Comunicação sem rumo

editorial

Em meados de dezembro de 2024, a Receita Federal editou decreto que aumentava a fiscalização em transações bancárias no Brasil, incluindo, a partir de certo valor, o monitoramento de transferências via Pix e de outras movimentações que antes passavam batidas pelo acompanhamento estatal. O intuito era aumentar a capacidade de identificar operações irregulares e combater a sonegação fiscal. Poucas semanas depois, no entanto, a medida foi revogada.

A revogação, claro, não foi sem motivo. O que se viu nos dias seguintes ao decreto foi um caos nas redes sociais sobre o que realmente significava a medida da Receita, muito pouco explicada pelo Governo federal até que a crise já estivesse instalada.

O Executivo chegou a tentar remediar a situação quando a repercussão já era muito ruim, mas logo desistiu de se manter no debate e simplesmente recuou de um decreto que era razoável. Aumentar a capacidade de fiscalizar operações irregulares e sonegação é desejável, afinal.

O caso deixa clara a falta de capacidade do Governo federal de se comunicar com a população. Se, em outros momentos da democracia moderna, a comunicação era o bode expiatório para problemas mais profundos em gestões políticas, na atualidade, deixar lacunas de explicação é criar oportunidade para que a desinformação circule nas redes. Em alguns casos, como foi na “falsa taxação do PIX”, os danos são irremediáveis.

Chama a atenção tudo ter acontecido em meio à troca de comando da Secretaria de Comunicação da Presidência (Secom). Sidônio Palmeira, publicitário responsável pela campanha do presidente Lula em 2022, substitui Paulo Pimenta em meio a uma das maiores derrotas da atual gestão federal e num revés que tudo tem a ver com como o Governo se comunica (ou não se comunica).

O desafio do novo ministro da Secom é grande. Num ambiente de forte divisão política da sociedade e em que a oposição se mostra mais hábil ao utilizar as redes sociais para abalar a imagem do Governo, Sidônio Palmeira terá não só que conter a sangria da crise do PIX como passa pela função estratégica da Secretaria de Comunicação da Presidência a chance de Lula, ou de um apoiado do presidente, chegar de maneira competitiva ao pleito de 2026. Se o que aconteceu nos primeiros dias de janeiro for um presságio do que está por vir, o que se avizinha é um cenário nada favorável à atual gestão.

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