Bolsa de mulher: o que cabe dentro do complexo universo feminino?

Crédito: Janaí Vieira Legenda: O que cabe dentro de uma bolsa de mulher? O universo feminino pode entender

Crédito: Janaí Vieira Legenda: O que cabe dentro de uma bolsa de mulher? O universo feminino pode entender

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Bolsa de mulher. Na bolsa de uma mulher é possível encontrar muitas coisas. Logicamente, que isso vai variar de acordo com cada mulher. Enquanto algumas escolhem um batom vermelho, outras optam por um hidrante labial; algumas têm uma diversidade de itens, outras têm só o básico. Cada bolsa tem suas particularidades, mas sem dúvida, coisas em comum. Metaforicamente, a bolsa pode representar o universo feminino de maneira ampla e particular.

As mulheres têm uma história de luta. A batalha envolve a garantia de direitos, igualdade salarial, espaço no mercado, contra o preconceito, entre outros pontos que, a cada mudança, gera impacto também nas futuras gerações. Elas fazem valer o ditado de que ‘lugar de mulher é onde ela quiser’. Existe aquelas que priorizam a família; outras escolhem a carreira; tem também aquelas que levam bandeiras e vão até o fim. Cada uma faz a sua escolha, o importante é que a escolha seja dela.

“A psicologia nos leva a compreender que a subjetividade da mulher é construída nas interações sociais e culturais”, cita a psicóloga Sabrina Meira Pimentel. “Isso significa que muitas das crenças e comportamentos que limitam a autonomia feminina não são inatos, mas aprendidos ao longo da vida”.

Segundo Sabrina, o empoderamento, portanto, nasce do autoconhecimento e da desconstrução de padrões que fazem a mulher duvidar de si mesma. Ela pontua que ao compreender sua história, sua identidade e suas possibilidades, a mulher pode fazer escolhas mais conscientes, assumindo o protagonismo da própria vida.

Diante de rotinas que cada vez demandam mais das mulheres – visto que a mulher tem carreira, é mãe, é esposa, é dona de casa… tudo ao mesmo tempo – é importante que ela esteja atenta aos sinais que o corpo passa. “O primeiro passo para perceber a necessidade de desacelerar é desenvolver uma escuta atenta de si mesma. Muitas mulheres só reconhecem que precisam de um tempo quando o corpo já dá sinais claros de exaustão, como insônia, irritabilidade, fadiga extrema e até doenças psicossomáticas”.

A profissional destaca que a sobrecarga não deve ser vista como um destino inevitável. “Observar os próprios sentimentos e refletir sobre o que é realmente essencial pode ser um ato revolucionário. Aprender a dizer ‘não’, delegar tarefas e abandonar a busca pela perfeição são estratégias fundamentais para preservar a saúde mental”, orienta.

O PESO DA BOLSA – Se colocar mais ‘peso’ do que a bolsa consegue carregar é bem provável que a alça venha a estourar ou a bolsa como um todo fique danificada. Isso também acontece no universo feminino: muita sobrecarga, independente da área que for, pode refletir na saúde física e mental da mulher.

“Chegar ao ponto do esgotamento não significa fraqueza, mas sim um alerta de que é hora de agir. Buscar ajuda profissional, como um psicólogo, pode ser um passo transformador, pois oferece um espaço seguro para compreender os desafios e encontrar caminhos para restaurar o equilíbrio. Além disso, revisar prioridades, estabelecer limites saudáveis e contar com uma rede de apoio são passos essenciais para ressignificar a própria trajetória e reconstruir a rotina de maneira mais sustentável”, comenta.

O QUE CARREGAR NA BOLSA – A mulher contemporânea se vê diante de um ideal inalcançável de dar conta de tudo: ser bem-sucedida no trabalho, presente na família, emocionalmente disponível para os outros e ainda cuidar de si mesma. Sabrina salienta que essa cobrança constante gera sentimento de culpa, ansiedade e insuficiência, como se nunca estivesse fazendo o bastante. Ela ainda acrescenta que é essencial reconhecer que ninguém precisa ser perfeita e que dividir responsabilidades é um direito, não uma concessão.

