Sistema de esgoto de Natal está obsoleto e precisa ser refeito, alerta Aldo Tinoco

O ex-prefeito de Natal e engenheiro sanitarista Aldo Tinoco alertou que o sistema de esgotamento sanitário da capital potiguar está ultrapassado e precisa ser revisto com urgência. Em entrevista ao programa Bom Dia CBN nesta segunda-feira 3, Tinoco afirmou que o atual sistema foi implementado há 25 anos, durante a gestão do então ministro Fernando Bezerra, no governo de Fernando Henrique Cardoso, e já não atende à demanda populacional.

“Quando você faz um projeto de esgoto, ele tem um horizonte de 20 anos. Esse sistema já ultrapassou esse prazo e, hoje, está obsoleto. Existe uma carga de esgoto que já extravasa, porque o coletor já não suporta”, explicou Tinoco.

O engenheiro ressaltou que a infraestrutura do saneamento em Natal funciona por meio do sistema separador absoluto, ou seja, há redes distintas para esgoto sanitário e drenagem de águas pluviais. No entanto, segundo ele, há diversas ligações clandestinas que fazem com que água de chuva seja despejada na rede de esgoto, sobrecarregando o sistema e causando extravasamento.

“Os postos de sucção têm reservatórios para bombear o esgoto, mas quando chove, esses reservatórios recebem a água da chuva. Isso provoca extravasamento e faz com que esgoto não tratado chegue às praias e ao Rio Potengi”, afirmou.

Ponta Negra e Areia Preta são as áreas mais afetadas

Segundo ele, um dos problemas mais visíveis acontece em Ponta Negra, onde foi registrada uma série de extravasamentos de esgoto durante chuvas recentes, gerando preocupação entre moradores e comerciantes. Ele explicou que a ligação irregular de águas pluviais ao sistema de esgoto faz com que a infraestrutura da região seja sobrecarregada.

“Ponta Negra é um cartão-postal. Você não pode permitir extravasamento de água de chuva misturada com fezes chegando na praia. Isso é um caos”, disse.

Outro ponto crítico identificado é a região de Areia Preta, onde há recorrentes episódios de esgoto sendo despejado na rede pluvial. “A língua negra não ocorre em Ponta Negra, mas ocorre em Areia Preta. Isso acontece porque há falhas na captação de esgoto e no escoamento das águas de chuva”, explicou.

Prefeitura tem poder para exigir soluções da Caern

O ex-prefeito destacou que a responsabilidade pelo saneamento em Natal é compartilhada entre diferentes órgãos. A Companhia de Águas e Esgotos do Rio Grande do Norte (Caern) opera o sistema, mas a Prefeitura de Natal é a titular da concessão e pode exigir mudanças por meio da Agência Reguladora de Saneamento Básico de Natal (Arsban).

“A Prefeitura tem o poder de atuar, cobrar e exigir que a Caern resolva esse problema do esgoto. A Arsban deveria ter um papel mais ativo na fiscalização e regulação do serviço”, disse.

Ele defendeu a adoção de soluções urbanas para reter a água de chuva nos terrenos e evitar sobrecarga no sistema de drenagem e esgoto, citando modelos adotados em outros países. “Na França, chamam de Alternative Technique; na Austrália, Water Sensitive Urban Design; nos Estados Unidos, Low Impact Development. São soluções que evitam o despejo imediato da água na rua”, explicou.

Estações de tratamento ainda não funcionam plenamente

Outro problema apontado por Tinoco foi o atraso na finalização e operação das Estações de Tratamento de Esgoto (ETEs) da cidade, especialmente as unidades de Jaguaribe e Guarapes. Ele afirmou que a cidade possui uma rede coletora de esgoto seca há sete anos, sem ser utilizada, o que compromete sua funcionalidade.

“Essas redes foram instaladas no final da gestão de Robinson Faria, mas sem que houvesse estações de tratamento em pleno funcionamento. Hoje, sete anos depois, a rede ainda está seca e as estações não estão operando como deveriam”, disse.

Além disso, ele alertou que o tratamento atual não elimina nutrientes como nitrogênio e fósforo, que acabam sendo despejados no Rio Potengi, agravando o processo de poluição e eutrofização das águas. “O rio já está pedindo socorro. Jogar nutrientes em excesso causa a proliferação descontrolada de algas, que consomem o oxigênio e matam a vida aquática”, afirmou.

Para resolver esse problema, Tinoco defendeu o reuso da água tratada para a produção agrícola em um cinturão verde ao redor de Natal, reduzindo o despejo de resíduos no Potengi. “Poderíamos criar um cinturão verde para produzir alimentos para hospitais, escolas e creches. O que hoje é jogado no rio poderia ser usado na produção agrícola”, sugeriu.

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