Uso precoce e prolongado de celulares contribui para ansiedade, depressão e dificuldade de socialização

A psicóloga Débora Sampaio comentou a lei que proíbe o uso de celulares em salas durante aulas, recreios e intervalos em todas as etapas da educação básica, sancionada pelo presidente Lula (PT) na segunda-feira 13. Ela apontou que o uso precoce e prolongado dos aparelhos contribui para ansiedade, depressão e até dificuldade de socialização entre crianças e adolescentes.

“A gente vê vários países buscando restringir e desintoxicar as crianças e adolescentes desse uso precoce, prolongado e abusivo dos dispositivos eletrônicos. Hoje o desafio na educação é justamente esse controle do uso das telas, que a pandemia potencializou, e a gente se perdeu. Essa medida na escola surge como uma tentativa de rever a infância e adolescência que nossos filhos estão tendo. Uma infância que antes era do brincar e passou a ser a infância do celular”, frisou a profissional, em entrevista ao RN no Ar, da TV Tropical, nesta quinta-feira 16.

Ela ressaltou que a geração atual já está dependente de celulares. “Para lidar com isso, a gente precisa reduzir danos. Como eles já ficam praticamente o dia inteiro diante das telas, a escola precisa ser sim esse espaço de desintoxicação, porque muito além da aprendizagem, que já está comprometida, é uma medida que vem pra tentar minimizar os danos à saúde, à saúde mental, à socialização, ansiedade, depressão e tantas outras questões”, pontuou.

A psicóloga defendeu a aprovação da legislação pelo governo federal. “O que a lei traz é que está proibido esse uso indiscriminado de celulares. Imagina o professor dando aula e os alunos em uma rede social, assistindo algo, ouvindo algo com fone. Então, a lei traz que essas tecnologias vão fazer parte da escola, mas com fins pedagógicos, mediados pelo professor”, disse.

A tecnologia poderá ser utilizada, mas com finalidade de trabalhar a consciência digital. “O objetivo é ensiná-los a ser cidadãos nesse mundo, que é um mundo que traz muitos benefícios, mas também muitos perigos. Precisamos trabalhar, sim, a cidadania digital, a educação midiática”.

Psicóloga Débora Sampaio falou sobre perigos das mídias digitais e celulares para jovens. Foto: Reprodução
Psicóloga Débora Sampaio falou sobre perigos das mídias digitais para jovens. Foto: Reprodução

Em relação ao tempo de tela, Débora Sampaio indicou que a Associação de Pediatria traz um direcionamento: de 0 a 2 anos de idade, o ideal é não ter tempo de tela; já de 2 a 5 anos, 1 hora por dia; de 5 a 8 anos, 2 horas por dia; e de 8 a 11, 3 horas por dia. “A gente vai ajustando, mas é importante a gente ter clareza também que a questão não é só o tempo de tela, mas o conteúdo, o que as nossas crianças, o que os nossos adolescentes estão consumindo”, afirmou.

Ela ressaltou ainda que é importante que as crianças e adolescentes sejam conscientes sobre o que devem ou não acessar nas redes sociais. “Às vezes você [mãe, pai ou responsável] pode até ter essa mediação, essa supervisão em casa, mas na hora que a criança vai na casa de um amiguinho, esse amiguinho pode assistir algo que não é legal, então é importante que o seu filho tenha consciência”.

Para a profissional, é importante que as famílias acompanhem de perto o uso das mídias digitais. “Não só limitar o tempo, porque as crianças driblam a gente, eles conhecem mais desses dispositivos do que nós. Precisamos estabelecer essas regras junto com eles e mais ainda também dar o exemplo, precisamos ter zonas livres de tecnologia em casa, momentos como as refeições, aquele momento olho no olho. É muito importante que as famílias entendam que essa lei vem para nos ajudar”.

Inteligência Artificial

A psicóloga falou ainda sobre a questão da Inteligência Artificial (IA) e alertou para perigos reais relacionados a chantagens de pessoas mal-intencionadas na internet.

“Ela facilitou muito, por exemplo, a vida dos pedófilos, dos predadores, que mudam a voz, mudam a imagem, que se aproximam de crianças e adolescentes, criam uma relação de confiança, por exemplo, nos jogos online. Nessa relação, eles vão se aproximando, conseguindo informações sobre essa criança, sobre esse adolescente, e depois começam a chantagear”, ressaltou.

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