UFRN divulga nome civil de pessoas trans após problema em sistema

Há alguns dias, pessoas trans que passaram por transição e mudaram de nome têm se sentido ameaçadas diante de vazamentos dos nomes civis, que não são mais usados socialmente, no sistema eletrônico utilizado pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).

As pessoas estão com medo. Esses nomes vão parar na lista de participantes de eventos, em chamadas, na lista dos professores. Recentemente várias pessoas que participaram em banca da Comperve tiveram o nome morto divulgado e não o social”, denuncia Olive Medeiros, formada em Direito e bacharelanda em Tecnologia da Informação (TI).

Os estudantes tiveram uma reunião com a STI, mas não ficaram satisfeitos com o resultado do encontro porque, ao contrário do esperado, a Superintendência não deu garantias de que o problema não se repetiria.

Disseram que ia continuar ocorrendo porque o Sigaa era muito grande e que era muito difícil mexer nisso. Alguém apagou o nome social das pessoas no sistema. A exposição da pessoa trans a situações vexatórias e humilhantes, pelo nosso mapeamento interno, é o que mais faz as pessoas se evadirem. Poucas conseguem entrar na universidade e menos ainda concluem e, aquelas que evadem, é por conta de exposições como essa, pelo preconceito e discriminação. A universidade, ao invés de ser aquela que protege essas pessoas, que fornece ferramentas para que essa pessoa siga na universidade, dessa forma que tem feito, vai ser um agente que faz o oposto disso, que favorece que situações como essas ocorram”, lamenta a estudante..

Ao preencher o formulário de matrícula, entre outros, o estudante que ingressa na UFRN tem a opção de colocar o nome que deseja utilizar socialmente.

Se a universidade se dispõe a fazer esse tipo de política, não pode ocorrer esse tipo de falha. Imagine a vergonha e humilhação de ter seu nome anterior exposto! O setor de TI disse que não valia a pena resolver isso, que dava muito trabalho. Hoje aconteceu a mesma coisa, já até fizemos denúncias na Ouvidoria. O medo é que isso ocorra no período de aulas e as pessoas passem a ter acesso a esse tipo de informação”, relata Olive.

Para quem passou pelo processo de transição, revelar o antigo nome pode despertar gatilhos e servir de pretexto para a prática de bullying, por isso, existe a opção do nome social, que é o nome pelo qual a pessoa quer ser chamada.

As pessoas não têm acesso a essa informação. Quem passou por transição apaga contas antigas, deleta, esse é um processo social difícil de enfrentar, é algo que mexe muito com a cabeça de quem passou pelo processo de transição. Quando se trabalha com dados, isso não fica disponível. É preocupante e mesmo que resolva rápido, há um período de exposição”, aponta a estudante universitária.

A primeira vez que o problema ocorreu, o nome civil de uma aluna foi divulgado na sexta, mas a correção só foi feita na terça.

Conseguimos ter um diálogo à altura do problema, só que ao final da reunião falaram, basicamente, que eles não se comprometiam que aquilo não iria mais acontecer e que é possível fazer uma mudança para que isso não se repita, mas que seria muito trabalhoso, eles teriam que movimentar muito pessoal, muitos esforços e que eles achavam que valia mais a pena deixar que isso acontecesse algumas vezes, corrigindo conforme fosse ocorrendo, do que estabelecer uma mudança dentro do sistema que corrigisse isso de vez”, relata Olive.

Para os alunos, a informação do nome civil não poderia estar acessível para modificação por qualquer funcionário.

Para nós ficou claro que a universidade tomou a posição de que não valia o esforço por entender que essa demanda é menos importante. Para nós, no entendimento do coletivo das pessoas trans da universidade, é absurdo que ela não compreenda o quão fundamental para a nossa permanência é a correção de situações como essa. Para nós, é como se uma demanda que nos é tão importante fosse jogada para debaixo do tapete”, avalia a estudante universitária.

Por meio de nota, a Superintendência de Tecnologia da Informação (STI) da UFRN informou que foi identificada a apresentação equivocada do nome civil de uma estudante em detrimento do nome social, em uma plataforma de matrícula da Instituição.

O problema teria ocorrido a partir da importação de dados de um arquivo enviado pela Comperve. Após tomar ciência do fato, a STI prontamente retificou a informação e deu total suporte à estudante.

“Diante de um sistema de dados complexo, que envolve mais de 40 mil alunos, a UFRN redobra os esforços para localizar e corrigir possíveis pontos vulneráveis a fim de evitar que problemas semelhantes voltem a ocorrer. A gestão da UFRN apresenta sinceras desculpas e renova o compromisso com a política de inclusão e acessibilidade da instituição”, traz um trecho da nota.

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