Livro sobre iconografia baiana faz recorte de acervo com mais de 50 mil peças

iconografia baiana

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(Foto: Divulgação/Capivara)

O livro “Iconografia baiana na coleção de Flávia e Frank Abubakir” traz para o público parte dos mais de 50 mil itens do casal, em um acervo avaliado em cerca de R$120 milhões. As peças selecionadas fazem parte da coleção particular mais importante sobre o tema, e incluem obras de arte, mapas e livros raros produzidos entre os séculos XVII e XIX. As obras escolhidas pelos empresários, que há anos trabalham com o incentivo à arte, apresentam o período de formação do Brasil por meio dos olhares de viajantes, pintores, exploradores e visitantes. A obra está sendo vendida pela editora Capivara por R$195, e funciona como forma de dar acesso a toda a beleza e a história que as peças reunidas contêm.

A coleção dos dois já está sendo formada há mais de duas décadas, desde quando estavam noivos e procuravam o primeiro apartamento em que iriam morar. Ambas as famílias já tinham essa paixão, e por isso o conjunto todo inclui também peças herdadas. “É a continuidade de um espírito”, explica Frank. A ideia de focar em obras voltadas para a história da Bahia, no entanto, veio depois, como uma forma de direcionar a coleção e também de homenagear a mulher, que é nascida no estado. “Como estávamos buscando itens que são raros, você não sabe quantas peças vai conseguir encontrar ao longo da vida. Se eu fosse fazer uma média de quantos quadros a óleo apareceram para a gente adquirir nesses 25 anos, é um óleo a cada 3 anos. Não importa quanto dinheiro você tenha, é muito raro”, explica ele. 

Os dois optaram, então, por uma coleção “profunda e vertical”, que possui esse filtro para não se tornar uma simples acumulação. Com o acervo se formando, eles também resolveram que era hora de tornar esse acervo público, por meio do Instituto Flávia Abubakir, que traz todas essas obras artísticas de franceses, alemães e italianos. Para Frank, trata-se de uma questão de preservar a história – mais até do que qualquer vaidade envolvida nesse processo. “Nós somos famílias de empresários responsáveis, e se a sociedade nos der mais oportunidade de empresariar ainda mais, daremos mais retorno ainda para a sociedade, indo além das nossas obrigações.  (…) Fazer uma coleção simplesmente por uma posse de vaidade, seja de uma pessoa física ou de museu, me parece que perde o sentido”, afirma. O livro surge como mais uma forma de fazer essas peças chegarem longe, e foi organizado por Pedro Corrêa do Lago, que é editor de livros sobre arte e especialista no assunto. A obra também conta com textos de autoria de sete historiadores, professores e arquitetos, que contextualizam todo esse material. 

Já a opção de fazer um instituto que funciona de forma on-line, para ele, foi o que poderia propiciar que materiais tão únicos pudessem ser acessados facilmente e com imagens de altíssima qualidade. “A gente não quer fazer o projeto por um ano e parar. Todo dia colocamos itens novos, aperfeiçoamos as formas de acesso e os descritivos, para que as pessoas realmente possam utilizar essa coleção como instrumento de lidar com a vida, com a realidade, e de vislumbrar o diferente”, diz. O incentivo à arte já fazia parte da vida de Frank desde quando seu bisavô, Alberto Soares de Sampaio, que, junto com Chateaubriand, doou vários dos quadros do acervo inicial do Museu de Arte de São Paulo (MASP). Ele e a esposa, dessa vez, puderam também contribuir com o prédio novo, inaugurado em 2024. 

Tradição e ruptura

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Halfeld, um dos fundadores de Juiz de Fora, também é antepassado de Frank (Foto: Acervo Instituto Flávia Abubakir)

O ato de colecionar faz com que, nas peças, o passado esteja escrito junto com a história de quem passa a adquirir a obra e a construir um acervo. Por isso, também há aquelas que ficam mais marcantes, seja pelo processo de conquista ou pelo valor afetivo que têm. Um dos exemplos mais evidentes disso, para Frank, é o livro “Atlas e relatório concernente à exploração do rio de São Francisco desde a cachoeira da Pirapora até ao oceano Atlântico”, que é de produzido pelo engenheiro alemão Henrique Guilherme Fernando Halfeld, um dos fundadores de Juiz de Fora e seu antepassado. “Meu avô era rígido. Logo no começo da internet, achei este atlas, que é um livro raríssimo, que não se encontra. E a internet permitiu essa conexão, entre coisas que estavam perdidas pelo mundo. Comprei esse livro que é raríssimo, caríssimo, por nada. Lá no Canadá não faziam ideia do que eram. Quando ele viu, ficou em uma emoção total”, relembra.

Também é o caso de um mapa que encontrou na Holanda, e que negociou por cerca de 20 anos – no começo com o pai, e depois com o filho, de uma família com antiquário e livraria. O mapa parecia ser de 1629, mas quando ele adquiriu e repassou para ser cuidado e receber a pesquisa, viu que era o mapa mais antigo de uma urbes brasileira, datado de 1624. Quando colocaram o mapa próximo de um mapa atual, viram que ainda tinha uma precisão impressionante das ruas de Salvador. “As peças são aventuras e histórias (…) E é um processo sempre de ‘tradição e ruptura’, como no nome de um dos livros de arte mais importantes do Brasil”, diz.

‘A memória é o começo do humano’

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Mapa de 1624 mostra Salvador diante da invasão dos holandeses (Foto: Acervo Instituto Flávia Abubakir)

A importância de se ter um acervo como esse para ser acessado, para ele, fica evidente pelo efeito que pode causar por meio de um deslocamento do olhar automático, que as pessoas costumam ter todos os dias. “Boa parte das imagens que vemos no livro é possível ver também como são hoje. Na possibilidade de ver como era, como é e como pode ser, isso causa uma criatividade. É uma coisa com que todo mundo pode dialogar, e que provoca esse efeito de pensar de uma maneira diferente, abrindo novos caminhos”, conta Frank.

E, assim, ele pretende também fazer com que isso seja um material que se estruture nessa importância impossível de precificar que tem a memória. “A memória é o começo do humano. Sem memória, você não se lembra do passado. É essencial para construção civilizatória, é um aspecto da alma humana fundamental. Quando trazemos a memória de um país ou de uma cidade, você está fazendo com que as pessoas daquele lugar saibam porque são como são hoje, como era no passado. E isso nos ajuda a projetar um futuro melhor”, finaliza.

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