Em 2025, arborização ainda é desafio em Belém

Desde o final do século 19, quando foram importadas do continente asiático pelo então intendente Antônio Lemos, as mangueiras fazem parte da história da cidade de Belém. Destinadas à arborização urbana da capital paraense, elas pareciam as árvores ideais para esse propósito: uma copa grande, boa sombra e frutos. Porém, com o tempo, os problemas começaram a aparecer e seguem até os dias atuais.“Eles só não consideraram o crescimento urbano e o sistema radicular, ou seja, a raiz da planta. Na arborização, a mangueira é uma planta muito boa, gera um bom sombreamento e gera um microclima muito bom. Mas o espaço em que foram colocadas não é adequado, a árvore sofre muito com a urbanização”, explica o professor Cândido Ferreira Neto, da Universidade Federal Rural da Amazônia (Ufra).CONTEÚDOS RELACIONADOS Parque da Cidade terá mais de 2,5 mil árvoresÁrvores são transplantadas para áreas de obras em BelémMetade das árvores apresentam algum danoNo bairro de Nazaré, existem 871 mangueiras mapeadas, sendo 50% delas com algum dano regular ou crítico. Os dados fazem parte do projeto de levantamento florístico feito pelo pesquisador, juntamente à professora Joze Melissa e alunos da Ufra. As informações são encaminhadas diretamente para Secretaria Municipal de Meio Ambiente (Semma), com orientações sobre quais as espécies adequadas para aquelas áreas sem plantio, a saúde das plantas, sugestões de retirada de vegetais com problemas e as que estão com riscos de queda.“As árvores que observamos tem corte das raízes, caule com pregos, anelamento, amarração por arame, muito lixo. Com a intenção de nivelar suas calçadas, as pessoas cortam ou sufocam as raízes ao colocar cimento, então a árvore não consegue respirar, e fica muito suscetível a queda delas diante da fragilidade da raiz. Quando ocorrem ventos mais fortes ou chuvas, essas árvores tendem a tombar”, detalha.Quer saber mais notícias do Pará? Acesse nosso canal no WhatsappA poda inadequada é outro problema identificado pelos pesquisadores, visto que são feitas sem conhecimento dos órgãos ambientais, desnivelando o vegetal. “Elas precisam de espaço para crescer e com isso acabam entrando em contato com o meio fio e com o sistema elétrico. Com isso, muitas pessoas e empresas particulares tendem a fazer a poda de forma inadequada, deixando a planta sem equilíbrio”, explica. Cândido Ferreira Neto explica que essas plantas precisam ter atenção desde a produção da muda até o plantio. Ela precisa ser plantada em local adequado para o crescimento ideal e ao longo do seu desenvolvimento fazer uma condução correta dela. “E quando estiverem maior, fazer a manutenção e poda adequada”, recomenda.A população pode ajudar no cuidadoSegundo o professor, a população pode ajudar cuidando e zelando pelas árvores que estão sendo colocadas pelos órgãos competentes, para que esse vegetal tenha o crescimento rápido e correto, sem danos. “As pessoas podem ajudar não colocando lixo nas raízes, não cortar essa raiz ou quebrar os galhos, não fazer poda aleatória, sem conhecimento, não causar danos nos caules, ferir, furar, é a melhor forma das pessoas zelar por essas árvores”, diz.Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Belém está entre as cinco cidades menos arborizadas do país. Mesmo que ainda seja conhecida por “cidade das mangueiras”, a capital paraense está longe de ser considerada uma cidade bem arborizada. Ressalta-se que Belém será sede da Conferência das Partes da Convenção das Nações Unidas sobre Mudanças de Clima (COP) em 2025, considerada a Cop da Floresta.“A situação da arborização de Belém é baixa, precisamos conscientizar o setor público, privado e a sociedade, para podermos ter tomadas de decisão, planejamento e o mais rápido possível traçarmos caminhos importantes para melhorar a arborização da nossa cidade. Um trabalho elaborado de forma correta, adequado e planejado, para que consigamos aumentar esse percentual, melhorando nosso conforto térmico, microclima, biodiversidade e melhores espaços de lazer”, argumenta. 4 bairros já foram mapeadosA equipe de pesquisa concluiu o mapeamento de 4 bairros de Belém: Reduto, Nazaré, Marco e Fátima. Atualmente esse mapeamento está ocorrendo no bairro de Batista Campos e em seguida será a vez do Guamá, Terra Firme, Jurunas e Umarizal. Até o momento, foram registradas 4.777 árvores em Belém. O bairro do Marco é considerado o mais arborizado pelos pesquisadores, com 3.234 árvores, sendo 18% delas correspondentes a mangueiras, 13% castanhola e ipê 11%. Um número que pode ter passado por modificações, em função de obras e novas vias. “Algumas árvores foram suprimidas ou foram adicionadas, como é o caso do bairro do Marco. Futuramente vamos voltar nesses locais para fazer uma recontagem”, afirma o professor da Ufra.O bairro de Fátima foi o que apresentou o menor índice de arborização, com somente 188 árvores. Número bem abaixo do que o sugerido pela Organização Mundial de Saúde (OMS). “Existem bairros com arborização boa e outros com uma deficiência muito grande. A OMS sugere que o recomendado seja de pelo menos uma árvore e 12 m² de área verde por cada habitante, mas o ideal são três árvores por habitante e 36m² de área verde por habitante. O bairro de Fátima tem em torno de 0,016 árvores por habitante, o que está muito abaixo do ideal”, explica o professor. O trabalho é feito a partir de um acordo de cooperação técnica com a Secretaria Municipal de Meio Ambiente (Semma) e deve ocorrer até 2028.
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