Senac RN debate inovação e os impactos da inteligência artificial

Após o sucesso do evento “Caminhos para o Futuro”, que marcou o início da programação em homenagem aos 75 anos do Sistema Fecomércio RN, o Teatro Riachuelo se encheu novamente na noite de quarta-feira (21) para o seminário “Inovar RN”, promovido pelo Senac RN, o principal agente de educação profissional vinculado ao sistema Fecomércio.

Com o instigante tema “O Futuro é Humano”, o seminário abordou questões desafiadoras no contexto da inteligência artificial. Se no evento de abril o foco foram as Parcerias Público-Privadas, o desta semana explorou três tópicos cruciais da contemporaneidade: Inovação, Tecnologia e o Futuro do Trabalho.

A discussão sobre o impacto da inteligência artificial nas relações de trabalho e na economia nos próximos anos coube a um seleto grupo de especialistas: o economista Ricardo Amorim, reconhecido entre as 100 pessoas mais influentes do Brasil pela revista Forbes; Diogo Cortiz, escritor e palestrante renomado nas áreas de tecnologia e ciência cognitiva; e Nina Silva, executiva com mais de 20 anos de experiência em tecnologia, especialista em Gestão de Negócios e Transformação Digital, além de cofundadora do Movimento Black Money.

Logo na abertura, o presidente da Fecomércio RN, Marcelo Queiroz, enfatizou o impacto das transformações tecnológicas e a necessidade de um foco humanizado.

Ele disse: “Vivemos um momento de transformação como nunca antes. A revolução digital e a inteligência artificial têm alterado profundamente o mercado de trabalho e as relações sociais. Por isso, o futuro é humano. Estamos aqui para tratar a inovação como uma força real que já molda a economia e o trabalho”, afirmou.

Ao longo de quatro horas para uma plateia atenta de 1.500 pessoas, foram abordados não só os efeitos regionais e globais da inteligência artificial na economia de países emergentes como o Brasil, mas também o futuro do trabalho. Esse tema é de grande relevância para o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial do Rio Grande do Norte, que coloca no mercado cerca de 30 mil novos profissionais por ano em nove áreas de atuação. “Essa mão de obra não apenas atende às demandas do mercado local, como também busca oportunidades em outros estados e países”, afirma Raniery Pimenta, diretor regional do Senac RN.

“Ainda temos um longo caminho a percorrer em relação à inteligência artificial. No entanto, com este evento, abre-se um debate imprescindível sobre um tema que se consolidou e que nos convida a refletir sobre o futuro”, complementa Raniery.

Estudos recentes mostram que organizações que adotam tecnologias de inteligência artificial podem elevar sua produtividade em até 40% em várias atividades. Em algumas indústrias, a automação assistida por inteligência artificial pode reduzir os custos operacionais em até 30%. Isso sem mencionar a economia de tempo em tarefas administrativas, permitindo que os funcionários se concentrem em atividades de maior valor agregado, sem perder tempo com tarefas repetitivas.

Para o economista Ricardo Amorim, no entanto, é preciso entender que a inteligência artificial não é um fenômeno novo; hoje, com os progressos da tecnologia da informação, ela se estabeleceu de forma irreversível. Ele explica que toda nova tecnologia, ao surgir, transforma pouco a realidade no início, em parte devido a expectativas inflacionadas que esperam uma mudança imediata. “Isso não acontece dessa forma”, alerta. “Mas, em prazos mais longos, tudo muda brutalmente”, acrescenta.

O melhor exemplo disso, segundo ele, é a Internet, que só passou a ser usada de forma generativa a partir dos anos 90, durante a bolha das empresas .com — a maioria das quais nem existe mais. “Mas aquelas que perseveraram, como Google e Amazon, por exemplo, mudaram a história. E hoje ninguém faz nada sem usar a internet”, completa.

Entretanto, até chegarmos a esse ponto, o caminho foi longo, já que o conceito de inteligência artificial remonta à década de 1930, e a primeira utilização prática dele só ocorreu em meados da década de 1960, quando suas ferramentas preditivas passaram a ser utilizadas de forma generativa.

“A diferença é que a preditiva trabalha apenas com dados estruturados, números, enquanto a generativa, além dos números, trabalha com textos e imagens, utilizando a mesma linguagem que usamos para nos comunicar”, explica Amorim.

Essa mudança foi fundamental para popularizar as ferramentas de inteligência artificial e, quando isso acontece, as tecnologias começam a ter um impacto muito maior. “Com o surgimento do telefone, essa tecnologia, muitas décadas depois, juntou-se ao computador, e o ‘casamento’ entre os dois gerou o smartphone. E assim caminham as coisas. Na minha opinião, mais do que qualquer uma dessas tecnologias, a inteligência artificial vai mudar o mundo, só perdendo para o impacto da energia elétrica no passado, que impulsionou todas essas transformações”, ele sustenta.

Já para Diogo Cortiz, se depender de algumas ações governamentais, a inteligência artificial pode mudar sua realidade no País já nos próximos anos. Ele cita um projeto, apresentado há cerca de três semanas, pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, dentro do Plano Brasileiro de Inteligência Artificial (PBIA), que abre investimentos da ordem de R$ 23 bilhões em IA nos próximos quatro anos em infraestrutura computacional e pesquisas, dos quais R$ 5 bilhões serão destinados à educação e ao letramento digital da população, e R$ 10 bilhões a serem investidos pela indústria nacional e empresas privadas, com foco exclusivo no estímulo à IA.

Coube a Nina Silva, uma das fundadoras do Movimento Black Money (MBM) encerrar o evento do Senac RN falando da inclusão da população negra por meio de políticas que promovam empreendedorismo.
“Nossa luta é promover uma educação disruptiva que rompa com essa situação promovendo educação de qualidade e baixo custo para ganho de escala”, resume ela.

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