Febre amarela e dengue causam quadros de hepatite; entenda

Com o aumento de casos de dengue e a febre amarela, os cuidados precisam ser intensificados. Em comum, um dos órgãos afetados pelas doenças é o fígado: o paciente pode desenvolver uma hepatite que, nos casos graves, é fulminante. Nas outras arboviroses, como chikungunya e zika vírus, o acometimento é menos comum.O vetor da dengue é o Aedes aegypti. Na febre amarela silvestre, os responsáveis pela transmissão da doença são os mosquitos dos gêneros haemagogus e sabethes.De acordo com Marcelo Neubauer, infectologista e professor da PUC (Pontifícia Universidade Católica) de Campinas, na dengue, o fígado é acometido em níveis de gravidade maior ou menor. Geralmente, é leve e sem importância clínica, a não ser que a doença tenha evoluído para a forma grave.”Inclusive uma das gêneses da forma hemorrágica da dengue, além de uma doença vascular, você tem uma doença hepática também, porque os fatores de coagulação são produzidos pelo fígado e se houver uma lesão um pouco mais séria, você vai ter uma perda desses fatores. Mas é transitório. Normalmente, na dengue, a hepatite não deixa sequelas. Só na dengue grave”, afirma o infectologista.Marcio Almeida, coordenador de Hepatologia da Rede D’Or São Paulo, explica que na dengue há uma ativação do sistema imune do paciente que, na tentativa de matar o vírus, afeta alguns órgãos, inclusive o fígado.O outro mecanismo é a falta de oxigênio no fígado devido ao extravasamento de líquidos e queda da pressão. “O indivíduo acaba entrando em choque. A pressão baixa e muitas vezes ele necessita de drogas para mantê-la alta. Isso diminui o aporte de oxigênio para os órgãos, no caso, o fígado”, diz Almeida.Na febre amarela, a complicação é maior. O vírus invade o órgão, onde se replica, e destrói as células hepáticas. O risco é de hepatite fulminante e morte.”TGO e TGP são duas substâncias que estão dentro da célula do fígado. Quando a célula é destruída, essa substância é eliminada na circulação. Ao colher o sangue, a gente vê que a quantidade dessa substância aumentou”, afirma Neubauer.”Em uma pessoa saudável, eu espero que a TGO e a TGP estejam até mais ou menos 50 unidades. Na dengue, mesmo nas formas mais graves, vai a 300, 400. Agora, na febre amarela, vai a 5, 6, 7 mil. Ela sobe e de repente cai de uma vez no momento em que o paciente não tem mais fígado para ser destruído”, explica Neubauer.Quando a hepatite é reversível -mais comum na dengue- a recuperação se dá em algumas semanas. Na febre amarela, o risco de complicação é maior. Em 2025, 13 pessoas morreram de febre amarela no estado de São Paulo.”No último surto, chegamos até a ter casos de indicação de transplante. Juntamos os dados nacionais e o resultado foi catastrófico. Por se tratar de uma doença que o vírus está no corpo inteiro, para alguns pacientes, o que chama mais atenção é a manifestação hepática. O quadro é uma hepatite fulminante. Tentamos fazer o transplante em alguns casos, mas, na maioria deles, o vírus -como ainda estava circulante- destruía o fígado transplantado”, comenta o hepatologista.SINTOMAS E SINAIS DE ALARME NA DENGUE E FEBRE AMARELAFebre alta (acima de 38º e de início repentino), prostração, mal-estar, manchas vermelhas pelo corpo, dores musculares, nas articulações, de cabeça e atrás dos olhos são os principais sintomas da dengue.Os sinais de alarme para a gravidade são dor abdominal intensa e contínua, vômitos persistentes, acúmulo de líquidos em cavidades corporais (ascite, derrame pleural, derrame pericárdico), hipotensão postural (queda da pressão arterial ao levantar-se da posição sentada ou deitada), sensação de desmaio, letargia e/ou irritabilidade, aumento do tamanho do fígado, sangramento de mucosa e aumento progressivo do hematócrito.Na febre amarela, os sintomas são febre súbita, calafrios, dor de cabeça intensa, dores musculares e no corpo em geral, náuseas e vômitos, fadiga e fraqueza. Segundo o Ministério da Saúde, 15% dos pacientes, em média, apresentam um breve período de horas a um dia sem sintomas e depois desenvolvem a forma grave da doença.No agravamento do quadro pode ocorrer febre alta, hemorragia, pele e olhos amarelados (icterícia), choque e insuficiência de múltiplos órgãos. O índice de morte varia de 20% a 50%.
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