Estamos próximos de uma nova pandemia? O que se sabe sobre HKU5 e MERS

Aos cinco anos da pandemia de COVID-19, novos estudos revelam linhagens distintas do coronavírus que podem representar riscos de infecção em humanos.  Entre elas estão o HKU5-CoV-2, identificado em morcegos por pesquisadores do Instituto de Virologia de Wuhan, na China, e uma cepa semelhante ao MERS-CoV (responsável pela síndrome respiratória do Oriente Médio), descoberta por cientistas do Ceará e de São Paulo, em parceria com a Universidade de Hong Kong. A seguir, entenda cada estudo e os potenciais riscos para a saúde humana.  

HKU5-CoV-2: um novo alerta?

O coronavírus HKU5-CoV-2 é uma linhagem distinta do HKU5, já conhecido por circular entre morcegos. A nova cepa chamou a atenção por utilizar o receptor ACE2 para infectar organismos – o mesmo utilizado pelo SARS-CoV-2, causador da COVID-19, para invadir células humanas.  

A descoberta foi feita por pesquisadores do Instituto de Virologia de Wuhan utilizando a técnica de microscopia crioeletrônica (Cryo-EM). O estudo revelou que o HKU5-CoV-2 foi capaz de infectar culturas de células humanas em modelos de mini-órgãos criados em laboratório.  

Outro ponto relevante é a conexão filogenética entre os merbecovírus – subgênero do gênero Betacoronavirus, que inclui o MERS-CoV e o HKU5. Os vírus dessa família foram detectados em visons e pangolins – que acredita-se ser o intermediário da COVID-19 entre morcegos e humanos. A relação evolutiva entre os vírus facilita a transmissão entre espécies por meio de hospedeiros intermediários, como ocorreu com a COVID-19.  

Apesar disso, os autores do estudo, publicado na revista científica “Cell”, alertam que o potencial pandêmico do HKU5-CoV-2 “ainda precisa ser investigado” e que mais pesquisas são necessárias para avaliar o risco real de transmissão para humanos.   

Coronavírus semelhante ao MERS

Em outro estudo, publicado no “Journal of Medical Virology”, pesquisadores brasileiros identificaram sete coronavírus em amostras de cinco morcegos capturados no Ceará. Um deles apresentou 71,9% de similaridade com o genoma do MERS-CoV, vírus que provocou mais de 800 mortes em 27 países desde sua primeira detecção, em 2012, na Arábia Saudita.  

As amostras vieram de duas espécies de morcegos – Molossus molossus (insetívoro) e Artibeus lituratus (frugívoro), reforçando a diversidade de hospedeiros desses vírus.  

O gene que codifica a proteína spike – que age como uma “chave” que o vírus usa para entrar nas células do corpo e se replicar – apresentou 71,74% de semelhança com a spike do MERS-CoV isolado em humanos na Arábia Saudita em 2015. 

“Embora ainda não possamos afirmar se essa cepa tem capacidade de infectar humanos, encontramos partes da proteína spike que sugerem uma potencial interação com o receptor utilizado pelo MERS-CoV”, explica a bióloga Bruna Stefanie Silvério, primeira autora do estudo, em entrevista à Fapesp.  

Para confirmar essa hipótese, os pesquisadores planejam realizar experimentos em laboratórios de alta segurança biológica na Universidade de Hong Kong ainda este ano.  

O papel da vigilância epidemiológica  

A descoberta dessas novas cepas reforça a importância da vigilância epidemiológica, especialmente em animais que atuam como reservatórios naturais de vírus, como os morcegos.  

Esse monitoramento é essencial para:  

  • Identificar fatores de risco

  • Recomendar medidas de prevenção e controle

  • Realizar diagnósticos precoces

  • Prevenir surtos e pandemias  

  • Oferecer tratamento adequado em caso de infecções  

“Monitorar os morcegos permite identificar vírus em circulação e antecipar potenciais riscos de transmissão para outros animais e seres humanos”, destaca o professor Ricardo Durães-Carvalho, da Escola Paulista de Medicina (EPM-Unifesp), orientador do estudo sobre o coronavírus semelhante ao MERS.  

E, embora os estudos tenham identificado características preocupantes nos novos coronavírus, os cientistas alertam que o simples fato de um vírus se ligar a células humanas em laboratório não significa que ele conseguirá se espalhar na população.  

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