“Sem a doação, teria morrido”, diz jovem que recebeu transfusão de sangue

“Foi muito importante, naquele momento. Se não fosse a transfusão, com certeza, teria morrido”. Afirmou a confeiteira Janice Oliveira, 33 anos, ao falar sobre a doação de sangue que recebeu, em março de 2019, após passar um mês tendo hemorragia. Ela lembra que estava no período menstrual e, como o ciclo era muito intenso e durava entre 7 e 15 dias, não percebeu que algo não estava indo bem e só procurou atendimento médico no 25º dia, depois de passar mal.Levada pelo irmão ao Hospital Geral Roberto Santos (HGRS), no Cabula, foi medicada e mandada de volta para casa para continuar o tratamento com medicamentos. No entanto, continuou sangrando e, ao passar mal outra vez, foi socorrida para o Instituto de Perinatologia da Bahia (IPERBA), em Brotas, onde passou sete dias internada.

“Meu fluxo sempre foi intenso. Minha mãe era assim também, eu achava que era hereditário. Mas, dessa vez, foi demais. Pensei que ia morrer, minha hemoglobina [proteína encontrada nos glóbulos vermelhos do sangue] baixou para sete [7g/dL]. Se não fosse um médico que perguntou se eu queria tomar sangue, não estaria aqui. Os outros médicos queriam fazer tratamento com remédios, mas ele foi contra. Tomei duas bolsas [sangue]”, recorda Janice, revelando que, até hoje, os médicos não descobriram o que ele teve. Os valores de referência de hemoglobina variam de acordo com sexo, etnia e idade e, no caso das mulheres, o ideal é de 12 a 16 g/dL [gramas por decilitro].

São casos como o da confeiteira que reafirmam a importância das doções regulares de sangue. Dados do Ministério da saúde, divulgados em 2023, revelaram que naquele ano, mais de 3,2 milhões de bolsas de sangue foram coletadas no Sistema Único de Saúde (SUS), o que evidenciou, na época, que 1,6% da população brasileira era doadora. A porcetagem colocou o país dentro dos parâmetros da Organização Mundial de Saúde (OMS). O índice recomendado pela agência tem que se manter entre 1% e 3%. O dados de 2024 ainda não foram divulgados.Diante dos dados apresentados pelo órgão brasileiro, podemos dizer que o país está no caminho certo, no entanto, ainda falta muito para atingir o índice total de doadores. E essa ausência nos bancos dos hemocentros tem se refletido nos baixos números de bolsas de sangue em estoque. Aqui em Salvador, o volume armazenado nas geladeiras a Fundação de Hematologia e Hemoterapia da Bahia (Hemoba) tem preocupado, sobretudo neste período que antecede as festas de Momo.

Os tipos de sangue A+, A-, B+, B-, O+ e O- estão em estado crítico. Já os AB+ e AB- permanecem estáveis. O único que ainda não alcançou o nível mais baixo no estoque é o B-, no entato, o sinal de alerta já foi acionado. “É possível verificar hoje no site [Hemoba] que nós estamos precisando de doadores de todos os grupos sanguíneos, todos os grupos estamos com estoque crítico. Temos sempre pessoas precisando de transfusão, sempre pessoas precisando dessa contribuição. Nós temos agora o Carnaval chegando, é um período que vai diminuir as doações e a gente precisa ter estoque para estar atendendo a todas as demandas, durante esse período. Então, quem puder fazer essa contribuição, nós agradecemos em nome de todos os pacientes da rede SUS que precisam de transfusão”, convocou a médica Aline Dórea, coordenadora médica de Coleta da Hemoba.