“Reconhecer que não se pode resolver tudo sozinha é um passo fundamental para uma vida mais saudável. Muitas vezes, a cultura ensina que ser mulher é sinônimo de cuidar dos outros, mas essa dedicação não pode acontecer à custa do próprio bem-estar. Criar momentos para si mesma, estabelecer limites claros e aceitar ajuda são atitudes que devem ser vistas como sinais de força, não de fraqueza”, cita.

UMA ‘REDE DE BOLSAS’ – Na análise da profissional, uma rede de apoio é essencial para que a mulher possa compartilhar responsabilidades e desafios. Ter pessoas com quem contar – seja na família, entre amigos ou em comunidades – permite que ela não se sinta sozinha diante das dificuldades. Além disso, a troca de experiências fortalece o sentimento de pertencimento e ressignifica o peso das demandas diárias.

Sabrina também alerta que cuidar da saúde mental não é luxo, é necessidade. Ela destaca que quando uma mulher está emocionalmente equilibrada, consegue tomar decisões mais assertivas, se posicionar com mais segurança e construir relações mais saudáveis. O autocuidado não deve ser visto como um ato egoísta, mas como um compromisso consigo mesma e com aqueles que ama. Afinal, só é possível cuidar bem dos outros quando também se cuida de si.

“O empoderamento feminino vai além do discurso: ele se constrói no cotidiano, nas pequenas escolhas e na forma como a mulher se relaciona consigo mesma e com o mundo. O convite é para que cada mulher olhe para sua trajetória com acolhimento e coragem, reconhecendo que estar no controle da própria vida não significa dar conta de tudo sozinha, mas sim agir com consciência, respeitando seus limites e valorizando seu próprio bem-estar”, conclui.

Da Redação

TOLEDO

Crédito: Arquivo pessoal
Legenda: A farmacêutica, pós-graduada em constelação familiar, treinadora de pessoas na arte de viver bem Fabiana Zielasko.
Crédito: Arquivo pessoal
Legenda: A farmacêutica, pós-graduada em constelação familiar, treinadora de pessoas na arte de viver bem Fabiana Zielasko.

Constelação sistêmica: o poder de transformação na vida das mulheres

Buscar o ponto de equilíbrio, as respostas, as lacunas, o bem-estar dentro da complexidade do universo feminino é algo constante para muitas mulheres. A constelação sistêmica é dos caminhos, é uma das ferramentas utilizadas nesse processo.

Conforme a farmacêutica, pós-graduada em constelação familiar, treinadora de pessoas na arte de viver bem Fabiana Zielasko. A constelação sistêmica é uma ferramenta que auxilia a pessoa a identificar o que está impedindo ela de realizar determinado sonho, o que está entre ela e o que ela almeja, seja questão de relacionamento de casal, com os filhos, com a família, com as pessoas como um todo, seja em questão da parte financeira onde o dinheiro não vem ou vem mas não permanece, questões emocionais onde a pessoa não consegue ter uma vida feliz e de paz.

“A constelação aqui nos ajuda a identificar onde no feminino pode haver alguma dor seja por exclusão, por humilhação, por abandono, por traição e ao olharmos para as dores das mulheres do nosso sistema familiar podemos compreender porque, muitas vezes, não conseguimos seguir de forma leve com o nosso feminino. Muitas vezes, a mulher que somos nunca passou por esses tipos de situação, porém sofremos por algo que desconhecemos de forma consciente e nas constelações isto vem à tona e o melhor pode ser resigne significado trazendo uma libertação”, cita.

MAIS LEVEZA – As atribuições femininas, nos dias atuais, podem interferir no emocional das mulheres. Conforme Fabiana, a constelação pode ajudar as mulheres a cuidarem mais si. “Vejo que a constelação pode trazer à tona o que foi vivido pelas nossas ancestrais mulheres e ao compreendermos isso talvez possamos ver com mais leveza o nosso papel no mundo como já expliquei numa pergunta anterior. Hoje, as mulheres têm se cobrado muito em fazer o mundo, ir para o mundo, ser independente, fazer por todos, porém, isso tem tirado dela uma certa força trazendo uma sobrecarga onde muitas não se permitem serem cuidadas e protegidas levando a exaustão”.

