“A tradução das falas de Lula sobre ‘regular’ redes sociais”

Jornalista Felipe Moura Brasil:

“Depois de perder 5 pontos de aprovação na pesquisa Genial/Quaest e de trocar o deputado federal Paulo Pimenta pelo publicitário Sidônio Palmeira no cargo de ministro da Propaganda do governo, Lula já começou seu tour de conversas com emissoras locais amigas, para tentar resgatar a popularidade nacional com novas e velhas narrativas, entre elas as de defesa de “regulação” das redes sociais.

A Bahia, estado governado pelo PT há 17 anos e com seis das dez cidades mais violentas do Brasil, foi a primeira parada virtual do presidente, na quinta-feira, 6 de fevereiro.

Para uma rádio baiana, Lula fez as seguintes declarações, que reproduzo e comento abaixo:

  1. ‘É que nós precisamos regular, sabe, esta chamada imprensa digital.

Não é possível, não é possível que… Numa imprensa escrita, numa televisão, sabe, normal, o cidadão falou uma bobagem, ele é punido. Tem lei para isso… E no digital não tem lei, os caras acham que pode fazer o que quiser, provocar, xingar, sabe, incentivar a morte, incentivar promiscuidade das pessoas e não tem nada para punir… Sabe?’

Na verdade, Lula quer ‘regular’ a ‘imprensa digital’porque não consegue controlar boa parte dela com os mecanismos historicamente utilizados para controlar o restante da imprensa.

Na parcela do mundo digital que desagrada Lula, não há escambo, não há compra de apoio político com verba de publicidade de governo, não há agência de publicidade amiga para faturar com a intermediação, não há ameaça de retirada de verba para convencer o dono do veículo a fazer cobertura positiva, não há chefe submisso a telefonema exploratório de autoridade, não há patrão para o qual Lula possa pedir a “cabeça” de quem traz verdades inconvenientes, como fez com uma analista ligada ao Santander em 2014 (‘Essa moça tua que falou não entende porra nenhuma de Brasil e nada de governo Dilma… pode mandar embora’, disse o petista na ocasião).

Numa imprensa escrita, numa televisão, sabe, ‘normal’, há tudo isso, claro, como sabe qualquer jornalista que não se curvou ao poder. O ‘cidadão’ é veladamente ‘punido’ não por falar uma ‘bobagem’, mas por expor aquilo que o regime de turno quer esconder da sociedade.

Curiosamente, a agência de Sidônio Palmeira, Leiaute, recebeu do governo da Bahia R$ 301 milhões em pagamentos nos últimos cinco anos, nas gestões do governador Jerônimo Rodrigues e do seu antecessor e atual ministro da Casa Civil do governo Lula, Rui Costa, ambos do PT.

Empresas como essas repassam parte do valor recebido a veículos de comunicação, como pagamento pela exibição da publicidade institucional do governo, produzida por elas.

O Ministério Público da Bahia já moveu uma ação civil na Justiça baiana contra a Leiaute, por suspeitas de fraudes na execução desses contratos. O processo só foi encerrado porque a agência de Sidônio fechou acordo para pagar uma multa de R$ 306 mil e implementar políticas de ética e compliance.

PS: É curioso, e não deixa de ser cômico, também, que o presidente responsável pelo governo do ‘Batcu’ da ‘Saúde’ e da dança erótica da ‘Educação’ acuse o ‘cidadão’ de ‘incentivar promiscuidade das pessoas’.

2.‘Não é possível que um cidadão ache que ele pode interferir na cultura da China, na cultura do Brasil, na cultura da Rússia, na cultura, sabe, da Venezuela, na cultura da Argentina, que ele pode entrar em qualquer lugar e falar o que ele quiser. Não pode!’

De fato, nenhum cidadão pode interferir na ‘cultura’ da China, da Rússia e da Venezuela, porque são três ditaduras amigas de Lula que, muito embora distintas, impedem a liberdade de expressão, de crítica e de imprensa, inclusive censurando as redes sociais.

Quem acha que pode falar o que quiser nesses lugares pode amanhecer preso ou desaparecido, como vem ocorrendo com críticos e opositores no regime de Nicolás Maduro; ou dar o ‘azar’ de cair da janela, ter um acidente aéreo, comer algo estragado, ou esquecer de colocar o casaco no Círculo Polar Ártico, como vem ocorrendo no regime de Vladimir Putin.

A Argentina se livrou de semelhante destino com a recente eleição de Javier Milei, mas que Lula coloque o Brasil no mesmo patamar de China, Rússia e Venezuela ao defender ‘regulação’ de ‘imprensa digital’ é sintoma de sua simpatia por regimes autoritários e de seu desejo de imitá-los em matéria de censura: ‘Não pode!’.

2.‘Então, eu vou dizer pra você uma coisa. O nosso Congresso Nacional tem responsabilidade e vai ter que colocar isso para regular. Se não for o caso, a Suprema Corte vai ter que regular, porque é preciso moralizar.’

Lula, o ‘moralista’ de Atibaia e do Guarujá, tem mais apoio na Suprema Corte que no Congresso Nacional e defende abertamente que o Poder amigo invada a competência do Poder não tão amigo, para impor à população a sua vontade. E se diz defensor da democracia, que pressupõe separação e independência entre os Poderes.

4.‘Todo mundo tem direito à liberdade de expressão, mas a liberdade de expressão não é as pessoas utilizarem esses meios de comunicação para canalhice! Para fazer provocação! Para mentir todo santo dia!’

Na verdade, as mentiras, provocações e canalhices existentes nas redes sociais, que vêm, em parte, do governo, de aliados e de emissoras amigas, já estão sendo minimizadas com ferramentas menos drásticas que a censura, como as notas de comunidade no X.

Para Lula, no entanto, ‘mentir’ é desagradar o governo, o que não só veículos de ‘imprensa digital’ como O Antagonista fazem, expondo e analisando os fatos como eles são, mas as notas de comunidade acabam fazendo também, ao embutir nas publicações originais as informações de contexto e correção, incluindo links auxiliares para as verdades omitidas.

As redes sociais, portanto, tornaram-se duplamente incômodas para Lula: elas dão voz e alcance a seus críticos e opositores, para que reajam em cadeia às ações e narrativas governistas, e ainda frustram sua propaganda.

5.‘Então, não é possível, porque isso bagunça a economia, isso bagunça o varejo, isso bagunça o mercado como um todo.”

Quem bagunça a economia é um governo incapaz de cortar gastos, como o de Lula, e que, em vez de fazer o dever de casa para corrigir os rumos, atribui a culpa pela alta do dólar a ‘fake news’ de contas irrelevantes de redes sociais, como se os agentes do mercado se guiassem por elas para definir expectativas.

Lula repete e amplia, portanto, essa estratégia adotada recentemente, usando a própria mentira para emplacar seu projeto de controle.

6.‘É preciso que haja seriedade. Então, Mario, eu sou daqueles que defendem a regulação.’

Repito pela enésima vez: A culpa é de Lula, ele coloca em quem quiser.”

 

 

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