Protagonismo negro, casal gay e +: nova “Vale Tudo” é escrita por baiana

Em 1988, o Brasil parou para descobrir quem matou Odete Roitman, a vilã icônica de “Vale Tudo”, interpretada por Beatriz Segall. Agora, 37 anos depois, a Globo aposta em um remake da novela, que estreia em março no horário nobre. Mas os tempos mudaram, e a nova versão promete revisitar a trama sob um olhar atualizado.O remake está sendo escrito pela soteropolitana Manuela Dias, autora das duas temporadas de “Justiça” e da novela “Amor de Mãe”, ambas da Globo. Em coletiva de imprensa, da qual o Portal A TARDE participou, a autora destacou que Vale Tudo, originalmente escrita por Gilberto Braga, Aguinaldo Silva e Leonor Bassères, precisou ganhar “novos conceitos e formas de ver”. “O mundo mudou muito [da primeira versão, em 1988 até os dias atuais], ainda bem que em muitos fatores”, afirmou.

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“A questão da representatividade é central nas tramas atuais, não só em Vale Tudo. É função da dramaturgia servir de ferramenta de transformação social. Isso é questão central na contação de histórias”, explicou Manuela, que escalou atrizes negras como protagonistas: Raquel Accioli (Taís Araújo) e Maria de Fátima (Bella Campos), papéis que na primeira versão foram de Regina Duarte e Gloria Pires, respectivamente.Taís Araújo revelou que inicialmente queria interpretar uma vilã, mas mudou de ideia ao rever um capítulo da novela original. “Quando eu assisti ao primeiro capítulo da antiga versão eu falei: ‘Meu Deus, eu não posso perder essa oportunidade’. Personagens bons são os que têm conflitos, e ela só tem conflitos”. Feliz com a representatividade no folhetim, a atriz garantiu que a “nova Raquel é uma grande homenagem às mulheres que constroem esse país”.A artista também destacou a responsabilidade de assumir o papel: “É uma novela que está no imaginário. Eu sou uma atriz que fez muitas novelas, mas essa é a novela das novelas. É uma honra que sobrepõe qualquer responsabilidade e eu fico muito feliz em fazer parte disso”, pontuou.Ela ainda enfatizou que a grande diferença entre sua versão e a de Regina Duarte está na “experiência de uma mulher preta”, algo que, segundo ela, “toda mulher preta, mesmo as privilegiadas, conhece bem”.

Raquel (Taís Araujo) e Maria de Fátima (Bella Campos).

|  Foto: Fabio Rocha | Globo

Manuela Dias acrescentou que a sociedade brasileira tem passado por “um processo de letramento com relação a coisas que são estruturais e estruturantes, como o machismo, racismo e classismo”. Na primeira versão da novela, apenas dois atores negros faziam parte do elenco. “Na época, até o nosso olhar era tão estruturado que a gente nem conseguia ver. Eu acho que a Raquel sempre foi preta e que bom que a gente entende e consegue realmente se ver atualmente”, completou a novelista.A volta de Odete RoitmanManuela Dias revelou que sempre foi fã de Vale Tudo e que, para ela, a trama segue atual mesmo depois de 37 anos. A Globo estima que 40% do público do remake será formado por pessoas que já assistiram à versão original. “Mas a novela é feita para todos, com novos conceitos e formas de ver”, ressaltou.A nova versão trará mudanças significativas em histórias que, no passado, “normalizavam a questão da agressão contra a mulher”. Além disso, cenas envolvendo casais homoafetivos – remake terá Cecília (Maeve Jinkings) e Laís (Lorena Lima) como casal LGBTQIAPN+ – e alcoolismo serão retratadas de forma diferente. Maria de Fátima, por exemplo, agora sonhará em ser influenciadora digital, e uma agência de influenciadores substituirá a revista que servia de cenário na trama original.

Belize Pombal, Karine Teles, Cauã Reymond, Renato Góes, Bella Campos, Humberto Carrão, Julio Andrade, Luis Salem e Malu Galli

|  Foto: Globo | Daniela Toviansky

E quanto à icônica vilã Odete Roitman? Agora interpretada por Deborah Bloch, ela seguirá tão cruel quanto antes, mas com falas que refletem debates contemporâneos. Sobre a relação da vilã com Maria de Fátima, que nesta versão será negra, Manuela explicou: “Odete é extremamente pragmática e prioriza apenas o que serve aos seus interesses”.Apesar das atualizações, o diretor Paulo Silvestrini garantiu que “a essência da obra está preservada e os personagens estão aí”. “A gente sempre brinda o público com alguns detalhes que estiveram na primeira versão, seja com referências estéticas ou falas icônicas. Para quem não conhece Vale Tudo, acho que é a oportunidade perfeita para descobrir essa história”, completou.Conflitos familiares e o novo mistérioNa história, Raquel é uma mulher batalhadora que trabalha como guia de turismo em Foz do Iguaçu, no Paraná, e acredita que é possível vencer na vida com dignidade. Já sua filha, Maria de Fátima, quer ser uma influenciadora digital e enriquecer a qualquer custo. O conflito entre mãe e filha segue sendo o eixo central da novela, que substituirá Mania de Você no horário nobre.Os embates entre elas afetarão outros núcleos da trama, trazendo dilemas éticos, romances e o choque de realidades no Rio de Janeiro. E se na versão de 1988 a grande pergunta era “Quem matou Odete Roitman?”, o remake promete surpreender o público com a possibilidade de um desfecho diferente.Além de Taís Araújo, Bella Campos e Deborah Bloch, o elenco conta com nomes como Humberto Carrão, Cauã Reymond, Paolla Oliveira, Renato Góes, Julio Andrade, Belize Pombal, Karine Teles, Malu Galli, Maeve Jinkings e Luis Salem. O remake estreia em 31 de março.

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