No Banco de Sangue de Salvador, hemocentro particular do Grupo Gestor de Serviços em Hemoterapia (GSH), que funciona do Hospital São Rafael, a realidade não é muito diferente da do Hemoba. “A gente está com um estoque bem crítico nesse momento, principalmente nesse período pré-festividades, pré-carnaval. Então, as doações já tendem a diminuir, porque boa parte da população já começa a focar nas festas, nas viagens e acaba deixando as doações um pouco de lado. Então, a gente está com um estoque bem crítico nesse momento, principalmente de O negativo e O positivo, são tipos sanguíneos que a gente está precisando de mais apoio nesse momento”, revelou Jéssica Cerqueira, captadora de doadores do GSH.Aos 69 anos, dona Maria Lúcia Teixeira esteve no Banco de Sangue de Salvador, nesta quinta-feira (20), para doar pela primeira vez. A intenção dela era contribuir para aumentar o estoque da unidade e repor as bolsas usadas por sua cunhada, que encontra-se internada no Hospital São Rafael, em São Marcos, após passar por cirurgia.

“Sempre tive vontade de doar, mas nunca pude porque tinha anemia. Mas, já fiz até uma campanha no Lions Club de Jequié, onde moro, e levei muitas pessoas para doar. Hoje, infelizmente, não vou poder por causa da minha idade. Quem puder, faça. É um ato de amor e solidariedade ao próximo”, disse a senhora.

Assim como dona Maria, muitas pessoas só procuram os hemocentros quando um familiar ou um amigo estão precisando de doação. “Boa parte das nossas doações são de doadores para reposição, que são quando um familiar pede uma ajuda, tem algum familiar, tem algum amigo que realmente fez essa solicitação e ele veio fazer a doação. A parcela de doadores espontâneos, que são doadores que vêm sem a solicitação de alguém, é bem menor, porque culturalmente, infelizmente, as pessoas não têm esse hábito da doação de sangue”, explicou a captadora de doadores.Recuperada do susto, a confeiteira Janice Oliveira é só gratidão e diz que não existe um sinônimo mais apropriado para definir o que a doação de sangue representa para ela, a não ser: Vida. Com as esperanças renovadas, mas sem esquecer dos momentos de dor e medo que passou, ela faz um apelo para a população. “Quero que as pessoas saibam a importância de doar sangue, pois sangue salva vidas. Esse deveria ser um assunto mais falado, até mesmo nas escolas. Infelizmente, ouvimos falar muito pouco. Quero aproveitar para fazer um pedido especial, pedir que quem puder procure os hemocentros para fazer esse gesto de amor e solidariedade”, solicitou.  

QUEM PODE E COMO DOARPessoas com idades entre 16 e 69 anos, sendo que menores de 18 anos devem estar acompanhados por um responsável legal. Estar em boas condições de saúde e pesar acima de 50 kg;Apresentar documento original com foto, emitido por órgão oficial e válido em todo o território nacional;Pessoas com mais de 60 anos só poderão doar caso já tenham realizado uma doação antes dos 60 anos;Homens podem doar até 4 vezes a cada 12 meses, com intervalo mínimo de 60 dias entre as doações e mulheres podem doar até 3 vezes a cada 12 meses, com intervalo mínimo de 90 dias entre as doações.RECOMENDAÇÕES PARA SEGUIR NO DIA DA DOAÇÃOEstar descansado (ter dormido pelo menos 6 horas nas últimas 24 horas);Estar alimentado (evitar alimentação gordurosa nas 4 horas que antecedem a doação);Não ingerir bebida alcoólica, nas últimas 12 horas;Não fumar por, pelo menos, 2 horas.ONDE DOAR EM SALVADORHemoba – Ladeira do Hospital Geral, S/N – BrotasTelefones: (71) 3194-7864 / (71)3194-7861Atendimento: Segunda-feira a Sexta-feira: 07h30 às 18h30; Sábado: 7h30 às 16h30GSH Banco de Sangue de Salvador – Unidade Hospital São Rafael, Avenida São Rafael, 2152 – São MarcosTelefones: (71) 3281-6295 | WhatsApp: (71) 99718-8708Atendimento: Diariamente, das 7h às 18h, incluindo sábados, domingos e feriados

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