O legado do caos

Em todo o Brasil, a cada troca de administração municipal, um velho roteiro se repete com prefeitos recém-empossados denunciam o estado calamitoso das prefeituras que assumem, com cofres esvaziados, dívidas impagáveis e serviços essenciais em frangalhos. O diagnóstico, invariavelmente, é o mesmo, isto é, desperdício, deficiência na gestão e, em muitos casos, fraudes escancaradas. O que deveria ser um espaço de administração eficiente se transforma em um campo minado, onde interesses políticos atropelam o compromisso com a população.

O sucateamento das prefeituras não acontece do dia para a noite. Ele é fruto de anos de má gestão, superfaturamento de contratos, licitações direcionadas e inchaço da máquina pública com indicações políticas desnecessárias. Muitas cidades viram seus orçamentos serem drenados por projetos faraônicos que nunca saíram do papel, enquanto as UPA’s seguem sem insumos, escolas sem estrutura e segurança do município batendo recordes alarmantes de criminalidade. O dinheiro, que deveria ser usado para melhorar a vida do cidadão, evapora na burocracia ineficiente ou no bolso de quem deveria protegê-lo.

Outro fator crítico é o descaso com o planejamento financeiro. Gastos acima do permitido, contratos assinados sem respaldo orçamentário e uso indevido de verbas carimbadas são práticas comuns que comprometem a capacidade de investimento da Prefeitura. Assim, quem assume encontra um município asfixiado, sem margem para novos projetos e obrigado a apagar incêndios deixados pela gestão anterior.

E quando há fraude, o prejuízo não é apenas financeiro, mas institucional. O desvio de dinheiro público destrói a confiança da população nos governantes e perpetua o ciclo vicioso da corrupção, onde a impunidade incentiva novos esquemas. É urgente que os órgãos de fiscalização, como Tribunais de Contas e Ministérios Públicos, intensifiquem a fiscalização e garantam que os responsáveis sejam punidos exemplarmente.

Para romper com essa lógica perversa, é fundamental que a população exija transparência e responsabilidade dos gestores. Prefeitos não podem tratar o dinheiro público como um recurso pessoal ou de um grupo político. Se não houver uma mudança estrutural na administração municipal, seguiremos reféns de prefeitos que assumem prometendo reconstrução e entregam apenas mais promessas vazias. Enquanto isso, o cidadão, que paga impostos e espera serviços básicos de qualidade, continua sendo a maior vítima desse jogo sujo.

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