Acidentes de aviões com carros, escadas e pontes mais que dobram em aeroportos

Acidentes envolvendo aviões em solo e veículos de apoio, pontes de embarque móveis, escadas externas e esteiras de bagagens têm crescido nos aeroportos brasileiros, além de outros incidentes, como cabos de energia esquecidos em aeronaves que partem o taxiamento.

Na noite da última terça-feira (11), um Boeing da companhia aérea Gol bateu em um carro de serviço no aeroporto do Galeão, no Rio de Janeiro, durante a decolagem. Não houve vítimas, mas cancelamento do voo, um grande susto entre os passageiros, danos na aeronave e a picape da concessionária RIOGaleão ficou completamente destruída —surpreendentemente, os dos funcionários da caminhonete tiveram apenas ferimentos leves.

Somente ano passado foram ao menos 27 ocorrências de solo, de menor gravidade que a do Rio, em aeroportos nacional. Em 2023, foram 12, ou seja, esses incidentes mais que dobraram.

Os dados fazem parte de um levantamento feito pela reportagem junto ao painel Sipaer (Sistema de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos), a partir de informações do Cenipa (Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos).

De todos as ocorrências do tipo em 2024, metade foi nos aeroportos mais movimentados do país: Guarulhos e Congonhas, em São Paulo, Brasília, e no próprio Galeão.

Nenhum dos casos reportados tem a gravidade da incursão de pista da última terça, quando um avião comercial bateu em um carro no momento em que ganhava velocidade para levantar voo, uma das etapas de maior risco de um voo.

Mas eles provocam transtornos a passageiros, que perdem suas viagens. Em 29 de fevereiro de 2024, por exemplo, um carro que prestava apoio às operações de solo bateu em um Airbus da Latam no aeroporto de Brasília. O avião teve de ser levado para manutenção.

No dia 8 de dezembro, uma das pontes de embarque de Congonhas, na zona sul de São Paulo, colidiu contra um um Boeing da Gol que faria a ponte aérea ao Santos Dumont, no Rio. O avião também teve de ser entregue às equipes de reparo.

Há casos mais inusitados. Um outro Boeing da Gol, que decolaria para Salvador, estava em procedimento de manobra, quando “um sopro” da turbina arrancou o capô de um carro de serviço que voou contra a fuselagem de um avião.

Para Roberto Peterka, perito e especialista em segurança de voo, a causa do acidente da última terça pode ser apontada como falha de comunicação entre a torre de controle e o motorista do carro de serviço que estava na pista.

Casos menores tendem a ser provocados por pressão devido ao crescimento do número de operações nos grandes aeroportos, que se aproximam dos volumes de pousos e decolagens de antes da pandemia, ou mesmo falta de atenção.

Dos registros analisados pela Folha, por duas vezes, em Congonhas e Guarulhos, a fonte de energia (GPU) foi rebocada enquanto seu cabo de conexão ainda estava acoplado à aeronave. Nas duas situações houve avarias nos aviões.

Também teve a situação em que dois aviões da Latam que colidiram em solo em Congonhas. Os dois voos acabaram cancelados e os Airbus precisaram de reparados. A batida é investigada pela Aeronáutica.

Peterka afirma que esses incidentes só podem ser evitados com treinamento e reciclagem de procedimentos. “Isso envolve governo, aeroportos e empresas aéreas”, diz. “Envolve cultura aeronáutica.”

A Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) que fiscaliza aeroportos e diante dos resultados dessas inspeções podem ser adotadas medidas cautelares e sanções administrativas, como aplicação de multas e restrição de operações e movimentos no aeródromo quando não sanadas eventuais inconformidades constatadas.

Em casos de incidentes graves ou acidentes, é aberto um processo de investigação conduzido pelo Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), que pode indicar as causas e, dessa forma, subsidiar ações de prevenção para evitar novas ocorrências similares.

Em nota, a RIOGaleão diz que reforça seu compromisso com a segurança operacional e segue colaborando com as investigações.

A Aena, responsável pelo aeroporto de Congonhas, afirma que atua de forma preventiva e em conjunto com companhias aéreas, empresas prestadoras de serviços de solo e torre de controle para mitigar as ocorrências, e que investe em treinamentos para equipes operacionais e fiscalização dos procedimentos adotados pelas empresas que atuam no aeroporto.

A empresa não cita suas responsabilidades. Segundo ela, elas podem variar. “Escadas, caminhões de abastecimento e comissaria, por exemplo, são operados diretamente pelas companhias aéreas e seus prestadores de serviços, enquanto a movimentação de aeronaves em solo é coordenada pela torre”, afirma.

A Inframérica, concessionária que administra o aeroporto de Brasília, diz que tem segurança como prioridade operacional e que todas as atividades no terminal seguem normas e diretrizes estabelecidas por órgãos reguladores nacionais e internacionais.

Empresa responsável pelo aeroporto de Guarulhos não respondeu até a publicação deste texto.

XI, BATEU: VEJA ALGUMAS DAS OCORRÊNCIAS DE SOLO EM 2024

  • 3/2, Guarulhos

Um carro da administração do aeroporto se chocou contra a ponta da asa de um avião vindo de Buenos Aires, que havia acabado de pousar

  • 12/2, Guarulhos

A esteira de bagagens bateu na entrada de um dos motores de um Airbus que havia chegado de Navegantes (SC). O avião estava parado no momento e teve de ser levado para manutenção

  • 1º/3, Brasília

Veículo de apoio bateu em uma aeronave que estava parada para manutenção. Novos reparos tiveram de ser feitos por causa do choque, além dos que já estavam sendo realizados

  • 20/9, Galeão (Rio)

A escada externa bateu contra a fuselagem de um Airbus que voaria para o Chile e o avião teve de passar por conserto

  • 4/11, Congonhas

Um capô de carro acertou a fuselagem de um avião parado, após ser arrancado pelo “sopro de jato” de uma outra aeronave

  • 4/11, Guarulhos

A fonte de energia (GPU) foi rebocada enquanto seu cabo de conexão ainda estava acoplado à aeronave. Houve pequena avaria no avião

  • 8/12, Congonhas

Uma ponte de embarque colidiu com um seguiria para o aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro. O Boeing teve de passar por manutenção

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