, em uma alusão à reversão da inelegibilidade de Bolsonaro, e utilizem ferramentas diplomáticas para responsabilizar agentes públicos que, de acordo com os bolsonaristas, cometeram violações contra a democracia.

O líder do PT na Câmara dos Deputados, Lindbegh Farias (PT), pediu que a Procuradoria-Geral da República investigue o deputado por crimes contra a soberania e as instituições brasileiras. O petista argumentou que Eduardo “patrocina retaliações” contra o Brasil e Moraes.

Uma comissão da Câmara dos Representantes norte-americana, o equivalente à Câmara dos Deputados brasileira, aprovou projeto de lei para barrar a entrada do ministro do STF no país.. O texto prevê que autoridades estrangeiras que atuarem contra liberdade de expressão de cidadãos americanos sejam impedidas de entrar nos Estados Unidos ou possam ser deportadas. Moraes não é citado no projeto, mas os parlamentares que assinam a proposta já criticaram decisões dele.

No mesmo dia, o Departamento de Estado dos Estados Unidos criticou o bloqueio de redes sociais norte-americanas pelo Brasil, classificando as decisões como ‘censura’. O órgão disse que tais ações são ‘incompatíveis com os valores democráticos’.

Apesar de também não ter citado nominalmente o ministro Alexandre de Moraes, a declaração foi vista como uma indireta ao magistrado, que suspendeu a plataforma Rumble no Brasil por não indicar um representante legal no País. Ele havia determinado o bloqueio do canal do blogueiro Allan dos Santos, que é considerado foragido pela Justiça brasileira e vive nos EUA, mas não conseguiu notificar a plataforma.

 O Itamaraty respondeu em um comunicado no qual acusa o governo Trump de tentar politizar decisões judiciais e diz que o Departamento de Estado ‘distorce os sentidos’ das decisões do STF, que têm como objetivo assegurar a aplicação da legislação brasileira em território nacional. Moraes foi processado nos Estados Unidos pela Rumble e pela Trump Media, empresa ligada a Donald Trump, que o acusam de violar a soberania americana ao determinar a suspensão da conta de Santos na plataforma.”

 
 
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