Cientistas alertam para a crescente presença do peixe-leão no RN, com 300 registros

O peixe-leão (Pterois volitans), espécie invasora que chegou ao Brasil em 2020, foi avistado no litoral do Rio Grande do Norte pela primeira vez em 2022. Desde então, cerca de 300 peixes-leão já foram visualizados em territórios do estado, segundo informações da Ufersa e do ICMBio. Esse animal representa uma ameaça para a biodiversidade local e é estudado em diversas instituições de pesquisa.

A Universidade Federal Rural do Semi-Árido (Ufersa) faz um trabalho de captura desses animais para estudá-los, enquanto o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) administra as unidades de conservação federais – no RN, o Atol das Rocas.

Esses quase 300 animais, segundo a professora da Ufersa Emanuelle Fontenele, devem ser apenas uma pequena parcela dos que ainda não foram visualizados. “Estamos com muitos animais para estudo que não foram catalogados ainda […] Os que estão em ambiente natural podem ser 100 vezes mais que isso”, afirma.

Ufersa realiza estudos com peixes-leão – Foto: arquivo/Emanuelle Fontenele

No Atol das Rocas, foram avistados e capturados apenas dois peixes-leão nos últimos dois anos: um em abril de 2023 e outro em março de 2024. A assessoria de imprensa do ICMBio informa que o instituto monitora a unidade continuamente, não só na parte rasa, mas até 100 metros.

Já a Ufersa desenvolve atividades de conscientização sobre o peixe-leão junto aos pescadores locais, por meio de palestras e capacitações.

A professora Liana Mendes, do Departamento de Ecologia da Universidade Federal do RN (UFRN), conta que os primeiros registros dessa espécie no Brasil ocorreram na foz do Rio Amazonas e em Fernando de Noronha, em 2020. 

“Os registros na costa do RN provavelmente têm a ver com a dispersão proveniente da costa norte do Brasil”, diz ela.

Esse peixe já chegou a diversos estados brasileiros desde sua primeira aparição e ameaça chegar ao Sul do país. De acordo com informações da Folha de S.Paulo, “quando o peixe-leão chegou ao Rio Grande do Norte, entrou em uma corrente marítima que flui para o Sul, ocupando os espaços mais rapidamente do que antes”.

Espécie representa riscos

Segundo Liana Mendes, o peixe-leão se reproduz algumas vezes ao longo do ano e se alimenta de outros peixes, inclusive aqueles de interesse comercial. No período de reprodução, a espécie pode botar até 30 mil ovos. 

“Eles comem até 20 peixes por hora e peixes de quase seu tamanho, ou seja, impactam a diversidade de peixes de forma geral, tanto em termos ecológicos como econômicos”, pontua.

Considerados belos por seu corpo com diversas espinhas, eles também são perigosos. Nesses espinhos (raios das nadadeiras), explica a professora, há um veneno que pode causar acidentes se o animal for manipulado, “causando inchaço, tontura e febre. É fundamental buscar auxílio médico”.

Ao avistar um desses animais, as pessoas devem entrar em contato com o ICMBio ou o Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente (Idema). Tais órgãos ambientais irão recolher os peixes e encaminhá-los para pesquisas.

RN registrou mais de 300 representantes da espécie – Vídeo: arquivo/Emanuelle Fontenele

A UFRN, segundo a professora, tem duas pesquisas recentes sobre a espécie, ambas realizadas no Arquipélago de Fernando de Noronha, onde a espécie está bem estabelecida. Atualmente, ela orienta o doutorado de Clara Buck e o mestrado de Ariston Pereira.

“As pesquisas [da UFRN] enfocam alimentação e seletividade, taxa de ocupação (colonização), mapeamento, impacto sobre pequenos peixes recifais dentre outros aspectos ecológicos e estratégias de manejo”.

Além disso, outros grupos de pesquisa Brasil afora vêm estudando esse peixe, investigando aspectos como dieta, taxa populacional, tamanho, viabilidade alimentar, estrutura de crescimento, mapeamento e ocupação.

Brasil: mais de 1600 peixes-leão capturados

Liana Mendes foi uma das pesquisadoras presentes no simpósio sobre o peixe-leão que ocorreu no XXV Encontro Brasileiro de Ictiologia, em Palmas (TO), em 2025, e contribuiu com um estudo sobre o mergulho científico e o manejo do peixe-leão no Arquipélago de Fernando de Noronha.

O resumo traz os impactos negativos na biodiversidade e em setores econômicos como a pesca e o turismo que esse peixe representa.

“No Brasil, entre 2020 e 2024, foi estimado a captura de 1.600 peixes-leão em 4.000 km de costa, incluindo ilhas oceânicas e áreas marinhas protegidas (AMPs), gerando crescentes apreensões”, diz trecho do estudo.

Além disso, o resumo explica que o desenvolvimento de uma rede de mergulhadores capacitados e articulados pode contribuir na detecção precoce, manejo e destinação de peixes-leão para a pesquisa e reduzir os riscos de acidente

“A pesca seletiva do peixe-leão é considerada em muitos países como a única ferramenta eficiente na redução dos impactos causados pela sua invasão, contudo devido a presença [de] espinhos peçonhentos, acidentes dolorosos são frequentes”, traz o estudo. 

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