Entenda a história do soldado romano que foi enterrado com uma adaga nas costas

Durante as escavações de uma fortaleza de 4.900 anos em Almendralejo, no sudoeste da Espanha, arqueólogos descobriram um sepultamento de um possível soldado romano, que tinha entre 25 e 35 anos de idade. O que torna esta descoberta particularmente intrigante, no entanto, é que o corpo estava posicionado de bruços, com uma adaga romana (pugio) colocada em suas costas.

Segundo os especialistas, a arma, muito bem preservada, data do final do século 1 a.C., e ainda se encontra em sua bainha original. Baseada em adagas anteriores usadas na Hispânia pré-romana, ela fornece um marcador cronológico valioso para o enterro. Acredita-se que, apreciadas como troféus de guerra, elas foram copiadas e receberam um toque estilístico romano único.

“A colocação deliberada do pugio no enterro é uma forma de sinalizar a posição social do enterrado e sua pertença ao exército”, explica César Pérez, diretor de escavação do sítio arqueológico, ao jornal El País. “Este achado atípico sugere que o soldado pode ter recebido um enterro desonroso – uma ocorrência incomum que levanta questões sobre as circunstâncias que cercam sua morte”.

Como parte dos esforços de conservação, o pugio recuperado foi cuidadosamente preservado em um laboratório. Sob a supervisão do especialista em restauração Maicu Ortega, da Universidade Complutense de Madri, a adaga foi analisada e protegida para evitar deterioração futura.

Investigação do enterro

Embora o esqueleto em si estivesse em grande parte intacto, os especialistas se chocaram ao perceber que o homem havia sido enterrado sem os pés, que parecem ter sido cortados. Os arqueólogos ainda não têm certeza se isso foi feito após a morte ou como parte de um ato ritualístico em vida.

Inicialmente, houve debate sobre se o indivíduo era realmente um soldado ou um civil que havia entrado em posse da adaga. Mas, considerando a hipótese militar, eles sugerem uma origem romana, sendo parte da Legio VII Gemina, a única legião romana estacionada na Hispânia nos tempos do Império romano.

Como indica o site Ancient Origins, tal agrupamento foi formado em 74 d.C. e tinha sede em Legio (atual cidade de León), dentro do território dos asturianos. Ao contrário de outras legiões envolvidas em campanhas militares contínuas, a Legio VII Gemina foi designada principalmente para tarefas de escolta, segurança rodoviária e proteção regional.

Para obter mais informações, os pesquisadores estão trabalhando na extração de DNA de um dos dentes do soldado. Os resultados podem ajudar a determinar suas origens verdadeiras e, se ele puder ser vinculado a uma cultura específica, a forma como ele foi enterrado pode ser identificada como um ritual.

Fortaleza da Idade do Cobre

O local do enterro faz parte de uma descoberta ainda maior e notável na Espanha. A antiga fortaleza da Idade do Cobre, nomeada “Cortijo Lobato”, remonta a quase 3.000 a.C., o que a torna uma das primeiras estruturas de defesa no topo de uma colina conhecidas na região.

Situada a 314 metros acima do nível do mar, a fortaleza em forma de pentágono foi estrategicamente projetada com três muros de pedra concêntricos, 25 bastiões e três valas defensivas, cada uma medindo até 4 metros de largura e 2 metros de profundidade. O soldado romano foi encontrado enterrado ao lado da segunda das três valas.

Dentro da fortaleza, os arqueólogos descobriram uma variedade de artefatos, incluindo pontas de flechas, ídolos de pedra, machados, ferramentas de moagem, pratos, tigelas e componentes de tear. Esses achados oferecem vislumbres sobre a vida diária dos habitantes da Idade do Cobre.

Evidências de um reservatório de água e cabines apontam que a fortaleza estava preparada para proteger seus moradores durante cercos prolongados, deixando claro que essas pessoas tinham inimigos reais. Não à toa, o local acabou sendo atacado e destruído.

Arqueólogos encontraram também evidências generalizadas de fogo em áreas estruturais importantes. Uma das indicações mais convincentes de que o fogo foi intencional foi a descoberta de portas de madeira carbonizadas embutidas em paredes de tijolos de barro, longe de quaisquer riscos naturais de incêndio.

Por fim, a presença de inúmeras pontas de flechas no local reforça a teoria de um cerco violento que levou à queda do assentamento. Estima-se que Cortijo Lobato tenha sido abandonado por volta de 2450 a.C., de acordo com a datação por carbono-14 de restos de animais encontrados no local.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.