Ameaça: carcinicultura e salinas podem triplicar área sobre manguezais

Nos últimos 24 anos, o avanço das atividades de extração de sal e carcinicultura reduziram em 6% a área dos manguezais no Nordeste. Os dados fazem parte de um estudo que revela, ainda, que nos próximos 20 anos essas mesmas atividades podem triplicar seu tamanho sobre as áreas de manguezais.

Esse impacto no serviço de carbono azul dos manguezais pode implicar numa perda de mais de 300 milhões de dólares até 2050”, alerta Nadia Selene, primeira autora do estudo que conta com a contribuição do professor Venerando Eustáquio, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).

O carbono azul é o carbono capturado da atmosfera e armazenado nos ecossistemas costeiros e marinhos, que atuam como florestas.

Para a pesquisa, que foi publicada na revista Estuarine, Coastal and Shelf Science, foram analisados os dados de um período de 24 anos, que vai de 1999 a 2023.

Temos um cenário de avanço do uso do solo, especialmente, pela carcinicultura e exploração de sal, apesar dessa última atividade estar sendo reduzida aos poucos. Isso afeta os manguezais em nível mundial. Esse estudo é importante para chamar atenção para as políticas de manejo de uso do solo”, revela Nadia.

Mas, além de analisar como a carcinicultura e a extração salineira já avançaram sobre os manguezais, os pesquisadores, que são todos da UFRN, também calcularam quanto essas atividades podem ocupar áreas de manguezais no futuro, através de uma projeção que vai de 2023 a 2050.

“Em 27 anos o uso do solo pela carcinicultura e salinas poderá ocupar até 75% da cobertura de manguezal. Se continuarmos nas mesmas taxas de avanço do uso de solo sobre manguezal, vamos acabar com a atividade do carbono azul, que sequestra e estoca carbono atmosférico. Esse é um serviço muito importante porque isso permite a mitigação de mudanças climáticas e seus efeitos, como aumento do nível do mar”, explica a pesquisadora.

Autores são todos da UFRN

Os resultados ressaltam a dinâmica dos serviços de carbono azul nos manguezais brasileiros e enfatizam a necessidade urgente de medidas de proteção e restrições para evitar a expansão de usos de terra de alto impacto nesses ecossistemas críticos”, acrescenta Venerando Eustáquio, professor de Engenharia Civil e Ambiental da UFRN.

Para dimensionar as perdas econômicas nas quais a destruição dos manguezais podem resultar, os pesquisadores atribuíram valores econômicos ao serviço prestado pelo ecossistema. “Uma previsão para 2050 é que a área de manguezal pode valer 8 mil dólares por hectare ao ano. Muitas vezes subestimamos o valor da floresta, mas ela não fornece só carbono azul, há muitos outros serviços, como pesca (20 milhões de dólares por ano), além de outros benefícios, como proteção costeira, porque com o aumento de nível do mar os manguezais servem como barreira protetora da costa”, defende Nadia.

Os pesquisadores ressaltam que, apesar dos dados já serem preocupantes, eles são referentes apenas a duas atividades econômicas e que o impacto causado pelo ser humano sobre os manguezais pode ser muito maior, devido outros tipos de atividades.

Avaliamos apenas duas atividades, mas tem outras, como construção de aerogeradores e a indústria petrolífera, sem esquecermos do cenário de mudança climática e aumento do nível do mar, que causam impactos como deslocamentos, mudanças de paisagens e estreitamento áreas de expansão. É importante considerar esses pontos na hora de licenciar atividades e empreendimentos”, orienta Nadia Selene.

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