Algodão-doce

É isso mesmo! Desde que Mark Zuckerberg publicou um vídeo falando sobre os retrocessos quanto às políticas e mediação de conteúdo da Meta, além da checagem de fatos, não se fala de outra coisa nos jornais e na mídia séria desse país.

Entre as ações de marcha à ré divulgadas pelo CEO do grupo estão a de que “serão permitidas “acusações de anormalidade mental relacionadas a gênero ou orientação sexual””.

Segundo o diariodonordeste.verdesmares.com.br: “Conforme a empresa, serão permitidas “acusações de anormalidade mental relacionadas a gênero ou orientação sexual, especialmente quando discutidas no contexto de debates religiosos ou políticos […]”. 

Pessoas gays, bissexuais e trans, por exemplo, poderão ser associadas a transtornos mentais. 

“Nós permitimos alegações de doença mental ou anormalidade quando baseadas em gênero ou orientação sexual, dado o discurso político e religioso sobre transgenerismo e homossexualidade”, diz parte das novas orientações.”

Em não se contentando com isso, ainda foi feita a troca de temas relacionados à comunidade LGBTQIAPN+ no Messenger: “o tema intitulado ‘Orgulho’ tinha passado a se chamar ‘Arco-íris’, já temas como ‘Transgênero’ e ‘Não-binário’, que haviam sido trocados para ‘Algodão-doce’ e ‘Pôr do sol dourado’ (…)  não estão mais disponíveis na plataforma.”, como publicou O Globo. (…)”.

Sim! Não estamos falando apenas de ataques, de permissão para homofobia, lesbofobia, Transfobia, LGBTfobia, misoginia (Sim!, Mulheres cisgênero também podem estar sob ataque. “Todas loucas!”, cis ou Trans/Travestis, basta performarem feminilidades e mulheridades.).

Falamos também de uma carta-aberta para desinformação e especulações religiosas e de cunho político-ideológico sobre a comunidade LGBTQIAPN+, sobre os corpos femininos ou feminilizados. Estamos falando também sobre apagamentos, deslegitimações, desumanizações. “O outro, a outra não sou eu, não é igual a mim, então tem menos valor!”

Sim! Isso ocorre em janeiro, mês da visibilidade Trans/Travesti. Não basta nos atacar de forma desrespeitosa, ofensiva e infame; nem nos transformar em algodão-doce; é necessário nos apagarem.

O antigo Twitter, agora X, sob comando do bilionário Elon Musk, já havia se transformado em “espaço seguro para o ódio” como afirmou Imrad Ahmed, executivo-chefe do Center for Countering Digital Hate. Segundo ele, Musk “enviou o sinal de morcego para todo tipo de racista, misógino e homofóbico”, afirma num artigo da CNN.

Intitulada de “Discurso de ódio tem salto no Twitter após aquisição de Musk, mostra pesquisa – Uso diário de jargões racistas sob Musk é triplo da média de 2022 e calúnias contra gays e pessoas trans aumentaram 58% e 62%, respectivamente.”, essa mesma postagem ainda diz que “A Liga Anti-Difamação descreveu a deterioração do estado de coisas como uma “situação preocupante” que “provavelmente vai piorar, dados os cortes relatados na equipe de moderação de conteúdo do Twitter”.”

Se antes Meta e X eram concorrentes, hoje elas são aliadas e comungam do mesmo ódio, sobretudo contra as ditas “minorias”, alinhadas com discursos extremistas e com a propagação de fake News. “Desinformar é preciso!”

Porém, o que mais me choca nessa história toda é a escolha de transformar as maiores redes sociais do mundo em campo aberto para desinformar, potencializar ataques contra grupos já vulnerabilizados, cometer crimes (Sim! Homofobia e racismo é crime nesse país!). Tudo em nome do que eles chamam de “liberdade de expressão”.

Outra coisa que me faz cair o queixo é saber que a maior parte dos ataques (e aqui eu falo exclusivamente contra a comunidade Trans/ Travesti) é feita e continuará a ser feita por homens brancos, héteros, cisgêneros, pais de família, “cidadãos de bem”, cristãos, conservadores que nos bastidores se lambuzam com os corpos Trans/Travestis.

Sim! Quem mais nos ataca e continuará nos atacando são os mesmos que, nos bastidores, consomem desenfreadamente e sem nenhum pudor a pornografia Trans/Travesti, e que depois das conversas picantes via Meta (sobretudo WhatsApp e Instagram), voltam para casa com seus discursos moralistas, jocosos e preconceituosos, publicados nas mesmas redes sociais que usaram há pouco.

Sim! É na boca desses memos homens que disparam discursos de ódio (agora de forma liberada) contra nós, pessoas Trans/ Travestis, que nossos corpos viram algodão-doce.

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