Fevereiro Roxo: conscientização sobre lúpus, alzheimer e fibromialgia

O mês de fevereiro é marcado pela campanha Fevereiro Roxo, que visa à conscientização para a importância do diagnóstico precoce e do tratamento de três doenças: lúpus, alzheimer e fibromialgia. A campanha, adotada nacionalmente, também chama a atenção para a possibilidade de manutenção da qualidade de vida das pessoas atingidas pelas doenças.

Para compreender o que são essas doenças, seus sinais e sintomas, além do tratamento adequado, a Agência Saiba Mais conversou com dois profissionais médicos, os quais atuam no Hospital Universitário Onofre Lopes (Huol/UFRN/Ebserh). O reumatologista Rodrigo Barbalho Chaves falou sobre o lúpus e a fibromialgia. Já a médica Ângela Costa, geriatra da unidade, explicou o Alzheimer.

“Apesar de serem condições distintas, Alzheimer, lúpus e fibromialgia têm em comum o fato de não terem cura e exigirem acompanhamento contínuo para o controle dos sintomas”, diz Ângela Costa.

A médica geriatra ainda destaca que na campanha Fevereiro Roxo estão presentes o combate ao estigma da doença de Alzheimer, com a divulgação de informações sérias, e o apoio às famílias afetadas.

Rodrigo Chaves pontua que, com o tratamento adequado para as doenças lúpus e fibromialgia, é possível que a pessoa afetada viva sem sintomas e sem sequelas. 

“A gente não usa essa palavra cura. A gente usa a palavra controle de doença. Se tiver um diagnóstico e um tratamento adequados, pode ter o controle da doença, o que significa dizer que o paciente vai ficar sem sintomas ou com mínimos sintomas, de modo que não atrapalhe a sua qualidade de vida”, diz ele.

Lúpus: doença autoimune atinge mais mulheres

Atingindo principalmente as mulheres em idade fértil, “o lúpus é uma doença autoimune, sistêmica e inflamatória”, explica Rodrigo Chaves. O diagnóstico é clínico, por meio de consulta médica. 

De acordo com Chaves, o paciente dialoga com o profissional de saúde, que colhe sua “história clínica” e solicita um exame físico e exames complementares, inclusive específicos para conferir os autoanticorpos, já que o lúpus é uma doença autoimune.

Segundo informações da Ebserh, essa doença pode afetar múltiplos órgãos e tecidos, de forma lenta e progressiva ou mais rapidamente, com sinais como perda de peso e cansaço, lesões na pele e queda de cabelo. Pode acometer ainda os órgãos internos, como rins, pulmão e cérebro. Sua origem é desconhecida, mas fatores genéticos, hormonais e ambientais contribuem para o desenvolvimento do lúpus.

O diagnóstico, assim como o tratamento, está disponível tanto na rede privada quanto no Sistema Único de Saúde (SUS). A especialidade de reumatologia também atende pelo SUS, e o tratamento tem como “objetivo controlar a atividade da doença autoimune e tentar evitar as sequelas”.

Isso porque, diz Chaves, caso não seja bem controlado, o lúpus pode evoluir com dano orgânico grave e com sequelas. “Dentre elas, [pode afetar] o rim, porque é uma das causas de insuficiência renal terminal, ou seja, [pode] deixar o paciente numa hemodiálise ou ir para um transplante renal caso não controle a doença”. 

Diante disso, ele reitera a importância do diagnóstico precoce da doença para prevenir suas sequelas e coibir o sofrimento psíquico da pessoa com lúpus. 

De acordo com dados da Sociedade Brasileira de Reumatologia, estima-se que entre 150 mil e 300 mil pessoas vivem com Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES) no Brasil.

Alzheimer: “doença de família”

“O Alzheimer é uma doença neurodegenerativa progressiva que afeta a memória, o pensamento e o comportamento. Ele ocorre devido ao acúmulo anormal de proteínas no cérebro, como a beta-amiloide e a tau, que formam placas e emaranhados, prejudicando a comunicação entre os neurônios”, introduz a médica Ângela Costa.

