O mundo paralelo chegou à engorda da praia de Ponta Negra

Há anos venho acompanhado com atenção (e preocupação) cidadã e também interesse profissional não apenas a sucessão de fake news da direita brasileira (a reboque da direita global) mas a criação meticulosa de um mundo paralelo, onde a verdade é substituída sem pudores pela mentira da vez, que seja estratégica ao político ou poder de plantão. Dessa forma que vimos ao longo dos anos que o filho de Lula tem uma coleção de Ferraris, que o Brasil vai virar uma Venezuela, que existe uma ditadura gay que vai oprimir os héteros e que se Haddad ganhasse para presidente iria distribuir mamadeira de piroca para as criancinhas do Brasil. Tudo mentira. Mas que vendidas como verdade perante repetição, emulando Goebbels, o marqueteiro de Hitler: uma mentira dita mil vezes se torna uma verdade.

Uma mentira que será dita mil vezes na tentativa de criar um mundo paralelo está em curso em Natal. Não que tenha sido exatamente uma surpresa, mas não contive um choque em ver/ouvir a declaração do secretário Thiago Mesquita, titular da Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo (Semurb) que a praia de Ponta Negra estava “perfeita”.

O ilustre secretário iignora solene e cinicamente os problemas que vêm ocorrendo desde a conclusão da obra da engorda de Ponta Negra, principalmente os alagamentos nos mais de 4,6 km de extensão da faixa de areia alargada, após chuvas apenas medianas, causado pela drenagem ineficiente. Isso sem falar de problemas outros, como a mudança de cor e textura da areia na área da engorda, no acúmulo de pedras e sedimentos na areia, no mar mais forte que torna banhos perigosos e etc e tal.

Na verdade, Thiago foi além: afirmou categoricamente que a a voçoroca que ocorreu na Praia de Ponta Negra após as chuvas foi consequência de uma escavação manual realizada na praia. De acordo com o secretário, usuários da praia abriram indevidamente uma vala na faixa de areia para que a água acumulada escorresse para o mar. Ou seja, a cultpa, na verdade, é da população, dos frequentadores da praia.

Thiago já havia culpado a Companhia de Águas e Esgotos do Rio Grande do Norte (Caern) pela situação. No que foi imediatamente desmentido pelo presidente Roberto Linhares, que não apenas negou qualquer responsabilidade da empresa sobre os alagamentos que têm aparecido na área da engorda de Ponta Negra após as chuvas, como registrou que a responsabilidade éda Prefeitura de Natal.

Ou seja, se primeiro Thiago tentou arrumar culpados para um problema de sua pasta, da prefeitura para qual trabalha, agora foi além e dobrou a aposta: sentenciou que não é problema, que a praia está perfeita.

A princípio esse texto poderia se indignar com a pergunta prosaica: o secretário Thiago não vai à praia? A resposta é bem simples: evidentemente que não. Como tanto o prefeito Paulinho Freire e seu antecessor Álvaro Dias também não põem os pés na areia de Ponta Negra. Mais que isso: Thiago, assim como Paulinho e Álvaro, falam para um público/eleitorado que também não põe os pés na areia de Ponta Negra. Que frequenta outras praias. Trata-se de um grupo de pessoas que produz e aceita esse mundo paralelo, já que não frequenta esse “mundo real” chamado Ponta Negra, que inclui diversidade social, vocação turística, contradições etc.

A partir de agora veremos Paulinho, afundado em denúncias do MP eleitoral e em crises no seu governo que tem menos de dois meses, e seu secretário investirão ainda mais na política do mundo paralelo. Irão vender (ops) Ponta Negra como a praia ideal para receber turistas, o destino idílico dos sonhos de todo turista, uma nova Balneário Camburiú. Quem sabe não teremos a vizinha João Pessoa como nosso “curral” novamente, como declarou Paulinho com rara infelicidade mal assumiu a Prefeitura. No mundo paralelo dele e seus comandados, claro. No mundo real JP e suas praias dão de capote em Natal e Ponta Negra está sendo criticada por turistas e comerciantes.

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