JÁ NASCE COM O PODER DE DAR VIDA – Para Fabiana, a mulher já nasce com dádivas. “Eu não gosto deste termo empoderamento feminino. Na minha percepção, a mulher já nasce com o poder sobrenatural de dar vida, ela tem o poder de construir uma criança é o grande milagre da vida. Agora, olhando para o controle da própria vida, isto serve para ambos os sexos, conseguimos ter controle sobre o nosso emocional que vai refletir na nossa experiência física quando nos permitimos acessar conhecimentos nos quais nos trarão liberdade para seguirmos”.

Fabiana destaca que com conhecimento é possível aprender a neutralizar as histórias e ao conseguir isso o sofrimento desaparece, consequentemente, passa a lidar com os ocorridos de melhor maneira.

“Ao termos uma visão mais neutra da vida tendemos a pensar positivamente, ao pensar positivamente, consequentemente sentimos coisas positivas e como somos seres vibrações que emanamos frequências atraímos aquilo que emanamos. Quando mudo a minha percepção sobre a vida, quando mudo as minhas emoções, mudo também aquilo que estou atraindo. A nossa vida física é o que mostra de forma muito clara o que pensamos e sentimos”, enfatiza.

PARTE DO PROCESSO – “Muitas vezes, nossa vida não segue adiante e não é por falta de força de vontade ou dedicação. Muitas vezes, a nossa vida paralisa, porque temos lealdade familiares, emaranhamento com questões não resolvidas do nosso passado familiar, não temos uma liberdade de sermos felizes, saudáveis, prósperas e ricas. As constelações mostram de forma muito clara o que precisamos fazer para ir ao próximo nível. Claro que a constelação é uma parte do processo, ela mostra de forma muito clara decisões que precisamos tomar e atitudes após elas, em alguns casos, existe um momento de entregar algo maior, em outros – assim como numa empresa, onde fazemos uma projeção de planos e metas – precisamos também em nossas vidas realizar determinadas atitudes para chegarmos a determinados efeitos em nossa vida”, finaliza.

Da Redação

TOLEDO

Legenda: A professora de Antropologia História Andreia Vicente ressalta a importância das conquistas das mulheres.
Crédito: Arquivo pessoal
Legenda: A professora de Antropologia História Andreia Vicente ressalta a importância das conquistas das mulheres.
Crédito: Arquivo pessoal

Luta constante: o impacto que as conquistas têm nas gerações

‘Dentro da bolsa’ tem espaço para inúmeras conquistas. Essas conquistas podem ser pessoais ou de representatividade para uma geração inteira e para as próximas. Fato é que antes da conquista vem a luta, vem o empenho, vem a dedicação.

“O século XX foi muito importante na luta das mulheres pela conquista do espaço público sobre tudo”, reforça a professora de Antropologia História da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste) Andreia Vicente. “Na primeira metade do século XX, por exemplo, tivemos a abertura do direito ao voto – que é o poder de decisão do poder político movimentar e, de fato, fazer diferença nessa esfera”.

Em relação a segunda metade do século XX, Andreia cita os direitos ligados às políticas reprodutivas – advento da pílula anticoncepcional e da ligadura de trompas. Segundo a professora, ter esse poder de escolha permitiu que a mulher viesse a ter possibilidades de escolhas em relação a carreira, a como viver o dia a dia.

IMPACTO NAS GERAÇÕES – “Essas conquistas impactam diretamente nas gerações de mulheres que têm idade produtiva agora”, destaca ao pontuar que essas conquistas geram impacto na liberdade de escolha, no futuro das mulheres no que se refere aos relacionamentos, a maternidade, a profissão.

Andreia também reforça o impacto dessas conquistas em relação aquilo que a mulher já leva como compromisso, já vem como algo cultural: como o serviço doméstico diário, o cuidar da casa sem ter o reconhecimento necessário.

“É fundamental que nós mulheres, mães ou que têm uma filha também é conversamos com as nossas filhas e demonstramos cada vez mais para elas como era a nossa vida, como a nossa vida está e o que nós desejamos enquanto mulheres para o futuro das mulheres das próximas gerações”, destaca.

OS DESAFIOS – Andreia pontua que um dos principais desafios das novas gerações é que as mulheres consigam construir um caminho de liberação de entrada no espaço público. “Queremos sobretudo compartilhar esse espaço, não queremos estar sozinhas, queremos estarmos juntas, mas não em um ambiente de exploração do nosso trabalho, queremos estar em um ambiente de compartilhamento e acredito que esse é um dos principais desafios das mulheres”, aponta.

Da Redação

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