Ainda segundo ela, os neurônios vão morrendo com o passar do tempo, o que resulta na perda das funções cognitivas e motoras. Para a geriatra, a doença de Alzheimer é uma “doença da família”, que impacta profundamente a dinâmica familiar e exige cuidados constantes com a pessoa com Alzheimer.

Além disso, a doença causa uma adaptação da rotina e, por vezes, decisões difíceis sobre o futuro do paciente. “Além do desgaste físico e emocional, muitos familiares vivenciam sentimentos de tristeza, frustração e sobrecarga, especialmente os cuidadores principais. O suporte psicológico e a rede de apoio são essenciais para lidar com essa jornada”, diz Costa.

Inicialmente, a pessoa com Alzheimer pode ter esquecimentos frequentes, dificuldade para lembrar nomes e eventos recentes, desorientação no tempo e espaço, mudanças de humor e dificuldade para executar tarefas cotidianas. 

“Com a progressão da doença, o paciente pode ter dificuldade para se comunicar, realizar atividades básicas, apresentar alterações de comportamento e, em estágios avançados, perder a capacidade de reconhecer familiares e cuidar de si mesmo”, a geriatra completa.

Mais comum em pessoas idosas, pode haver casos raros de Alzheimer antes dos 65 anos – “esse tipo geralmente tem um componente genético mais forte e tende a progredir rapidamente”, diz Costa. A doença pode durar anos e até mais de uma década.

“A evolução da doença pode variar conforme a idade, a genética, os hábitos de vida e o acesso ao tratamento. Em geral, quanto mais jovem o paciente é diagnosticado, mais rápido pode ser o avanço da doença”, explica.

Ela diz que diagnosticar o quanto mais cedo a doença permite um melhor planejamento do tratamento, além de qualidade de vida ao paciente e à família. 

Já o tratamento envolve medicamentos para controlar os sintomas e terapias para estimular as funções cognitivas e manter a autonomia do paciente pelo maior tempo possível. Conforme Costa, “o SUS oferece algumas medicações para Alzheimer, bem como atendimento em unidades de saúde especializadas”.

Dados da Organização Mundial da Saúde, de 2019, estimavam que mais de 55 milhões de pessoas viviam com demência no mundo, das quais 60 a 70% eram recorrentes do Alzheimer.

Dores crônicas: fibromialgia também afeta mais mulheres

Síndrome dolorosa crônica, a fibromialgia também acomete mais mulheres. De acordo com o reumatologista ouvido pela reportagem, o principal sintoma de fibromialgia é a dor, que se espalha pelo corpo e tem caráter crônico – ou seja, dura muito tempo. 

“É um distúrbio doloroso crônico, que costuma vir associado com outras alterações que a gente chama de sintomas satélites. Dentre as principais alterações associadas, temos os distúrbios do humor. São pacientes que, por terem dor crônica, geralmente têm transtorno de ansiedade, muitas vezes depressão”, frisa

O meio de diagnóstico é parecido com o do lúpus, diz Chaves, pois é feito pela história clínica ou exame físico, mas não exige exames complementares, “embora a gente costume utilizar para afastar outras causas que podem eventualmente confundir, principalmente na primeira consulta”.

Mais uma vez, o profissional chama a atenção para a importância do diagnóstico precoce da doença. 

“Assim como no lúpus, [com o diagnóstico,] eu vou melhorar o resultado do tratamento e vou evitar o sofrimento psíquico, vou evitar uma peregrinação a múltiplos profissionais médicos, vou evitar a realização de exames complementares, muitas vezes desnecessários e arriscados, como exames de ressonância ou tomografia com contraste, e também vou dar uma oportunidade dessa paciente compreender melhor a sua doença e aí poder ter adesão ao tratamento”, afirma.

Segundo a Sociedade Brasileira de Reumatologia, a fibromialgia acomete 2,5% da população mundial. O tratamento é feito por meio de diferentes abordagens, com a associação de medicações, exercícios físicos regulares, mudanças no estilo de vida e terapia psicológica e emocional.

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