Ponte estreita no Bairro Retiro é ponto crítico da BR-267 há 3 anos

Ponte estreita no Bairro Retiro é ponto crítico da BR-267 há 3 anos

Para sair de Juiz de Fora, no sentido de Bicas, os motoristas têm duas opções: passar pelo Bairro Santo Antônio ou pegar a BR-267 ainda dentro da cidade. O primeiro trajeto não é permitido para veículos grandes. Aqueles que fazem o segundo caminho, assim como os moradores de bairros como Retiro e Jardim Esperança, passam por algumas pontes sobre o Rio Paraibuna.

Uma dessas, chamada de Ponte sobre o Rio Paraibuna I, fica logo antes do número 1.000 da Avenida Dr. Francisco Álvares de Assis, no Bairro Retiro. Estreita, ela é um dos 338 pontos críticos identificados nas rodovias de Minas Gerais pela Confederação Nacional do Transporte (CNT).

Na chegada ao local, é possível perceber que as faixas contínuas que sinalizam a pista desaparecem logo antes da primeira de seis placas próximas, que indicam a velocidade máxima permitida de 50 quilômetros por hora. A pintura reaparece assim que a ponte termina. Caso não fosse assim, todos os veículos que passam por ali estariam invadindo a faixa contrária.

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Faixas contínuas desaparecem na ponte (Foto: Felipe Couri)

O mestre em Engenharia de Transportes pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), José Luiz Britto Bastos, classifica como sério o problema das 11 pontes estreitas espalhadas pelo estado, “e os próprios veículos é que vão ter que administrar isso”, avalia. “Uma perda de tempo enorme, um risco imenso à noite, por exemplo, de um choque frontal no local”, receia. 

Um ‘rio’ em cima da ponte

“Já filmei, já mandei para o engenheiro. O pessoal já me conhece”, relata Jorge Luis de Joana, de 58 anos. “Eu tinha um restaurante aqui, a água entrou e alagou”, explica, enquanto aterra novamente a entrada de sua casa, que beira o início da ponte.

De acordo com ele, há uma pequena manilha colocada para escoar a água da chuva no local, mas, quando equipes comparecem para roçar o mato, ela acaba entupindo, e a água “esparrama”. Ele afirma que já viu muitos acidentes ali, e descreve a dinâmica e até mesmo nomes de vítimas.

Mais à frente, a cerca de 200 metros, Adriano Hubner, diretor de uma empresa de produtos agropecuários, corrobora. “Quando chove em excesso, ali fica um riozinho mesmo. Não é o rio (Paraibuna) que transborda. É a água da chuva que não tem como escoar”. Automóveis pequenos não conseguem passar, quando isso acontece, e precisam esperar a água baixar. Além disso, ele relata o incômodo com a dinâmica do trânsito na ponte: um motorista precisa parar e esperar quem vem no sentido contrário passar primeiro.

Largura deveria ser dobrada

Ele acredita que, para passar pelo Bairro Santo Antônio, o trajeto seria acrescido em dez minutos. Isso, somado ao trânsito obrigatório de ônibus – urbanos e de viagem –, carretas e caminhões pesados, deixa o movimento no local “intenso”. “Pelo tamanho dessa cidade, era para se resolver um problema teoricamente simples”, reclama, e acrescenta uma última observação: “tem um buraco específico nela que, de dois em dois meses, eles tapam. É secar gelo, não resolve”.

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Buraco na ponte é apontado como um problema antigo que persiste, mesmo sendo reparado periodicamente (Foto: Felipe Couri)

“Se a rodovia for de pista simples, de mão dupla, você tem que fazer uma ponte que caiba dois veículos, no mínimo, e uma via para o pedestre passar nas laterais. Você não pode economizar nesse tipo de trabalho”, confirma o engenheiro José Luiz.

Em 2018, um estudo apresentado na 2ª Semana do Planejamento do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) mostrava que a largura da ponte é de 7,8 metros, incluindo as passagens para pedestres – compostas por chapas metálicas, que chegam a balançar quando há o tráfego de veículos mais pesados. A solução proposta foi de mais que dobrar a medida, passando para 16,2 metros.

Escola após a curva

No terreno em frente à empresa onde trabalha Adriano, funciona uma fábrica de confecções, construída em uma elevação. De lá, o expedidor Luís Paulo conta que já viu “quase” acidentes. “Já vi caminhão parar quase em cima do outro ali. Daqui tem visão de lá, então escuta frear, escuta tudo”, diz. “Tem que mudar, tem que alargar a ponte, porque passa caminhão e carreta direto aqui, e vem depois de uma curva, então é complicado.”

Ele relata a própria insegurança, pois já precisou passar pela ponte com o ônibus da empresa por muitas vezes, e percebe na prática a falta de visão do tráfego mais à frente do ponto crítico. “Todo mundo tem medo. Tem escola ali pra cima, tem criança.” Ele se refere à Escola Municipal Menelick De Carvalho, que fica a 350 metros da ponte, no sentido oposto. 

Luís Paulo é outro a citar a fila de carros que se forma quando chove, assim como Kátia, de 40 anos, vendedora em uma loja de roupas também no mesmo trecho. “Congestionamento é normal”, ela diz, “eles param para um vir e para o outro voltar. Fora isso, na chuva alaga muito, aí dá problema. Às vezes, caem no buraco, perdem placa.” 

Desde a casa do morador Jorge até a loja, a cerca de 160 metros, ocorrem alagamentos, pelo relato da vendedora. Ela também afirma que carros de passeio agarram no local. 

Problema antigo

Nas imagens captadas em junho de 2022, pelo Google Street View, há um painel do Governo Federal fixado após a ponte, onde se lê: “Estudo, Projetos e Reabilitação da Ponte sobre o Rio Paraibuna I”. O valor total da obra indicado para o consórcio é de R$ 3.398.378. A data de início é 14 de setembro de 2021 e, a de término, 8 de setembro de 2022.

Como relatou o morador Jorge Luis, sobre diversas visitas de engenheiros ao local, e mostrando o processo constante de “secar gelo”, nas palavras de Adriano, até a Câmara Municipal de Juiz de Fora enviou representações ao DNIT, em 2023.

O vereador João Wagner Antoniol (MDB) citava que “a ponte, ao que tudo indica está há tempos sem manutenção, pois está em péssimo estado de conservação, com imensas rachaduras, fissuras aparentes, sem corrimão, com muro de proteção quebrado em partes da ponte, além do asfalto precário, pois repleto de buracos”, enquanto o texto de Tiago Bonecão (PSD) dizia que “foram registrados pedaços de madeira amarrados segurando as rachaduras existentes, causando insegurança e medo nos moradores”. Ambos traziam preocupação com a escola próxima.

Em resposta, o DNIT enviou ofício informando que os estudos de campo já haviam sido realizados. “O Projeto Executivo está em análise pelo DNIT de Belo Horizonte. Após a sua aprovação, terá início a fase de execução das obras propriamente ditas”, dizia o texto, de fevereiro de 2023.

Dois anos depois, a Tribuna questionou ao DNIT qual é a situação atual do projeto. Desta vez, a resposta foi que “o DNIT está contratando nova licitação para a realização de serviços de reforço e alargamento da ponte sobre o Rio Paraibuna. A autarquia está monitorando a Obra de Arte Especial (OAE) até que o certame seja finalizado e a ponte seja revitalizada segundo o normativo vigente”.

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