Carlos Mota: um educador que virou símbolo de resistência na periféria de Brasília

Carlos Mota tinha 44 anos quando foi assassinado a tiros dentro de casa, em 20 de junho de 2008, no Núcleo Rural do Lago Oeste, em Brasília, deixando esposa, três filhos e uma comunidade marcada pela perda de um professor que acreditava na educação como ferramenta de transformação social. A morte de Carlos teria sido motivada por vingança. Segundo o Ministério Público, o crime foi encomendado por Gilson de Oliveira, condenado a 20 anos de prisão por ser o mandante. De acordo com a denúncia, ele traficava drogas no entorno do Centro de Ensino Fundamental Lago Oeste (CEFLO) e aliciava estudantes, o que fez com que Carlos Mota denunciasse suas atividades. Em sua homenagem, a escola foi rebatizada como Centro Educacional Carlos Ramos Mota (CED Carlos Mota).

Em homenagem a este grande homem, Otávio Augusto Pereira Mota, filho dele, realizou como trabalho de conclusão do curso de Jornalismo no UniCEUB o documentário Carlos Mota – Entre Arquivos e Lembranças. Esse Documentário está disponível no link https://www.youtube.com/watch?v=DR3_CKDbY1c&t=10s O documentário traz um olhar íntimo sobre quem foi o pai, o educador e o líder comunitário que perdeu a vida por defender seus princípios.

Carlos era diretor da escola e enfrentava o tráfico de drogas na comunidade e foi morto em represália. Dezesseis anos depois, sua história continua viva – não apenas pelo nome que batiza a escola onde atuava, mas também por um documentário que resgata sua trajetória e o impacto de sua dedicação à educação.

O ex-aluno Adilvan de Souza, que estudou na escola na época de Carlos Mota, reforça o impacto do educador na comunidade: “Aqui no Lago Oeste, a perda dele foi imensa. Diversas crianças, assm como eu, se tornaram pessoas melhores com o ensino que tivemos”, conta.

“Ele nasceu para isso, era como se fosse uma missão. A educação para ele não era só dentro da sala de aula, mas também no contato com a natureza, com os animais, com a vida”, relembra sua viúva, Rita de Cássia.

Violência contra professores: um problema persistente

O assassinato de Carlos Mota não foi um caso isolado de violência contra educadores no Brasil. Um levantamento da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) aponta que o país está entre os que mais registram agressões contra professores.

O relatório revela que, semanalmente, 10% das escolas brasileiras pesquisadas relataram casos de intimidação ou abuso verbal contra educadores – mais que o triplo da média internacional, que é de 3%. Além disso, dados do Ministério dos Direitos Humanos mostram que, em 2023, o Disque 100 recebeu mais de 1,2 mil denúncias de violência contra professores dentro das escolas.

“Lei Carlos Mota”: um projeto que não avançou

Após a morte do professor, foi apresentado o Projeto de Lei 191/2009, conhecido como “Lei Carlos Mota”, de autoria do senador Paulo Paim (PT-RS). O texto previa medidas de proteção para professores ameaçados em razão de sua atuação. No entanto, o projeto foi arquivado em 2018.

Em entrevista ao portal g1, o senador afirmou que pretende reapresentar o projeto:

“Esse foi um caso emblemático. Eu não queria acreditar que um educador foi morto simplesmente porque estava educando”, declarou.

Documentário resgata a história de Carlos Mota

“Quero que o filme provoque uma reflexão sobre como tratamos a memória de educadores no Brasil. Meu pai morreu lutando por aquilo em que acreditava, e esse legado não pode ser esquecido”, explica Otavio, que tinha apenas 8 anos quando o crime aconteceu.

Para Otavio, o documentário foi também um reencontro com seu pai: “Foi uma forma de conhecê-lo novamente. Diminuiu um pouco o buraco que ficou no peito com a ausência dele”, desabafa.

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