Complicações das feridas operatórias IV

Podemos afirmar que as feridas operatórias podem sofrer complicações mesmo quando há a realização correta das técnicas cirúrgicas. Algumas medidas específicas podem ser realizadas para cada tipo de cirurgia, visando a redução de complicações.

As cicatrizes hipertróficas e os queloides são desordens fibroproliferativas que ocorrem na derme, como consequência de traumas ou infecções. Historicamente, eram frequentes em tribos indígenas com a finalidade de ascendência social, onde a mutilação era o fator predisponente para o desenvolvimento dessas alterações.

O fenômeno principal envolvido na patogênese das cicatrizes hipertróficas e dos queloides é a deposição excessiva do colágeno e de fibras elásticas na matriz extracelular, assim como a degradação da enzima colagenase, que tem como função a destruição do colágeno.

Essas desordens fibroproliferativas possuem fatores que influenciam seu aparecimento, como etnia negroide e mongoloide, os indivíduos dessas etnias apresentam um risco maior para desenvolvimento das cicatrizes hipertróficas e queloidianas. Algumas pesquisas indicam a prevalência em indivíduos negros em comparação com caucasianos em uma variação de 6:1 até 19:1.

Hereditariedade: é um fator verificado, porém sem padrões bem estabelecidos. O histórico familiar positivo para essas alterações é uma propensão maior para o seu desenvolvimento. Idade: os adolescentes e os adultos jovens são os mais acometidos, o que é explicado pela maior produção de colágeno presente nesta fase da vida, sendo mais raro em crianças e idosos.

Fatores locais: alguns fatores cirúrgicos locais podem contribuir para o surgimento das cicatrizes patológicas. Como técnica inadequada de síntese, tensão nas bordas das feridas, manipulação excessiva das margens da ferida, além da orientação das incisões sem seguir as linhas de força da pele, ocasionando uma maior tensão e tração das suturas. Além do mais, fatores como o surgimento de infecções no sítio de lesão no pós-operatório podem levar à cicatrização exagerada.

O seroma é um acúmulo líquido alojado no tecido subcutâneo sob o local de incisão, pelo extravasamento de plasma sanguíneo e linfa. Em seu quadro clínico temos edema localizado, com desconforto frente à pressão, podendo ter saída de material líquido de coloração amarelo-clara.

Sua frequência depende muito do tipo de cirurgia e da técnica utilizada. Um estudo mostrou que em abdominoplastias realizadas com bisturi frio tiveram menos coleções líquidas (4.89%) quando comparadas ao uso de eletrocautério (8.75%). Essa formação líquida ocorre com maior frequência quando se cria um grande descolamento de pele, como vistos após mastectomias, hérnias grandes ventrais e dissecções axilares.

Muitas vezes, quando o seroma é pequeno, podemos deixar com que o próprio organismo absorva o líquido. Caso o seroma seja maior, o tratamento básico a ser instituído consiste na retirada do líquido, por meio de um dreno ou pela utilização de seringas aspirativas.

Caso o líquido se acumule novamente após várias aspirações, podemos realizar a abertura da incisão, lavagem local utilizando gaze embebida com solução salina e a colocação de tela sintética, quando necessário. Caso o seroma esteja infectado, devemos realizar a drenagem aberta e antibioticoterapia.

Para prevenção dessa lesão devemos utilizar drenos e evitar o espaço morto abaixo ao retalho de pele (principalmente em áreas pós-linfadenectomias), tema que será no capítulo seguinte deste Manual.

Torna-se fundamental que o profissional tenha conhecimento dos tipos de complicações com maior probabilidade de ocorrência, e, quando possível, utilize ações para prevenir esses eventos.

É também de extrema importância a orientação do paciente acerca dos tipos de complicações possíveis na cirurgia, destacando os sinais de alerta para a procura do atendimento médico e assim possibilitando uma resposta terapêutica adequada ao caso.

* O autor é médico especialista em cirurgia geral e saúde digestiva.     

Observação: As opiniões contidas nesta coluna não refletem, necessariamente, a opinião do CORREIO DE CARAJÁS.

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