Luciano Calazans reúne em show Saulo Fernandes, Carla Visi, Marcela Bellas e Claudya Costta

Na música, a quinta justa é o intervalo entre duas notas que estão a sete semitons de distância, e um elemento essencial para a harmonia. Nas mãos do maestro e contrabaixista Luciano Calazans, a Quinta Justa é um projeto para democratizar a música, promovendo encontros gratuitos entre diferentes gêneros na primeira quinta-feira de cada mês, no Largo Pedro Archanjo.“A proposta é fincar essa bandeira, por assim dizer, da música não ter fronteiras. A música não pode e nem deve ter qualquer tipo de segregação. Então a Quinta Justa ganha uma conotação de justiça mesmo, de democracia genuína, onde a música instrumental serve como espinha dorsal, medula óssea, para o encontro entre outros segmentos da música. Traz todo mundo: axé, heavy metal, jazz, arrocha, trap, pagode, reggae…”, conta Calazans.Tem sido assim desde outubro do ano passado. E a festa deste mês, que acontece amanhã às 19h, será ainda mais especial, com uma homenagem a Luiz Caldas e aos 40 anos do disco Magia – que marcou o início da axé music –, e a participação de convidados de peso: Saulo Fernandes, Carla Visi, Marcela Bellas e Claudya Costta.Se este ano o Carnaval é só no fim de fevereiro, a Quinta Justa abre o mês com um pré-carnaval em grande estilo. “Eu posso dizer que já é um preâmbulo, pelo menos o meu preâmbulo particular, ao Carnaval. E nada melhor do que homenagear uma pessoa de extremo merecimento, que é Luiz Caldas, meu eterno mestre. Eu tenho muitos mestres, mas esse, sem dúvida, tem uma boa fatia em minha vida como servo da música”.No repertório, clássicos da carreira de Luiz Caldas encontram o groove de Luciano Calazans e as vozes dos convidados mais que especiais. Vai ter, por exemplo, Nouai na voz de Saulo, Ajayô por Marcela Bellas, É Tão Bom interpretada por Carla Visi e Haja Amor por Claudya Costta. Além das músicas do pai da axé music, os cantores também encantarão o público com músicas próprias em arranjos de Calazans.Para Claudya, participar da Quinta Justa promete ser uma experiência enriquecedora e emocionante. “A oportunidade de homenagear Luiz Caldas, figura icônica da axé music, é uma honra imensa, e estar ao lado do grande maestro Luciano Calazans, liderando, dirigindo este projeto torna este momento ainda mais especial, porque sei que com ele é só aprendizado. Por outro lado, vou compartilhar sonoridades com Saulo, Carla Visi, Marcela Bellas…. Isso não tem preço. Vamos criar uma memória que ficará marcada nos nossos corações. Que seja uma noite mágica, cheia de emoções e arte”, deseja.Calazans costuma dizer que é acompanhado no palco pelo “Bando do Maestro”, que faz as apresentações ficarem completas. Na edição de amanhã da Quinta Justa, não será diferente. Os talentos que darão vida às músicas junto com ele são André Becker (saxofone e flauta), Davi Brito (trompete e flugel), Hélio Góes (trombone), Bruno Michel (guitarra), Citnes Dias (percussão) e Reni Almeida (bateria).A abertura também será especial. Isso porque, nesta edição, o projeto terá início com um show de Clarice, cantora de 16 anos e enteada do maestro. O talento e a paixão pela música estão no DNA: filha de Taís Nader e Gabriel Póvoas, neta de Daniela Mercury e sobrinha neta de Vania Abreu, Clarice nasceu para a música, segundo Calazans.As expectativas da jovem cantora para a apresentação são as mais altas possíveis. “Espero fazer um show de abertura que introduza bem a lindeza que vai ser essa edição da Quinta Justa no Pelô com pessoas que admiro e me espelho tanto“, diz Clarice. Não será a primeira vez que a adolescente marcará presença no palco da Quinta Justa, mas será sua estreia no projeto com um show próprio, de abertura.“Eu sou chato pra caramba, e quando eu falo que ela tem talento, é porque tem mesmo. Clarice é uma pessoa diferenciada, é uma adolescente rara, com um repertório, um caldo musical e cultural muito precoce. Ela vai fazer uma abertura em que interpreta músicas da década de 1970, passando pela década de 80 até agora. Ela é muito técnica e ao mesmo tempo tem muito sentimento”, diz Calazans.A participação de Clarice destaca outro âmbito que Luciano Calazans tem como objetivo com a Quinta Justa: promover a união e uma conversa entre gerações. Isso já aconteceu também através de participações de novos artistas e da velha guarda em um mesmo dia, como Melly e Sarajane, Jeremias Gomes e Gerônimo.“É esse espírito de comunhão, que é uma palavra há muito esquecida, mas que eu uso em tudo na minha vida, tanto na seara musical como na seara social. É um projeto sociocultural, mas para ficar como legado também. Eu costumo dizer que a Quinta Justa é justa mesmo. É uma oportunidade para os artistas mostrarem seu trabalho para outros públicos”, diz.Luiz, mestre do mestreLuciano Calazans tinha 11 anos quando se apresentou em um palco pela primeira vez, tocando contrabaixo elétrico. A música, ele nunca vai esquecer: Visão do Cíclope, de Luiz Caldas, presente no álbum Magia. Quando, em outra ocasião, teve a oportunidade de tocar a música ao lado de Caldas, não precisou nem ensaiar. “A irmã e backing vocal dele, Andrea Caldas, falou: ‘menino, parece que vocês tocam isso há milênios’. E eu falei: ‘e tocamos mesmo’”, relembra.Calazans acompanha Luiz Caldas desde muito antes do álbum Magia. A decisão de homenagear o mestre veio a partir das celebrações iniciais dos 40 anos da axé music, cujo surgimento é atribuído ao sucesso estrondoso de Magia, que revolucionou a música baiana. O disco, lançado em 1985, mesclou de maneira inédita ritmos afro-brasileiros, pop, reggae e frevo.Para Calazans, parecia incompleto falar das quatro décadas de axé music sem citar o motivo de considerarmos que o movimento surgiu naquele ano, o marco inicial. “Para mim, o marco foi Magia. Esse foi o primeiro álbum a ventilar pelo território nacional, e até para o mundo, a música de rua da Bahia. E Luiz Caldas fez isso com maestria, até porque no álbum não tem só música de rua, inclusive. A música de rua que posso dizer que tem no álbum Magia é justamente a que estourou Luiz Caldas para o Brasil, que foi Fricote. Mas, o disco traduz muito o que Luiz Caldas é, ele veio do baile, e também trouxe essa vertente para o trio elétrico. Ele é uma pessoa que deve ser muito mencionada nessas comemorações”, defende.Quinta Justa no Pelô / Amanhã (6), 19h / Largo Pedro Archanjo, Pelourinho / Entrada gratuita*Sob supervisão do editor Chico Castro Jr.
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