A EXTRAORDINÁRIA HISTÓRIA DOS IRMÃOS REBOUÇAS

Prof.ª Lúcia Helena Freitas da Rocha

A estrada de ferro que liga Paranaguá à capital do Paraná, construída entre 1872 e 1885, é uma das obras que os irmãos Rebouças construíram como uma das estruturas mais importantes das regiões Sudeste e Sul do país. Com seus 110 quilômetros de extensão, é o meio utilizado para se escoar a produção tanto do próprio estado quanto da do Centro-Oeste brasileiro.

A estrada de ferro corta o terreno acidentado da Serra do Mar, passando por 14 túneis. A obra iniciou em 1872 e terminou em 1885, e até hoje é utilizada para escoar a produção não só do Paraná, mas também da região Centro-Oeste do Brasil.

Uma dupla de engenheiros, que viveu durante o século XIX, foi extremamente fundamental para o desenvolvimento do estado do Paraná, recém-criado na época. 

Cabe-nos indagar: qual a extraordinária história dos irmãos Rebouças, os primeiros engenheiros negros do Brasil?

Filhos de um advogado autodidata, que atuou como deputado e conselheiro do Imperador Dom Pedro II, os engenheiros nasceram no município de Cachoeira, na Bahia. André era o mais velho, tendo nascido em 1838.

Mas a diferença de idade era bem pequena, já que seu irmão Antônio nasceria já no ano seguinte. 

Mais tarde, no ano de 1854, iniciaram os estudos em engenharia pela Escola Militar do Rio de Janeiro. Depois, foram para a Europa, onde se tornaram grandes especialistas na construção de portos e ferrovias, área no qual atuariam após seu retorno ao Brasil, ocorrido em 1862.

No mesmo ano, o Império confiou-lhes a tarefa de supervisionar obras em fortificações de Santos, no litoral de São Paulo, Paranaguá, no Paraná e também em Santa Catarina.

Contudo, eles foram além, realizando importantes obras também no Rio de Janeiro. Mais do que excelentes profissionais, como negros, eles eram um símbolo de resistência.

Ainda que os irmãos Antônio e André Rebouças não tenham sido escravizados, a sua trajetória é marcada pela escravidão, uma vez que eram netos de uma escrava alforriada.

Além disso, também lutaram pela abolição, em especial André, que marcou presença em campanhas abolicionistas. Hoje, eles têm marcas registradas em nomes de locais como uma Avenida em São Paulo, um túnel no Rio de Janeiro, além de um bairro em Curitiba.

Outro ponto importante na história da dupla é a Estrada da Graciosa, que foi, até meados do século XX, a única totalmente pavimentada em solo brasileiro.

Servia como uma importante rota de tropeiros durante a segunda metade do século XIX e se estabelecia entre a capital e o litoral do ParanáAntônio foi o escolhido para chefiar a obra, que fora finalizada nove anos depois. Hoje, a estrada é uma das maiores atrações turísticas do estado. 

Antônio, porém, não viu seu principal projeto ser concluído: a ferrovia Paranaguá – Curitiba. Infelizmente, morreu jovem, aos 35 anos, após contrair febre tifoide.

Foi após sua morte que André, que ainda viveria até os 60 anos de idade, passou a atuar ativamente contra a escravidão. Anos depois, serviu na Guerra do Paraguai, um dos eventos mais marcantes do Império.

Quando ocorreu a Proclamação da República, o engenheiro, que era extremamente fiel a Dom Pedro, mudou-se para a Europa com a Corte. Foi em Funchal, na Ilha da Madeira, que ele passou seus últimos anos até o dia em que foi encontrado sem vida à beira do mar, no ano de 1898.

Desse modo melancólico, encerra-se a bela página da vida de dois jovens engenheiros baianos que merecem ser lembrados, ainda que tardiamente, por todos os brasileiros.

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