Morte de ciclista em Natal expõe falhas na segurança cicloviária

O atropelamento e morte do médico oftalmologista Araken Britto, de 52 anos, em Natal, expôs as falhas na segurança cicloviária da cidade. Ele foi atropelado por um caminhão na manhã de segunda-feira 24, enquanto pedalava na Avenida Hermes da Fonseca, uma das principais vias da Zona Leste. O motorista da carreta, que transportava combustível, foi levado à delegacia e liberado após prestar depoimento. O acidente reacendeu o debate sobre a falta de segurança para ciclistas nas ruas de Natal.

A doutora em Transportes e Gestão das Infraestruturas Urbanas e professora da UFRN, Isabel Magalhães, afirmou em entrevista à Jovem Pan Natal que o problema vai além da simples presença de ciclovias e está ligado à cultura rodoviarista brasileira. “A nossa cultura é muito voltada para o uso do automóvel. Mesmo que tenhamos infraestrutura para ciclistas e pedestres, sem fiscalização adequada e educação no trânsito, essas vias não serão usadas de forma segura”, explicou.

Isabel apontou que Natal tem investido em melhorias, com a implementação de novas ciclovias, calçadas e faixas de pedestres, incluindo as localizadas em meio de quadras, mas isso não tem sido suficiente para garantir a segurança dos ciclistas. “Temos diferentes tipos de infraestrutura cicloviária, como ciclorrotas e ciclovias segregadas. O problema é que, em muitos casos, essas ciclorrotas são apenas faixas pintadas no chão, sem barreiras físicas que separem ciclistas de veículos pesados”, disse.

Ela citou o exemplo da Avenida Prudente de Moraes, que possui uma ciclorrota compartilhada entre ônibus e ciclistas. “Será que essa é a melhor escolha para uma avenida de tráfego intenso? Talvez não. Uma ciclovia segregada, com barreiras físicas, seria mais adequada”. Isabel também destacou problemas de sinalização. “Recentemente, mudaram a pintura da faixa exclusiva para ônibus e ciclistas de vermelho para branco na Prudente de Moraes. Muita gente achou que a faixa tinha deixado de existir. Isso gera confusão e aumenta o risco de acidentes”.

A professora ressaltou ainda a falta de educação dos motoristas e ciclistas. “Você foi educado para usar uma via compartilhada entre ônibus e ciclistas? A maioria dos condutores não foi. E os ciclistas também não recebem orientação básica sobre como usar essas vias. Sem educação e fiscalização, não há infraestrutura que resolva”, disse.

Segundo Isabel, vias congestionadas ou com tráfego intenso de veículos pesados não são recomendadas para ciclistas. “O ideal seria que os ciclistas usassem rotas alternativas, mas sabemos que isso nem sempre é possível. Por isso, é preciso garantir segurança onde quer que eles estejam”, afirmou.

Ela explicou que em vias compartilhadas, o limite de velocidade deveria ser de, no máximo, 30 km/h para veículos motorizados. “Um ciclista pode chegar a 25 km/h, enquanto um carro em baixa velocidade já passa dos 30 km/h. Sem controle de velocidade e fiscalização, o risco é grande”, explicou.

O caso segue sob investigação. A morte do médico também trouxe à tona a necessidade de discutir políticas públicas mais eficazes para proteger quem usa a bicicleta como meio de transporte, lazer ou esporte. A professora concluiu que a mudança precisa ir além da infraestrutura. “É preciso uma combinação de vias seguras, fiscalização rigorosa e educação no trânsito. Sem isso, acidentes como o que tirou a vida do doutor Araquém continuarão acontecendo”.

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