O sorriso do Brasil

Coincidiu o auge do Carnaval, momento máximo de alegria coletiva, com a ampliação da festa pela conquista do título mundial do Cinema, o “Oscar”, pelo filme brasileiro “Ainda estou aqui”.Formou nosso time com Walter Salles, diretor, as Fernandas, Montenegro (mãe) e Torres (filha); o ator Selton Mello, entre outros titulares das artes cênicas, uma seleção jogando certo pela metamorfose.Sai o país do povo distraído; entra uma nação esperta para lembrar de si mesma, recuperando antiga tradição, por meio da qual verdade e memória são um só e mesmo jeito de rebrilhar o mundo, ao espantar o breu.O “insight” veio de Walter Salles, ao destacar, como perigo para democracias, o apagamento da história por projetos extremistas com uso nocivo de tecnologias.Mesmo nos Estados Unidos, referência hoje vacilante em direitos humanos, 750 salas aplaudiram a película, reverenciada em Veneza, no Globo de Ouro e outras tantas premiações.Chega em hora encantada o laurel, no instante preciso no qual o Poder Judiciário está prestes a ajustar erros, sentenciando herdeiros dos escroques do tempo quando Rubens Paiva foi arrancado de seu lar.O enredo acende a lembrança do terrorismo de Estado e seus sabujos sequestradores, torturadores e “ultra” assassinos, tendo como núcleo central o sofrimento da família Paiva, ao privar-se do corpo do deputado. O cadáver jamais foi encontrado: não ficou perdido seu legado altruísta e voltado para o bem.Eunice Paiva, sua mulher, poderia ter escolhido ser uma fraca. Preferiu o exemplo de Antígona, fundadora da justiça, ao lutar por sepultar seu irmão, Polinice, no século V a.C.Eunice tentou sem êxito dar sepulcro ao marido, mas talvez de sua luta heroica a semente mais valiosa tenha sido outra: a certeza de vencer os maus quando se tem o alicerce do amor e da coragem.A vitória final, no filme e na vida, veio na frase da personagem encenada pela magistral Fernanda Torres, ao reunir em foto a prole sofrida.– Nós vamos sorrir. Sorriam.Vamos sorrir, Brasil.
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